quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Comportamento: O Feliz Novo Mundo dos investimentos

O cenário de juros altos ficou definitivamente para trás e uma olhada na tabela das aplicações financeiras em 2012 oferece uma fotografia precisa disso. De modo geral, a rentabilidade real, ou seja, descontada a inflação, de investimentos tradicionais - seja na renda fixa ou variável - deixou muito a desejar ao longo do ano. Mas uma olhada mais cuidadosa no quadro deixa entrever algumas boas apostas feitas no ano passado.
O destaque foi o índice que reúne as empresas de baixo valor de mercado (as 'small caps'), com valorização de 28,7% no ano, ante alta de apenas 7,4% do Ibovespa. O principal indicador da bolsa sofreu com o mau desempenho de setores como o elétrico, bancos e commodities não agrícolas. Embalado pelo cenário externo de aversão ao risco, o ouro não desapontou, em alta de 15,26%, seguido pelo euro (ganho de 11,05%) e pelo IBrX-50. O índice que reúne as cinquenta ações mais negociadas subiu 9,87%.
Gestores e analistas de mercado avaliam que o ano-novo também guarda oportunidades, porém ainda mais distantes do óbvio. Em 2012, o Ibovespa encerrou o terceiro ano seguido sem brilho, embora algumas ações voltadas para a economia interna tenham subido mais de 100%. Na renda fixa, os investimentos ligados às tendências macroeconômicas, como a alta do dólar e da inflação e o fechamento (queda) da curva de juros, beneficiaram - e muito - as aplicações. Como exemplo, a NTN-B Principal (papel indexado à inflação) com vencimento em 2015 rendeu 19,8%. E os ganhos com títulos com prazo de 2024 superaram os 35%.
Para 2013, a avaliação de boa parte dos gestores é que isso não se repetirá. "Em 2012 foi possível ganhar bastante dinheiro com variação cambial e mudança nos juros, mas em 2013 isso já não será tão fácil", diz o sócio da Set Investimentos Erik Yuki. Nesse contexto, a bolsa de valores surge como alternativa. E a novidade por aqui é que muitos gestores enxergam oportunidades além das festejadas ações ligadas ao setor de consumo, os grandes destaques do ano passado.
Para o sócio-gestor da FRAM Capital Roberto Serra, o pessimismo com relação ao Brasil foi exacerbado, o que causou uma forte saída de investidores estrangeiros da bolsa. "Mas se o país conseguir crescer entre 3,5% e 4%, há espaço para a bolsa andar". Walter Mendes, sócio e gestor da Cultinvest Asset Management, diz que os investidores institucionais e estrangeiros voltaram a confiar no mercado acionário brasileiro levados pela diminuição da importância dada aos problemas da economia global.
Em dezembro, a Associação Nacional de Economia de Negócios (Nabe, na sigla em inglês, principal entidade de economistas dos EUA) divulgou que a economia americana deverá crescer 2,1% em 2013, após expansão de 2,2% em 2012. No velho continente, a atuação do Banco Central Europeu (BCE) tem agradado investidores e o risco de saída de países da zona do euro parece estar mais distante. "Houve uma melhora na confiança. Basta ver as taxas de juros cobradas por investidores nos títulos de dívida europeus", afirma Mendes.
O cenário político e econômico chinês também está menos nublado, o que beneficia empresas ligadas a commodities, como a Vale, explica o gestor. "O mercado não sabia até onde iria a desaceleração chinesa, mas agora sabe-se que a expansão do PIB do país deverá estacionar em cerca de 7%, 8% ao ano", diz Mendes.
A Set Investimentos é outra casa que não tem preconceito com o Ibovespa. Os gestores gostam de bancos cujas ações compõem o índice e da Vale. "Quem tem Vale na carteira não deve vender agora", diz o sócio Mauricio Gallego. "O preço do minério de ferro subiu, graças à China. Além disso, trata-se do produtor mundial com os menores custos. Será a última das mineradoras que deixará de ganhar dinheiro diante de uma turbulência econômica."
Já no setor financeiro, ele ressalta que há papéis de boas instituições que estão baratos, como o Bradesco e o Itaú, que sofreram com a redução dos juros forçada pelo governo e com a inadimplência. Mas esses bancos estão buscando o lucro perdido por meio do corte de custos, do aumento de tarifas e do investimento em diversas linhas de negócios. "O Itaú também foi muito beneficiado pelo fechamento de capital da Redecard ", lembra Yuki. A gestora também está posicionada em bancos menores, como o ABC, que possui um acionista capitalizado e é bem administrado, podendo navegar mais tranquilamente em meio a águas turbulentas, nas palavras dos sócios.
Já entre os setores que subiram muito em 2012, não existe exatamente um consenso sobre quais são os segmentos ainda atrativos. Para Paulo Petrassi, gestor da Leme Investimentos, consumo e educação devem continuar liderando os ganhos da bolsa. Já para a equipe da Set, as empresas de consumo ou estão caras ou enfrentam sérios problemas que são comparáveis a uma novela, diz o sócio Sergio Fontana dos Reis, em referência ao imbróglio envolvendo o Pão de Açúcar.
Quanto a empresas de outros setores ligados à economia doméstica, como educação e saúde, a percepção dos sócios da Set é de que também estão caras. Mas não descartam uma futura compra desses papéis. "São empresas bem administradas. O caso da Odontoprev talvez seja único no mundo. A Abril Educação também é uma boa companhia", afirma Reis. "A questão é que há segmentos ligados à economia interna que estão sendo negociados como se crescessem 30% ao ano, quando não crescem tudo isso."
Eles ressaltam que não dá para analisar setores, reunindo em um mesmo grupo o joio e o trigo. Por exemplo, a Set está com posições grandes em companhias do problemático setor de construção e incorporação, como Eztec, Helbor, JHSF e Direcional. "Essas empresas não tiveram problemas de execução como as demais", diz Reis.
Fonte: Valor (02/01/2013)

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