quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

TIC: Cresce concorrência entre teles e grupos de TI, principalmente no setor de serviços


A competição entre operadoras de telecomunicações e fornecedores de equipamentos e serviços de tecnologia da informação (TI), iniciada discretamente há alguns anos, já merece atenção e cuidados por parte dos dois lados da contenda. Anteriormente vistas apenas como parceiras, essas empresas passaram a expandir suas áreas de serviços, mesclando cooperação com competição - o que alguns apelidaram de "coopetição" - e eliminaram as fronteiras entre TI e telecomunicação para o mercado empresarial.
Só em serviços gerenciados para clientes, que podem ficar baseados em centros de dados ou em servidores na nuvem, as teles faturaram no ano passado US$ 2,415 bilhões, 8% acima do registrado em 2011, segundo o analista do mercado de telecomunicação da consultoria IDC, João Paulo Bruder. Tipicamente, é uma fatia que as operadoras abocanharam das companhias de TI, afirma Bruder. O conceito de nuvem é aplicado quando softwares e servidores não precisam estar instalados no computador do cliente e são acessados por ele por meio da internet.
Ninguém parece se lembrar de quem deu o primeiro passo. O fato é que o conjunto do mercado tem crescido, com mais receita de dados e menos de voz. Empresas de TI que antes forneciam apenas equipamentos passaram a fazer gerenciamento e manutenção de redes, oferecer redes privativas virtuais (VPNs) e links de dados, entre outros serviços. Com o mercado residencial brasileiro de voz já bem-atendido e o de dados com crescimento lento, as operadoras concentraram o foco na área empresarial e, mais do que cobiçar a fatia de TI, fizeram com que ela se tornasse parte integrante de seu bolo.
A grande aposta que uma das teles faz é como o mercado de telecomunicação entrará de vez no de TI. Alguns exemplos são os sistemas que serão usados nos estádios de futebol, os serviços fornecidos via centros de dados ou em nuvem.
"Entramos em novas fronteiras", diz Maurício Vergani, diretor da unidade de negócios corporativos da Oi. "A rede LAN [conexão de rede local] era provida pelas empresas de TI, mas hoje já oferecemos serviços em LAN." Para este ano, a Oi planeja fazer parcerias na área de software e tirar proveito da capacidade de seus oito centros de dados, prestando serviços a outras empresas. O cliente poderá, por exemplo, usar o sistema de gestão empresarial (ERP) diretamente do servidor da operadora.
Pelos cálculos de Vergani, 15% da receita da tele virá de serviços de TI em 2015, um avanço significativo frente aos 2% apurados em 2011. Da receita gerada por meio dos centros de dados, a expectativa é que 50% venham de serviços para o cliente, e não das tradicionais aplicações dedicadas. "É uma corrida das teles para a área de TI. Quanto mais [serviços de] centro de dados vendemos, mais links de dados vendemos junto", diz Vergani.
A Telefônica/Vivo também é entusiasta do avanço nesses serviços. Investiu R$ 400 milhões em um centro de dados inaugurado em setembro do ano passado, para ganhar mais competitividade, e considera a posse da rede e do centro de dados vantagem para as teles em relação às empresas de TI.
"Estamos trabalhando em diversas verticais de nuvem para completar serviços de TI com segurança da informação contra ataque de hackers", diz Estanislau Bassols, diretor-executivo de negócios empresariais da Telefônica/Vivo. Para atender ao mercado empresarial, a tele criou serviços ininterruptos durante todo o ano e segurança digital. Passou também a usar as tecnologias de banda larga, de armazenamento de dados e câmeras para oferecer vigilância a empresas de diversos portes.
A operadora ganhou novos clientes, mas também concorrentes que não tinha antes, diz Bassols. No caso da Cisco, por exemplo, é tanto parceira para ofertas de TI na nuvem quanto rival. E não é à toa que a nuvem atrai ambos os lados. Esses serviços continuarão a ser um dos motores do crescimento da Telefônica para os próximos anos. A estimativa da tele é que tenham representado 25% da receita de TI no ano passado.
Para as empresas de TI não é muito fácil admitir que concorrem com seus clientes. Rodrigo Dienstmann, diretor da área de empresas da Cisco, já foi executivo da GVT. Ele conhece bem os dois lados e confirma, embora relutante, que existe uma sobreposição das companhias dos dois segmentos. Mas diz: "Não fornecemos conectividade que não seja via operadora." Se a empresa quer uma rede VPN ou um grande projeto de nuvem, ela terá de contratar uma operadora, além de rede, roteadores, servidores, segurança, entre outras tecnologias. Nesse caso, o cliente pode contratar tudo da tele, ou dividir com os fornecedores de TI.
"As operadoras preparam-se cada vez mais para oferecer essa camada [de serviços] acima da conectividade. Antes eram `hosting` [hospedagem de dados] e centro de dados, mas agora estão se preparando para oferecer toda a infraestrutura de TI", diz Dienstmann. "Se o cliente decide fazer [o serviço] dentro de casa, contratando os equipamentos de terceiros, e não da tele, não significa que estamos competindo com elas. Trabalhamos cada vez mais em parceria com as teles."
Solange Carvalho, diretora para o segmento de telecomunicações da IBM, prefere destacar o portfólio da companhia para clientes empresariais. "Acho que vamos sempre colaborar com as diversas indústrias. Podemos concorrer, sim, com alguns clientes. Mas TI e telecom vão andar juntas cada vez mais. Tenho estratégia para criar nuvem dentro de uma operadora e nuvem pública."
Há três anos a IBM vem movimentando sua estratégia não só em TI, que é o carro-chefe, mas também em redes IP (protocolo internet), para atender o usuário final. A companhia desenvolveu serviços de 3G para rede privativa virtual integrados com banda larga sem fio via tecnologia Wi-Fi e segurança de rede. Neste caso, afirma Solange, a concorrência é com os fornecedores de telecomunicação.
Outro pilar da IBM, o de "network analytics", ajuda as empresas a transformar o imenso volume de dados de suas bases em informações para os negócios. "TI é meu negócio. Há momentos em que a Telefônica Empresas faz TI na casa do cliente. Às vezes, podemos concorrer", diz Solange.
Fonte: Valor (10/01/2013)

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