sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Fundos de Pensão: Artigo da Abrapp mostra que cada vez fica mais difícil entender porque a Sistel reduziu tão intensamente sua taxa atuarial e prejudicou tantos participantes e patrocinadoras

A leitura do artigo abaixo, de autoria da Abrapp (Associação Brasileira dos Fundos de Pensão), nos mostra que a Sistel ao reduzir abruptamente, e de uma só vez, a taxa atuarial de juros de seus planos para 3,8%, contrariou todas as recomendações da Abrapp. 
Não temos conhecimento de nenhum outro fundo de pensão que fez esta correção de rumo na taxa de juros, como a Sistel fez. Todos sabemos que a Sistel possui em torno de 80% de suas reservas aplicadas em títulos públicos de longo prazo, adquiridos com uma remuneração muito superior a atual, fato este que nos garante uma boa remuneração por vários anos e vemos agora a pressão inflacionária que não deverá mais permitir, a curto prazo, novas reduções da taxa de juros, e nos perguntamos:
A Sistel não se precipitou nesta redução, prejudicando quase uma centena de participantes da Fundação CPqD (e possivelmente outros tantos, de outras patrocinadoras), que tiveram de apressar suas aposentadorias para não verem seus benefícios vitalícios reduzidos em quase 20% ?
Todos sabemos que atualmente a grande massa de participantes ativos da Sistel encontra-se no regime de planos tipo Prev, de Contribuição Variável, onde a redução da meta atuarial provoca de imediato uma redução dos benefícios a conceder, alem de reduzir o superávit dos planos, através do aumento das reservas matemáticas. Desta forma os participantes ativos com mais de 50 anos de idade e 10 anos de filiação a Sistel encontraram uma oportunidade de fugir da redução de seus benefícios apressando suas aposentadorias e desconstruindo todo um planejamento de vida pessoal, alem de esvaziar repentinamente o quadro de empregados experientes das patrocinadoras.
Muito estranho ver uma entidade como a Sistel, que sempre tratou com cautela e parcimônia seus investimentos, agir de modo extemporâneo neste episódio da redução abrupta da taxa de juros.

JUROS: QUEDA AMORTECIDA
15/02/2013
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Os fundos de pensão prepararam um colchão para amortecer a queda dos juros e esse movimento explica não apenas o relativo conforto diante do corte na remuneração da renda fixa como, de outra parte, permite entender porque acontece tão lentamente a migração para a renda variável, que não poucos chegaram a apontar no passado recente como tendência salvadora e inevitável. Acaba que aquilo que está realmente salvando as entidades, nota o Vice-presidente da Abrapp, José Ribeiro Pena Neto, está sendo antes de tudo “o alongamento das  carteiras de papéis de renda fixa, aproveitando momentos passados em que os títulos públicos pagavam taxas altas” Isso, completa, acompanhado da “redução da  taxa de desconto do passivo”.
Em resumo, investimentos crescentemente sofisticados e diversificados continuam sendo palavras muito ouvidas, mas localizadas em um futuro que não precisa ser imediato. Ainda da para esperar um pouco mais, mesmo porque o bom senso manda aguardar  para confirmar se os juros permanecerão assim baixos indefinidamente. Afinal, em 24 de janeiro último  o Comitê de Política Monetária (Copom) divulgou a ata de sua última reunião e a impressão que ficou é que a pressão dos preços poderá em algum momento prejudicar os planos do governo de manter a taxa no nível atual, em nome do combate à inflação. Enfim, para grandes investidores vivendo um quadro de razoável conforto não haveria motivo para trocar o certo pelo duvidoso: “Mudou pouco. Na verdade, os efeitos da queda dos juros ainda não estão sendo sentidos”, resume Roberto Teixeira de Carvalho, Diretor de Investimentos da Abrapp.
Traduzindo esse conforto em números, dados do Núcleo Técnico da Abrapp mostram (ver gráfico ao lado) que apenas 17% da carteira de títulos públicos em poder dos fundos de pensão vencem em até dois anos, 33% em até nove anos e nada menos de 50% ainda vão demorar quase uma década inteira para vencer. Como são quase todos papéis adquidos em uma outra realidade de juros, bem mais altos, está mais que explicada a atual falta de pressa em diversificar os ativos.
Para João Carlos Dias Ferreira, diretor de Benefícios da Faceb, a sua entidade fez bem o  “dever de casa”, cuidando do ativo (investimentos em títulos públicos federais) sem descuidar do passivo (alterações nos planos de benefícios). “Nessas ações reside o principal instrumento de superação das dificuldades que se apresentam para os próximos anos”, observa João Carlos.
Mais de 50% dos  investimentos da Faceb estão alocados em títulos públicos federais, todos marcados até o vencimento, com rentabilidade bem acima das taxas hoje praticadas. Essa posição, somada ao esperado bom desempenho dos fundos de renda fixa, explica João Carlos,  projeta um patrimônio capaz de fazer frente tanto à redução compulsória da taxa de juros, quanto à variação do SRB (Salário Real de Benefício), que continuará impactando as reservas matemáticas do plano BD pelo menos até 2014, quando absorverá integralmente o SRC (Salário Real de Contribuição).
Na ponta da renda variável, os números também são reveladores: Os investidores institucionais internos diminuiram a fatia de ações em suas carteiras em janeiro. Até o pregão do dia 30, aplicadores de grande porte, como são os fundos de pensão, registraram saída líquida de R$ 4,3 bilhões da BM&FBOVESPA. É  o maior montante desde abril de 2008, quando as retiradas foram de R$ 5,5 bilhões.
Jorge Simino, diretor de Investimentos da Fundação Cesp, observa que há uma combinação de causas. De um lado, um apego à “duration” dos títulos públicos, cujo prazo médio é alto, como convém aos fundos de pensão, considerando que o passivo da previdência complementar é carregado por décadas. Um casamento que se constrói pela aderência dos ativos aos compromissos a serem cumpridos ao longo de 20, 30, 40 anos ou mais.
Mas essa talvez nem seja a razão principal que faz demorar mais a migração da renda fixa para a variável. “Na minha opinião o problema está mais relacionado ao crescimento do lucro das empresas num ambiente macroeconômico mais desafiador, tanto no âmbito externo quanto interno”.
Ricardo de Almeida, professor do Insper,  diz entender a cautela das entidades e também a atribui em parte aos desempenhos modestos das empresas, em comparação com os quais as NTNs ainda oferecem com certeza mais.
Na mesma linha, Maurício Wanderley, diretor de Investimentos da Valia, explica que tal cautela se traduz no caso de sua entidade no direcionamento de 65% da carteira para a renda fixa, composta em 90% por títulos públicos indexados ao IPCA e longos, vencendo em sua maior parte depois de 2020.

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