quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

EUA: Vigaristas torram fundos de aposentados

Nos Estados Unidos, as autoridades do mercado financeiro e os promotores públicos estão lutando contra o que eles qualificam de uma escalada em nível nacional das fraudes em investimentos contra pessoas acima de 50 anos.
Em muitos casos, as vítimas aplicaram em investimentos arriscados para tentar compensar os prejuízos sofridos durante a crise financeira — tendência que, segundo os reguladores, está se acentuando.
Segundo as estimativas dos reguladores estaduais, o número de casos envolvendo investidores de 50 anos de idade ou mais deve bater o recorde este ano.
No ano passado, houve 1.241 denúncias criminais, ordens de cessação e outras ações regulatórias emitidas em nível estadual envolvendo investidores de 50 anos ou mais, segundo a Associação Norte Americana de Administradores de Investimentos, um grupo de reguladores estaduais. O número é mais que o dobro dos 506 casos de 2009.
O problema corre "desenfreado" em todo o país, diz Matt Kitzi, da comissão de valores mobiliários do Estado de Missouri e presidente do comitê de execução da associação.
A comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos, a SEC, que regula empresas de consultoria e investimentos com US$ 25 milhões ou mais em ativos sob gestão, não segmenta as fraudes alegadas segundo a idade da vítima. Mas as autoridades têm se preocupado com a vulnerabilidade dos investidores mais velhos, a ponto de a agência planejar para breve o lançamento de "orientações adicionais sobre possíveis golpes em investimentos, para que os americanos mais velhos possam estar atentos", disse a presidente da SEC, Mary Schapiro, em comunicado ao The Wall Street Journal.
Keith Grimes, de 56 anos, de Mulberry, Estado da Flórida, afundou US$ 500.000 — "cada centavo que ganhei na vida", diz ele — em um fundo dirigido a investidores mais velhos, que prometia retornos de 14% a 24%. Vendido como um fundo administrado por um gestor com histórico de sucesso em negociações com ações e outros investimentos, o esquema acabou se revelando uma fraude, com o dinheiro dos novos investidores sendo usado para pagar rendimentos aos demais e esconder a ausência de ganhos reais.
"Às vezes a pessoa pensa: 'Quem sabe isso é excesso de ganância?'", diz Grimes. "Mas a gente tenta conseguir o melhor retorno possível, quando economizou durante toda a vida profissional para poder se aposentar."
Depois de perder quase todas as suas economias, Grimes está morando em um trailer emprestado e administrando uma firma de fibra de vidro industrial.
O administrador do fundo, James D. Risher, de Sanibel, Flórida, foi condenado em 6 de dezembro a mais de 19 anos em prisão federal, após se declarar culpado, em setembro, no Tribunal Federal Distrital de Tampa, Flórida, das acusações de fraude postal e lavagem de dinheiro. Em 29 de agosto, a SEC entrou com uma ação civil relativa ao caso.
O advogado de Risher disse que este não estava disponível para comentar. Ele não respondeu à ação movida pela SEC.
Segundo a denúncia da SEC, Risher captou US$ 22 milhões de mais de 100 investidores, mas aplicou apenas US$ 2,5 milhões em contas de corretagem e perdeu cerca de US$ 890.000 nas suas negociações.
Mais de US$ 8 milhões foram para "honorários de gestão e desempenho", enquanto Risher gastou US$ 4,5 milhões em jóias, presentes, imóveis e despesas pessoais, segundo a queixa da SEC. Foram distribuídos aos investidores US$ 3,6 milhões, diz a queixa.
Há cerca de 77 milhões de "baby boomers", como é conhecida a geração do pós-guerra, ou 25% da população, e os mais velhos começam a fazer 65 este ano. Muitas de suas carteiras de investimentos para a aposentadoria foram devastadas pela crise financeira, destruindo bilhões de dólares em ativos.
Apesar de uma recuperação acentuada desde março de 2009, a Média Industrial Dow Jones caiu 15% desde o pico registrado em outubro de 2007, fazendo com que muitos "baby boomers" à beira da aposentadoria buscassem retornos mais elevados. Isso torna esses investidores especialmente vulneráveis a fraudes, segundo os procuradores e as autoridades reguladoras.
A capacidade de uma pessoa comum de tomar decisões financeiras efetivas atinge o auge aos 53,3 anos, e vai baixando depois disso, segundo estudo feito no ano passado pelo Centro de Pesquisas de Aposentadoria da universidade Boston College.
Investimentos exóticos e não registrados, tais como notas promissórias, colocações privadas e contratos de investimento, aparecem como os principais veículos de fraudes envolvendo investidores mais velhos. Das ações executadas em 2010 com investidores de 50 anos ou mais, os casos envolvendo títulos não registrados foram mais numerosos do que os relacionados a títulos de renda fixa e ações tradicionais, em proporção de cinco para um, segundo a associação de administradores de valores mobiliários.
Os investidores mais idosos muitas vezes compram esses papéis através de contas de aposentadoria individual com gestão própria — um fundo de aposentadoria com incentivo fiscal que os americanos conhecem pela sigla IRA. Esses fundos permitem à pessoa aplicar seu dinheiro em investimentos que vão além das tradicionais ações, títulos renda fixa e fundos mútuos, tais como imóveis, ouro e poços de petróleo.
A SEC alertou os investidores em setembro sobre fraudes generalizadas em promoções destinadas a portadores de IRAs.
Desde outubro, investidores entraram com ações nos Estados de Geórgia e Carolina do Norte, alegando que o empresário Ephren Taylor Jr. solicitou investimentos, principalmente de membros mais idosos de igrejas, feitos em notas promissórias em carteiras de IRAs.
Quando as notas deviam vencer, com juros, os investidores não foram reembolsados, segundo as queixas.
O gabinete da Secretaria de Estado da Geórgia está conduzindo uma investigação sobre Taylor, "envolvendo violações da Lei de Valores Mobiliários da Geórgia", diz Matt Carrothers, porta-voz da Secretaria de Estado da Geórgia.
Taylor não respondeu a e-mails pedindo comentários. Um homem que atendeu a um número de telefone já usado por Taylor não quis se identificar, mas disse que Taylor "não faz comentários".
O número de fraudes também aumentou muito, segundo reguladores e promotores, assim como a fraude imobiliária e os casos em que as aplicações são apresentadas em seminários tipo "almoço grátis" oferecidos pelos promotores dos investimentos.
O aumento ocorre em meio a amplos esforços para impedir os delitos. Desde 2007, pelo menos 19 Estados americanos endureceram suas leis, normalmente aumentando as penas para crimes financeiros ou violações das normas para valores mobiliários que prejudicam pessoas de 60 anos de idade ou mais.
O número de casos em nível estadual é vastamente inferior à verdadeira extensão da fraude, dizem os reguladores.
Cerca de 14.000 investigações foram realizadas por reguladores estaduais em 2009 e 2010, segundo a associação de valores mobiliários, muitas das quais podem levar anos para ser concluídas. 

Fonte: The Wall Street Journal (14/12/2011)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Este blog não se responsabiliza pelos comentários emitidos pelos leitores, mesmo anônimos, e DESTACAMOS que os IPs de origem dos possíveis comentários OFENSIVOS ficam disponíveis nos servidores do Google/ Blogger para eventuais demandas judiciais ou policiais".