quinta-feira, 22 de março de 2012

Eleição Conselheiros da Sistel: Qual é o verdadeiro papel do Conselheiro numa empresa?


Temporada de caça aos conselheiros


Está aberta a 'temporada de caça' aos conselheiros. Os profissionais que ajudam as empresas a decidir estratégias, a se relacionar com o mercado e a ganhar competitividade são demandados como nunca nos primeiros meses do ano. Isso porque o prazo legal para a maioria das companhias abertas aprovarem essas contratações é até 30 de abril. A disputa, porém, tem se tornado cada vez mais acirrada. Empresas de capital fechado, familiares e de médio porte em busca de profissionalização também estão montando seus 'boards', valorizando o passe dos conselheiros independentes.


Uma prova dessa demanda é o aumento do número de consultas de empresas ao banco de conselheiros do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). De janeiro a março, os acessos já representam metade do que foi registrado em todo o ano passado. Muitos desses profissionais, inclusive, firmaram seus compromissos para 2012 neste primeiro trimestre e, agora, precisam recusar novos convites.


Esse é o caso de Ana Novaes, que atualmente é conselheira de três empresas de capital aberto: a CCR, a CPFL e a Metalfrio. "Este ano já não considero participar de nenhum outro conselho. É preciso ter um limite, pois a atividade demanda tempo e estudo", ressalta Ana, que exerce a função há dez anos e também é sócia de uma consultoria empresarial.


O coordenador de certificação do IBGC, Marcos Jacobina, afirma que especialistas em risco e gestão estratégica, por exemplo, estão em falta no mercado. "A demanda não é exclusiva para conselhos de administração, mas também para comitês de auditoria, que sofrem com a falta de gente qualificada", afirma. A experiência, segundo ele, muitas vezes é obtida nos próprios conselhos, mas a maioria tem carreira executiva, atuou em consultoria ou é acionista de empresas.


A bagagem de quase 20 anos no mercado financeiro no Brasil e no exterior, por exemplo, foi essencial para que Paulo Vasconcellos se tornasse conselheiro. Como analista de investimentos e gestor de recursos, ele conta que começou a se envolver com o tema da governança corporativa antes mesmo de o mercado dar tanta atenção ao assunto. "Há mais de dez anos, participei do conselho fiscal de um dos fundos que geria. A partir daí, decidi começar uma segunda carreira exercendo esse cargo", afirma.


Depois de participar de mais de 15 conselhos de diferentes portes e perfis, ele atua hoje em 4 organizações de capital fechado. Em uma delas, a Malwee, do setor têxtil, Vasconcellos tomou posse em janeiro deste ano. "Existe um grande nicho de atuação nas companhias de porte médio, que cada vez mais buscam auxílio de profissionais qualificados em seus conselhos."


As companhias médias, que faturam entre R$ 200 milhões e R$ 600 milhões por ano, estão entre as que mais têm demandado esses profissionais. "Muitas querem mudar de patamar, abrindo capital ou buscando parcerias com fundos de private equity. Outras se preparam para mudar o modelo de governança antes de dar um passo maior", afirma Luiz Marcatti, sócio-diretor da Mesa Corporate, empresa que recruta conselheiros. Desde 2008, a demanda por essas posições na consultoria vem crescendo entre 15% e 20% ao ano.


Marcatti afirma que até mesmo companhias que faturam entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões já começam a se interessar por montar um conselho - e muitas estão fora do eixo Rio-São Paulo. É o caso da Zen S.A., metalúrgica de 1000 funcionários sediada em Brusque, no interior de Santa Catarina. Desde 2001, a companhia já tinha um conselho de administração formado por quatro membros internos e três independentes, mas começou a reformular essa estrutura no ano passado. "Preenchemos uma cadeira vaga e trocamos um integrante", diz a sócia Janete Zen.


A mudança faz parte da profissionalização da companhia familiar, que finalizou também o processo de sucessão e, desde o segundo semestre de 2011, já não tem mais os fundadores no comando. Janete explica que o 'board' está mais diversificado. "O objetivo é ter conselheiros com experiências e visões de mercado distintas", afirma.


A diversidade de formação, segundo Jacobina, do IBGC, é uma tendência que vem ganhando força nos últimos anos. "Um conselho eficiente precisa ter especialistas em diferentes assuntos ligados à companhia. Na convivência com seus pares, eles acabam se aprofundando em outros temas e isso acaba sendo benéfico ao negócio como um todo."


Na opinião de Ana Novaes, as empresas em processo de mudança ou que estão em setores muito dinâmicos já se convenceram da necessidade de optar por perfis diversificados. "Se as necessidades da organização mudarem, é preciso que o conselho consiga acompanhar", diz.


A flexibilização dos perfis demandados se estendeu não somente para quesitos como formação e experiência, mas também para a idade. Segundo Marcatti, da Mesa Corporate, a presença de pessoas na faixa dos 40 anos está aumentando nos 'boards' e elas já começam a ocupar cadeiras de executivos mais seniores. "Os negócios estão evoluindo muito rápido. Ter alguém com visão de futuro, conectado com o mundo da tecnologia e das mídias sociais, por exemplo, é muito bem visto", afirma. Essa mudança, no entanto, ainda é percebida mais fortemente no setor de serviços e no varejo.


O crescimento na demanda por conselheiros, segundo os especialistas, resultou também um aumento na remuneração. "Os conselhos consultivos pagam hoje entre R$ 8 mil e R$ 12 mil por reunião. Já para as empresas S/A, em que o conselheiro tem cargo estatutário, esse valor varia de R$ 12 mil a R$ 20 mil", afirma Marcatti.


Outro movimento recente é a busca por certificação na área. Jacobina, do IBGC, explica que o programa de acreditação lançado pela instituição em 2009 vem ganhando cada vez mais adeptos. "Em 2011, o número de certificações cresceu 74%".


Hoje, o IBGC tem 686 profissionais certificados, a maior parte com currículos disponíveis no banco da entidade. Um deles é Sérgio Sayeg, que desde 2009 tem duas certificações - a de conselheiro de administração e a de conselheiro fiscal. Embora já ocupe uma cadeira no conselho fiscal de uma companhia aberta, ele está em contato permanente com investidores e controladores de outras empresas. "Eles são os eleitores", brinca. A campanha do candidato a um conselho, segundo ele, é de longo prazo. "É preciso estudar a fundo a organização e o setor, além de manter a comunicação com todos os grupos que têm poder de decisão no processo", diz.


Fonte: Valor (22/03/2012)

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