segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Fundos de Pensão: Fundos não têm pressa para deixar renda fixa

A necessidade dos fundos de pensão diversificarem investimentos para cumprir a meta atuarial, por conta da queda dos juros, causa certo alvoroço ente os gestores independentes. Muitos deles iniciaram 2013 na expectativa de que os recursos das fundações, hoje concentrados em renda fixa, notadamente em títulos públicos, mudem para um perfil mais arriscado, ou seja, a renda variável.
Dados da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) mostram que, para o período de 2013 a 2015, vencerão R$ 33,168 bilhões em NTNs-B (Notas do Tesouro Nacional indexadas pelo IPCA) que estão nas carteiras dos fundos de pensão. Esse tipo de papel predomina no portfólio da maior parte das fundações, pois na época de juros altos garantiam, sem esforços, o cumprimento das metas.
Boa parte do mercado estima que pelo menos um terço desse total vence neste ano. Apesar dos números vultuosos, do ponto de vista da indústria de gestoras independentes, isso representa menos que 10% da renda fixa total nas mãos dos fundos de pensão.
Enquanto os profissionais de gestão crescem os olhos para esses recursos, na expectativa que migrem para seus produtos, a indústria de fundos de pensão adota um tom mais conservador. Em sua maioria, por conta da preocupação em preservar seu patrimônio, dizem que ainda é possível esperar um pouco para se certificar da tendência dos juros, antes de tomar uma decisão nova de investimento. E essa política não necessariamente significará abandonar os títulos públicos.
Um gestor de fundo de pensão que não quis ser identificado arrisca dizer que haverá uma realocação parcial, "de uns 20% somente", apesar de as NTNs estarem "rendendo pouco". Esse papéis já chegaram a garantir IPCA mais 8%, mas agora estão na casa dos 4%. "Os 80% restantes devem ser rolados em novas NTNs porque os planos de benefício definido precisam casar os fluxos de investimento e de desembolso do passivo. O fato de render pouco não é a condição mais relevante, mas, sim, o casamento de prazos", diz. Ele comenta que não são apenas as NTNs que estão agitando o mercado.
"Os fundos de pensão têm hoje muito caixa, de cerca de 10% do patrimônio total, em operações do tipo over (renovadas diariamente). Eles têm uma liquidez muito grande que não está sendo direcionada para nenhum ativo de risco ou produto diferente. Isso deixa o mercado ansioso."
Com um patrimônio de R$ 16,2 bilhões, o Valia, fundo de pensão dos empregados da Vale, mantém ainda 65% da sua carteira de investimentos em renda fixa, sendo 90% aplicados em títulos públicos alongados indexados ao IPCA. E não tem planos de desinvestir em papéis do governo para diversificar o portfólio.
"Por ora não temos perspectiva de realocar parte da nossa carteira de título públicos. Os títulos indexados à inflação reduzem o risco do nosso portfólio de investimento. A maioria vence após 2020 a uma taxa atrativa de IPCA mais 4% e faz parte da nossa gestão de risco", disse Maurício Wanderley, diretor de investimento e finanças do Valia.
A estratégia do Valia foi alongar o prazo de vencimento desses títulos ao máximo para não ter o risco de reinvestimento nos próximos anos, a taxas mais baixas. "Eles funcionam como um hedge do nosso passivo", disse Wanderley. Este ano, a fundação não tem nenhuma NTN-B vencendo. "Já fizemos rolagens de vários títulos. Entre 2013 e 2020 tem muito pouca coisa vencendo".
Jorge Simino, diretor de investimentos da Fundação Cesp, diz que essa é uma discussão que não pode ser generalizada. "Pode ser que alguns dos fundos que concentram esses papéis tomem uma decisão de migrar, mas é difícil dizer se todos farão isso ", diz. Para ele, quem avalia que as fundações deveriam se afastar dos títulos públicos se esquece que esses fundos têm "duration" (prazo médio) longos.
"São 20, 25 anos de duração. E hoje no Brasil não existe, por exemplo, um papel de crédito privado com essa duração. Não se pode esquecer que existe a necessidade de papéis de prazos longos", afirma Simino. Ele ressalta que a gestão de ativos nas fundações tem de ser feita olhando para o passivo, ou seja, os donos do dinheiro que têm um propósito e um perfil de risco próprios. "Esse investidor tem uma preocupação com prazo e preservação de capital. Não pode ser comparado ao perfil de quem investe em um multimercado, que pode se arriscar até a perder o patrimônio", diz Simino.
Ricardo José de Almeida, professor do Insper, avalia que os fundos de pensão não estão errados em ser cautelosos.
"A bolsa seria a alternativa para obter ganhos maiores. Mas as principais empresas hoje estão com desempenhos fracos por conta de questões de governança difíceis de prever. As NTNs conferem a eles, pelo menos, a correção do dinheiro pela inflação. Um investimento mais rentável está difícil de achar hoje", diz.
Oswaldo Vasconcelos, sócio da Venko Investimentos, empresa criada para assessorar as decisões de investimento de fundos de pensão, afirma que o mercado tem especulado com um vencimento de NTNs no meio do ano de uma série que somaria R$ 8 bilhões e que, de saída, estaria concentrada nas fundações.
"Mas não é possível saber o quanto elas mudaram de mãos. O que leva o mercado a crer que estão com os fundos é o fato de esse papel ter pouca liquidez", afirma Adolfo Junior, também sócio da Venko.
Para Vasconcelos, neste momento, produtos de crédito estruturado seriam um caminho mais fácil para os fundos conseguirem melhorar a rentabilidade com um risco adequado a seu perfil. Ele lembra que as fundações não gostam de risco e são avessas a mudanças bruscas.
"Esse processo de migração para outros produtos vai começar devagar. Com o tempo, a realocação de recursos ficará mais forte, quando for mais claro para eles que o risco da carteira vai ter de aumentar", afirma.
Mario Serpa, principal executivo da Planner Redwood, que está estruturando produtos para atender às fundações, acredita que essa indústria precisa acordar o quanto antes.
"Hoje o risco de investimento já é absolutamente presente para os fundos de pensão. Não dá mais para reaplicar os recursos automaticamente em títulos públicos. Ficará muito difícil bater as metas sem exposição em renda variável", avalia.
Paulo Kon, consultor de investimento da Luz Engenharia Financeira, que também assessora investimentos de fundações, diz que a preocupação em cumprir metas é real. Mas acredita que não é possível esquecer que essa indústria tem sempre uma exposição mais confortável ao risco. "Eles ainda podem analisar outras oportunidades, sem se apressar. Ainda existem NTNs de prazos longos sendo emitidas e podem ser boas opções, até por conta da duration dos fundos", afirma Kon.

Fonte: Valor (28/01/2013)

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