quarta-feira, 13 de novembro de 2013

TIC: Financial Times, em editorial, afirma que Brasil está indo longe demais na segurança da internet

Em editorial, o jornal britânico Financial Times critica a proposta brasileira do Marco Civil da Internet. Segundo o texto publicado na edição desta quarta-feira, a adoção de regras restritivas pode, além de prejudicar o setor de tecnologia local, levar outros países a seguir o exemplo brasileiro e iniciar uma era de controle e fragmentação da rede mundial. O texto termina com um pedido para que a persidente Dilma repense sua nova política para o setor.  

Leia a tradução do editorial do Financial Times:

Em meio à controvérsia em relação a espionagem americana sobre governos estrangeiros, muita atenção tem sido posta nos danos ocorridos nas relações entre os EUA e a Europa. A revelação, em particular, de que os americanos grampearam o celular da chanceler alemã, Angela Merkel, disparou um debate na União Europeia, se novas leis de proteção de dados são necessárias. 

Mas o país que pode ter mais influência que qualquer outro em como essa controvérsia vai se desenvolver é o Brasil. A presidente Dilma Rousseff tem se expressado com fúria desde a revelação da espionagem americana. Consequentemente, seu governo tem revidado com um extenso conjunto de medidas, visando a proteção dos brasileiros contra o que parecer ser uma máquina de vigilância dos EUA fora de controle. 

O Brasil publicou um plano ambicioso para incentivar sua própria tecnologia de rede. O país tem intenção de estabelecer seu próprio serviço seguro de e-mail. E agora está revelando uma legislação que vai exigir que toda a informação online referente a brasileiros seja armazenada fisicamente no país.

Essa última medida terá grandes implicações. Vai requerer das companhias americanas de internet que operam no Brasil duplicar a infraestrutura que elas já mantêm fora dos EUA, estabelecendo imensos e caros data center dentro do Brasil. Isso vai levar inevitavelmente essas empresas a se perguntar se deveriam restringir suas operações no país. Seria algo ruim para a competitividade brasileira e danoso para seu setor de tecnologia.

Também seria negativo para a liberdade global da internet. O mundo é dividido por dois grupos, um liderado pelos EUA, que são os campeões do movimento de fluxo livre da internet, e um segundo, composto por nações como a China, Rússia e Irã, que mantêm intranets nacionais para ajudar a assegurar o controle político.

O Brasil é integrante de um grupo de países - junto com Turquia, Índia e Indonésia - que tem oscilado entre um caminho e outro. Se o Brasil, segundo maior mercado do Facebook, tornar-se uma espécie de porta-bandeira do protecionismo na internet, outros o seguirão.

Os EUA não têm ninguém, a não ser eles próprios, para culpar pela reação raivosa brasileira contra a bisbilhotagem dos espiões americanos. A presidente brasileira está certa em se sentir seriamente atingida pela evidência de que os EUA monitoraram as comunicações internas de seu governo. Mas a missão do Brasil de proteger os dados pessoais de seus cidadãos por barreiras tão extensas é falha. É ruim para o Brasil, que poderia sofrer economicamente. E é ruim para a rede mundial, que se arrisca a entrar em uma era de fragmentação e controle. A senhora Rousseff precisa repensar a solução.
Fontes: Valor e Financial Times (13/11/2013)

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