sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Fundos de Pensão: Panorama no Brasil comparado ao do exterior. Há muito espaço para aumento do risco no Brasil.

Queda nos juros e a atividade produtiva

O investidor institucional terá de ir à economia real. É ótimo. Aqui, os fundos de pensão alocam 60% em renda fixa. Nos EUA, 62% vão à renda variável

Em termos reais (ou seja, descontando-se a inflação), a taxa de juros básica (Selic) caiu de pouco mais de 6% ao ano em 2010 para cerca de 3% em 2012. Tal redução, num quadro de inflação sob controle, traz uma série de benefícios para a economia brasileira. Além da desvalorização cambial, positiva para as contas externas e para a atividade produtiva, e do menor custo de financiamento da dívida pública, chamo a atenção para os efeitos produzidos nos investidores e financiadores da atividade produtiva. À medida que cai o retorno assegurado pelas aplicações em papeis que rendem juros, aumenta a atratividade -e a necessidade- de se alocar recursos na economia real. Isso impacta, destacadamente, os bancos, cuja oferta de crédito deverá crescer -ampliando o mercado de dívida no Brasil, ainda pequeno- e os investidores institucionais (fundos de pensão), cujo papel como sócios e financiadores do investimento é de extrema importância. Os investidores institucionais deverão passar a ter maior participação no investimento produtivo, a exemplo do que ocorre em muitos outros países. Para tal, eles têm o desafio de redirecionar sua carteira, hoje predominantemente voltada à renda fixa (principalmente títulos da dívida pública), para a economia real, mantendo a solvência e a sustentabilidade de seus planos de aposentadoria. Os fundos fechados de pensão têm hoje ativos de cerca de R$ 600 bilhões, perto de 15% do PIB. Seus investimentos estão alocados da seguinte forma: 60,5% em renda fixa; 30,5% em renda variável (participação direta ou indireta em empreendimentos e empresas); e menos de 10% em outros. Para assegurar o cumprimento de suas obrigações (passivos), os fundos buscam um patamar mínimo de remuneração. Em geral, ele é de IPCA mais 6% ao ano. Até 2009 (exceto na crise de 2008), os fundos obtiveram retornos, no agregado, de quase o dobro desse patamar. Mas desde então têm tido muito mais dificuldade -que, diante dos juros baixos, só aumentará se a carteira seguir mais orientada à renda fixa. A comparação com outros países mostra aspectos importantes. Quanto à relação entre ativos dos fundos e PIB, estudo da OCDE, de 2009, mostra percentuais, em dez economias consideradas maduras (Dinamarca, Irlanda, Canadá, Chile, EUA, Reino Unido, Finlândia, Austrália, Islândia e Holanda), que vão de 45% na Dinamarca a 130% na Holanda, com média de 67%. Já a alocação de ativos em renda variável (equities), relativa a 2005, é de 43% do total de ativos dos fundos na Holanda, 53% na Austrália, 44% no Japão, 37% na Suécia, 67% no Reino Unido e 62% nos EUA. Chile, Finlândia e Canadá (anos distintos) estão por volta de 40%. Além de juros e questões regulatórias, alguns estudos comprovam ainda que a alocação tem relação com a idade média da população: quanto mais velha, maior a participação da renda fixa, de retorno mais rápido. Nos países citados, mais de 20% têm 65 anos ou mais. No Brasil somente 7,4% (dados de 2010). Isso significa que os fundos brasileiros dispõem de bastante espaço para o redirecionamento de seus ativos. Não é necessário que eles se dediquem à busca de liquidez acima da sustentabilidade e da rentabilidade de longo prazo. Todo o cenário, portanto, indica maior participação dos investidores institucionais como funding dos investimentos produtivos, com repercussões positivas no mercado de capitais e no crescimento econômico.   Fonte:  Folha de S.Paulo (17/08/2012)

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