quarta-feira, 10 de outubro de 2012

TIC: Assombradas pela crise, teles buscam rentabilidade e sentem saudades do tempo em que o UIT ditava os padrões


A crise financeira mundial tem sido um fantasma por trás da estratégia de empresas multinacionais sediadas, principalmente, em países da Europa e nos Estados Unidos. Para não ficar no limbo, a saída indica a busca por maior rentabilidade, diversificação das fontes de receita em países menos atingidos, como o Brasil, renegociação das dívidas e ampliação do portfólio de produtos e serviços. Mas o cenário assombra também empresas de telecomunicações que atuam no Brasil, não propriamente pelo impacto da crise econômica, mas devido a questões tributárias e regulatórias que criam obstáculos para o rápido desenvolvimento dos projetos e levam as companhias a reivindicar uma rediscussão do modelo do setor.
Sediada na Europa e com um longo histórico no Brasil, a Portugal Telecom tratou rapidamente de se resguardar. Ex-sócia da Vivo e atualmente no bloco societário da Oi, a companhia portuguesa já tem mais de 50% de seus negócios fora de seu país de origem, disse ao Valor o presidente da Portugal Telecom, Zeinal Bava. Além disso, a empresa refinanciou € 1,2 bilhão em dívidas até junho de 2017. Do total, € 400 milhões são dívidas com bancos de varejo e € 800 milhões com o Sindicato de Bancos Internacionais, disse Bava.
Rentabilidade não é um problema só do Brasil. O setor de telecomunicação tem capital intensivo e exige muitos investimentos. Para ter acesso a esse capital, a empresa tem de apresentar rentabilidade competitiva, disse Bava. Para essa finalidade, o executivo disse considerar que a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016, são oportunidades únicas para alcançar o ponto ideal que a tecnologia pode permitir.
"Tem que encontrar o equilíbrio entre o que o cidadão quer [mais velocidade e capacidade de transmissão dentro e fora de casa] e do que o consumidor precisa [a melhor qualidade possível com o menor preço]", disse Bava.
A necessidade de recuperar o equilíbrio também é a bandeira do presidente da Oi, Francisco Valim. Para ele, as exigências de investimentos em novas tecnologias, como a expansão da rede de terceira geração de telefonia celular e a implantação da 4G estão fazendo com o que o retorno seja inferior aos custos com capital. "O modelo corre o risco de se exaurir", disse.
O coro sugerindo a reavaliação do modelo é reforçado pelo presidente mundial da Alcatel-Lucent, Ben Verwaayen. Segundo ele, a mudança da tecnologia é tão veloz que o mercado não está saudável; a amortização dos investimentos das empresas precisa ocorrer em curto prazo.
Verwaayen comparou a situação do mercado atual com a de alguns anos atrás, quando a União Internacional das Telecomunicações, órgão normativo das Nações Unidas, estabelecia os padrões mundiais e as companhias e os seguiam. "Hoje, quem toma a dianteira é a tecnologia. O que era lucrativo não é mais", disse.
Um dos representantes dos sócios controladores da Oi, Otávio Azevedo aderiu ao bloco dos descontentes. Para ele, o problema não se restringe ao arcabouço regulatório, que também não é exclusivo do Brasil. Em sua opinião, o modelo deixou de evoluir, "envelheceu". O momento, disse Azevedo, é de ampliar a discussão, buscando novas estratégias.
O discurso dos executivos deixou claro que as mensagens transmitidas foram bem ensaiadas. Bater o 'martelo' sobre os elevados impostos, por exemplo, é tema que não tem faltado em declarações nos últimos anos, com maior ou menor ênfase.
Segundo estudo apresentado por Valim, da Oi, as empresas de telecomunicações investem, em média, 15% da receita em cobertura e qualidade da rede, por ano, enquanto a arrecadação de impostos foi de R$ 70 bilhões, no período de 2008 a 2012.
O presidente da Claro, Carlos Zenteno, parece destoar um pouco dos concorrentes. "Os investimentos têm que ser feitos mesmo e isso não afeta a saúde financeira da empresa", disse o executivo ao Valor. A Claro tem um plano de investimento de R$ 6,3 bilhões até 2014, dos quais, R$ 2,8 bilhões devem ser aplicados neste ano. Os recursos virão do caixa próprio e de investimento da América Móvil. "Usaremos o que for mais conveniente", disse Zenteno, sem especificar quanto o grupo controlador do bilionário Carlos Slim Helú pretende aportar na operadora. A América Móvil controla também a Embratel e a Net Serviços. Os investimento para os diversos negócios do grupo no Brasil somam R$ 10 bilhões, entre 2011 e 2012. Do total, R$ 7 bilhões serão destinados às três companhias, que receberam R$ 3 bilhões no ano passado, segundo Zenteno.
Fonte: Valor (10/10/2012)

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