quarta-feira, 30 de abril de 2014

Fundos de Pensão: Investimentos e suas respectivas metodologias de aplicação não podem ser únicos para todos os tipos planos da entidade (EFPC)

Risco de longo prazo deve ser tratado no curto prazo 
Os investidores institucionais (fundos de pensões e seguradoras) enfrentam diariamente decisões de investimentos que podem colocar em risco a solvência (relação entre ativos e passivos) de seu patrimônio no longo prazo. Muitas estratégias de investimentos buscam alocações que maximizam a relação risco e retorno de suas carteiras, desconsiderando o perfil do fluxo de caixa de seu passivo no futuro. Além disso, as tábuas atuariais utilizadas como referência baseiam-se em expectativas de vida cuja probabilidade de não se concretizarem não é desprezível, em virtude da crescente longevidade da população. Esses são alguns fatores que podem resultar em decisões de investimentos atuais que não cumprirão os objetivos de concessões de benefícios futuros. 
Os investidores institucionais devem trabalhar para reduzir a eventual probabilidade de descasamento entre ativos e passivos, não deixando esse problema para a próxima geração. Ainda que essa conclusão seja direta para os planos de benefício definido (BD), essa situação também é válida para os participantes de planos de contribuição definida (CD), considerando que a reserva que acumularem pode não ser suficiente para manter o padrão de consumo desejado na época do usufruto. 
O eventual risco de solvência pode ser intensificado dependendo das características do conjunto de beneficiários e do respectivo plano (exemplos: tempo disponível para a acumulação de poupança e o de usufruto dessa reserva; fluxo de contribuições; direito extensível a cônjuges e/ou familiares; tábua atuarial utilizada pelo plano, entre outros). 
Tais características fazem com que a definição da política de investimento seja única (taylor made) para cada plano e a solução desse problema quantitativo não é trivial. 
Nos países desenvolvidos, é comum encontrar metodologias de alocação que buscam minimizar esses descasamentos entre passivos e ativos. A metodologia chamada Liability Driven Investment (LDI) considera o perfil do fluxo de caixa dos passivos do fundo de pensão e busca minimizar os eventuais descasamentos de longo prazo mencionados. Em outras palavras, busca reduzir o risco do investimento por meio da mensuração do sucesso da estratégia de aplicação em relação ao fluxo de aportes estimados. Essa abordagem não visa apenas medir o retorno dos ativos em relação a um peer group ou efetuar investimentos que estejam protegendo a exposição dos passivos atuais, estratégia usualmente conhecida como cash-flow-matching. Vai além, estimando qual será o passivo futuro do plano, quais as condições que impactam o investimento e como esse deveria ser realizado para garantir a solvência de longo prazo. O objetivo é fazer com que o plano atinja um 'desempenho-alvo', de acordo com um nível de risco pré-definido. Adota-se uma referência de desempenho construída especificamente para o caso do plano, o Liability Benchmark Portfolio (LBP), o qual considera exposições a taxas de juros de longo prazo e inflação. 
O passivo de um fundo de pensão tem características que se assemelham a de títulos de renda fixa, como fluxo de pagamento de juros, prazo, duração, entre outros. Uma política de investimento que parta de um estudo dessas características e que invista passivamente nos mercados de renda fixa endereça parte do problema. Entretanto, alterações na taxa de juros real, no crescimento real da renda, na convexidade da curva de juros, na expectativa de vida média e nos fluxos de aportes, entre outros, podem constituir grandes riscos atuariais. Parte dessas alterações pode ser prevista por modelos complexos, tais como as de mudança na expectativa de vida, mas faz-se necessário endereçar parte delas por meio de uma política que busque retornos em excesso (alfa) ao LBP, mapeando e entendendo as fontes de geração desse alfa para que se possa controlar seus riscos. Mas o problema tem ainda mais dimensões. A volatilidade de curto prazo originada por fatores exógenos às características do passivo, e a dos próprios fatores de riscos ativos, pode comprometer os ganhos obtidos no longo prazo. Por exemplo, a crise de 2008 ou ainda a abertura das taxas de juros reais em 2013 trouxeram grande preocupação aos alocadores. Por isso, soluções LDI podem fazer eventual uso de derivativos para gerenciar a sensibilidade às taxas de juros e à inflação da carteira global de investimentos. 
Enfrentar o eventual problema de solvência é tarefa complexa e deve começar no curto prazo. Ainda que o LDI oriente para uma solução de longo prazo, sua estratégia de implementação requer tempo e planejamento. Não há uma receita única que solucione as particularidades de todos os planos. Para cada plano, uma solução. 
Fonte: Valor Online (30/04/2014)

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