segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Fundos de Pensão: Serpros, Infraprev e Refer possuíam investimentos em fundos do BVA, agora sob intervenção


BVA reteve dinheiro de cotistas de fundos



O banco BVA não repassou parte dos pagamentos devidos a cotistas de seus fundos de recebíveis, que tinham como lastro carteiras de crédito do banco, algumas semanas antes da intervenção pelo Banco Central na instituição, em 19 de outubro.
A instituição financeira, que acumula um passivo a descoberto de R$ 550 milhões, tinha quatro fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), que somavam patrimônio líquido de R$ 862 milhões e contavam com 134 cotistas em setembro. Os empréstimos foram originados pelo banco e, posteriormente, vendidos aos fundos, em uma prática bastante comum entre os bancos médios para captar recursos.
O BVA era responsável pela cobrança desses créditos cedidos a empresas de pequeno e médio portes pelo banco por meio da emissão de Cédulas de Crédito Bancário (CCBs). Os pagamentos dessas CCBs passavam por uma conta do banco antes de serem repassados para os FIDCs.
O BVA confirmou ao Valor por e-mail que parte do dinheiro devido aos fundos, que entrou como pagamento feito pelas empresas, foi usada para fazer frente ao aumento repentino de saques verificados nos últimos 20 dias. Segundo o BVA, o banco pretendia repor os recursos, mas a instituição acabou sob intervenção do BC.
O problema foi comunicado aos cotistas dos fundos Multisetorial BVA Master III e Multisetorial Itália durante assembleia realizada na sexta-feira e explica, em parte, o aumento da inadimplência verificado nos quatros FIDCs, que saltou em setembro para até 12,11%, ante um patamar que variava entre 0,1% e 1,8% no fim de 2011.
Diante do fato, a BRL Trust Investimentos, gestora de três carteiras do BVA e responsável pela administração do FIDC Itália (além de ser sócia do banco até 1º de outubro), enviou notificações às empresas emitentes dos créditos em inadimplência questionando o pagamento e pedindo para que ele fosse realizado em conta corrente dos fundos.
No caso do FIDC Multisetorial BVA Master III, das 21 empresas com créditos vencidos e não pagos, 4 enviaram comprovantes de pagamento realizados ao BVA, cujos recursos não foram repassados para os fundos. Segundo o Valor apurou, em pelo menos em um desses casos houve o pré-pagamento de toda a dívida, no valor de R$ 18 milhões.
O FIDC III tinha um patrimônio de R$ 227,796 milhões e apresentava um índice de inadimplência de 13,3% do portfólio em 15 de outubro, de acordo com levantamento da agência de classificação de risco Standard & Poor's, responsável pelo rating do portfólio. Se confirmado o pagamento antecipado de R$ 18 milhões, o índice de inadimplência deve subir para cerca 20% da carteira, ainda dentro do limite de cobertura das cotas subordinadas detidas pelo BVA, que são as primeiras a absorver as perdas em caso de inadimplência e que representavam 35% do portfólio.
Já no FIDC Itália, lançado em fevereiro deste ano, os créditos inadimplentes respondiam por 3,4% do patrimônio, que somava R$ 412,254 milhões. Das 14 empresas com créditos em atraso, pelo menos cinco apresentaram comprovantes de pagamentos ao BVA.
Ainda não se sabe o valor devido aos fundos que foi apropriado pelo BVA e qual o percentual de créditos de fato em inadimplência por falta de pagamento. O risco para essas carteiras é que tenha ocorrido outros casos de pré-pagamento das dívidas pelas empresas.
A agência de classificação de risco Austin Rating rebaixou a nota de crédito dos fundos BVA Master II e III e Multisetorial Itália em 11 de outubro, em função do aumento da inadimplência nas carteiras, que continuam em observação negativa.
A S&P também colocou em observação negativa a nota dos quatro portfólios e aguarda a conclusão sobre a situação das carteiras.
Os cotistas do FIDC III, administrado pelo Citibank, decidiram pela não liquidação do fundo, bem como pela não substituição do agente de cobrança, que continua com o BVA, agora sob responsabilidade do interventor do BC.
Os investidores do FIDC Itália terão uma nova assembleia para deliberar sobre a liquidação antecipada da carteira. A assembleia dos demais fundos deve ocorrer durante a semana.
A maioria dos 134 cotistas dos FIDCs era composta por fundações e regimes próprios de Estados e municípios. Só os fundos de pensão tinham R$ 194,670 milhões investidos nesses FIDCs, por 32 entidades de previdência, entre elas Serpros, Infraprev e Refer.
Fonte: Valor (29/10/2012)

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