segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Idosos: Indigna leniência com os idosos


É ininterrupta a curva ascendente da expectativa de vida no Brasil. Desde o início dos anos 60, a longevidade do brasileiro aumentou em 25,4 anos, passando de 48 para os 73,5 anos captados pelo Censo de 2010. Somente nas últimas três décadas, o crescimento foi de 10 anos e 11 meses. Embora a esperança de vida ainda seja inferior à de vizinhos sul-americanos (Uruguai e Argentina), a melhora das médias etárias de sobrevida vem se manifestando nas estatísticas, de forma inexorável, ao longo de meio século.
Tal escala crescente não se deve a fenômenos fortuitos da natureza, ou à Providência. Ao contrário, razões bem concretas explicam a tendência. Caso das melhorias nos indicadores sociais do país, como avanços da escolaridade (ainda que aquém das necessidades), do sistema de saúde (idem), das redes de saneamento básico e avanços na medicina em geral. Outro fator importante para a esperança de vida do brasileiro ter se estendido foi a radical redução das taxas de mortalidade infantil.
Tais avanços têm sido, a cada tempo, sinalizados por levantamentos estatísticos, que estabeleceram inequívocas relações diretas entre benefícios sociais, longevidade e, claro, aumento da população de idosos, com todas as demandas (previdenciárias, de saúde, assistenciais) daí decorrentes. Ou seja, a realidade de hoje sempre foi perfeitamente previsível.
Não se justifica, portanto, que o aumento da expectativa de vida não tenha sido acompanhado pelo poder público no mesmo ritmo de crescimento, na forma de programas capazes de fazer frente a suas decorrências. No Estado do Rio, por exemplo, por desapreço dos governos que se sucederam no Palácio Guanabara aos alertas estatísticos há uma crítica falta de asilos públicos para abrigar idosos, como mostrou reportagem do GLOBO.
O Rio é a unidade da federação que tem a segunda população mais envelhecida do país. Isso só agrava a responsabilidade daqueles que deveriam acompanhar a curva de longevidade com programas efetivos para a população idosa. Como consequência, avolumam-se dramas pessoais (idosos que, desassistidos pela família, não têm para onde ir) e registram-se colapsos de serviços, como a sobrecarga das unidades de saúde (estima-se que pacientes nessas condições correspondam a 30% dos atendimentos nas emergências).
O despreparo do poder público fluminense não é fenômeno local. Com graus variáveis de gravidade, ele se reproduz em outros estados. A leniência na implantação de políticas públicas preventivas é marca crônica de um Estado com paquidérmica lentidão para enfrentar problemas estruturais, mesmo previsíveis. Neste caso, a omissão se dá ao sacrifício da dignidade de uma parcela da população que, em vez de dificuldades evitáveis, deveria ser contemplada com demonstrações de respeito.
Fonte: O Globo (05/11/2012)

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