quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

TIC: Acionistas da Oi dispensam presidente por telefone


Francisco Valim, que deixou ontem a presidência da Oi, foi demitido por telefone do comando da companhia. Eram 9 horas da manhã quando Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, ligou para dar a notícia. Valim acabava de desembarcar no Brasil após passar férias no exterior com a família, conforme noticiou o Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor.
A companhia anunciou ao mercado, ontem, a substituição de Valim por José Mauro Mettrau Carneiro da Cunha, que se afastará da presidência do conselho de administração da Oi para assumir o cargo. Mettrau é um nome ligado aos acionistas da operadora desde a época da privatização. A indicação é temporária, até que os sócios definam o que fazer com o cargo.
Na segunda-feira, fontes próximas aos controladores tentaram minimizar informação publicada pela revista "Veja" de que a relação com Valim estaria "insustentável".
Segundo o Valor apurou, a demissão de Valim não era algo planejado pelos controladores da operadora neste momento - nem pelos sócios brasileiros, Andrade Gutierrez e Jereissati, nem pela Portugal Telecom. O jeito assertivo de Valim incomodava, mas os números que vinham sendo apresentados pela operadora eram bons. "A companhia está, hoje, bem melhor que há 18 meses [quando Valim entrou]", reconheceu um interlocutor próximo de um dos acionistas. "Do ponto de vista operacional e financeiro, estava indo tudo de acordo com o que se esperava", disse.
O que tornou a situação de fato insustentável foi a discussão do orçamento de 2013. No plano quadrienal da companhia, estavam previstos investimentos de R$ 6 bilhões neste ano. Na primeira apresentação sobre o tema, no início de dezembro, Valim pediu R$ 7,5 bilhões. Os sócios negaram, alegando que a proposta aumentaria o endividamento da Oi. Além disso, poderia exigir que os acionistas colocassem mais dinheiro na companhia ou abrissem mão de dividendos.
Segundo um interlocutor presente às discussões, Valim não aceitou negociar um meio termo e insistiu nos R$ 7,5 bilhões. Para o executivo, também era necessário mexer na estrutura de capital da Oi para que a operadora ganhasse mais capacidade de fazer investimentos. Segundo ele, fazer isso só com o desempenho operacional não seria possível. O executivo teria proposto, também, vender a participação que a Oi tem no capital da Portugal Telecom.
O clima ficou tão tenso que as discussões do orçamento de 2013 prosseguiram enquanto Valim estava de férias. Nesse período, os sócios voltaram à proposta original, de R$ 6 bilhões. O orçamento só deverá ficar pronto no início de fevereiro.
Em meio a esse embate, executivos da Oi afirmam que a saída do executivo não era inesperada. Mas não se previa que acontecesse já.
Ontem, circulavam informações de que será contratada uma empresa de recursos humanos para buscar um novo presidente. Mas não está descartada uma solução "caseira". O presidente da Portugal Telecom, Zeinal Bava, é apontado como forte candidato a assumir o comando da operadora brasileira.
Nos últimos meses, Bava tornou-se presença mais forte na Oi, mesmo sem ter um cargo executivo. Ele é presidente do comitê de tecnologia da operadora, órgão ligado ao conselho de administração que discute as diretrizes tecnológicas da empresa. Segundo fonte próxima ao comando da Oi, o executivo português está "cada vez mais dedicado" à companhia. Outro interlocutor afirma que ele gostaria de assumir o cargo.
Também circulou no mercado, ontem, o nome de Roberto Lima, ex-presidente da Vivo. Fonte próxima ao executivo afirma, porém, que não há negociações com a Oi. Um interlocutor próximo à Oi também nega que o executivo esteja cotado.
Uma pessoa familiarizada com os planos dos acionistas da Oi disse que a escolha de um substituto para Valim ainda não começou. De acordo com esse interlocutor, a estrutura atual da Oi permite que o processo de transição seja feito com calma, já que o comando das operações está a cargo de James Meaney e a presidência-executiva ficará temporariamente com Mettrau.
Esse desenho foi traçado meses antes de Luiz Eduardo Falco deixar a presidência da Oi, em 2011. Na época, a companhia mudou sua estrutura de comando, deixando com o principal executivo com um papel mais institucional e transferindo a Meaney as diretorias relacionadas ao dia a dia das operações. É essa estrutura que, agora, reduz a urgência da transição, diz uma pessoa próxima aos acionistas.
Quando a Oi buscava um substituto para Falco, em 2011, os portugueses participaram pouco da escolha de Valim. A Portugal Telecom entrou na Oi em janeiro daquele ano, quando os controladores brasileiros iniciavam as conversas com o executivo. Na época, Valim morava em Londres, de onde presidia operações regionais da Serasa Experian. Nesse processo, Valim esteve várias vezes em Lisboa, mas nunca foi um nome dos portugueses.
O executivo acabou conquistando o respeito da Portugal Telecom por sua experiência e pelos resultados apresentados. Mas havia um desconforto na operadora portuguesa por não ter participado diretamente da escolha. Havia também um interesse dos portugueses em ser mais ativos na administração da operadora, apesar de Valim ter nomeado diversos quadros da Portugal Telecom para trabalhar com ele.
Segundo um representante dos acionistas, o importante é que seja mantida a base do plano de negócios para o período 2012-2015. Na opinião dessa pessoa, só assim o mercado voltará a valorizar as ações da tele. Para isso, afirmou, a Oi terá de encontrar um gestor com capacidade de harmonizar os interesses de um grupo de controladores de diferentes matizes.
Esse interlocutor afirmou que a rápida gestão de Valim - que durou um ano e meio - deixa conquistas. Uma delas foi o crescimento da receita líquida, no terceiro trimestre do ano passado, após queda em dez trimestres consecutivos. Outros destaques foram o aumento de participação no mercado de celulares pós-pagos, e no segmento de TV paga.
A operadora fechou o ano passado com 49,2 milhões de assinantes de telefonia móvel. Na banda larga residencial, eram 4,9 milhões de linhas no fim de setembro, dado mais recente disponível.
Fonte: Valor (23/01/2013)

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