sábado, 7 de junho de 2014

Fundos de Pensão: Como o PT perdeu poder nos três maiores fundos de pensão do país

O desejo de mudança chega à Previ, à Funcef e à Petros, que movimentam R$ 280 bilhões, e dirigentes sindicais petistas e executivos ligados ao governo perdem força. Saiba como isso pode influenciar até no resultado das eleições presidenciais

O sentimento de mudança captado em pesquisas eleitorais e que ameaça a hegemonia do PT chegou primeiro aos fundos de pensão. Em menos de um mês, eleições realizadas em dois dos principais fundos de previdência complementar do País destronaram dirigentes sindicais e executivos ligados ao governo. Além do risco de perder o controle sobre recursos que se tornaram essenciais à política de investimentos do governo federal, o Palácio do Planalto teme que o voto de protesto nos fundos contamine as urnas em outubro. A primeira derrota ocorreu na Funcef, dos funcionários da Caixa Econômica Federal, o terceiro maior. Lá, a oposição colheu expressivos 45% dos votos, contra 31% da chapa petista. Duas semanas depois, foi a vez da Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, o maior em patrimônio e contribuintes. Numa disputa acirrada, os opositores venceram com 31%, nove pontos percentuais à frente dos governistas. A onda anti-PT agora ameaça a Petros, dos servidores da Petrobras, o segundo maior do País.
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Para Paulo Paim, derrotas do PT completam "um ciclo natural de desgaste"

Previ, Petros e Funcef reúnem mais de R$ 280 bilhões em patrimônio, quase metade dos R$ 624 milhões de mais de 250 fundos em operação. Por trás dessas cifras astronômicas, está o interesse de seis milhões de contribuintes ativos, aposentados e pensionistas. O futuro dessas pessoas depende da saúde financeira das entidades que administram poupanças acumuladas por toda uma vida. E não se trata apenas de indivíduos, mas de famílias inteiras. No frio cálculo eleitoral, são 30 milhões de votos, mais da metade do total obtido por Dilma Rousseff no segundo turno de 2010.
Imagine agora toda essa gente insatisfeita com o rumo de seus investimentos. Pois é exatamente isso que está acontecendo. Em 2013, os fundos de previdência fecharam seus balanços com um déficit histórico de R$ 22 bilhões e o saldo negativo só cresceu na primeira metade deste ano. A Previ acumula R$ 5 bilhões de prejuízo, a Petros tem algo próximo a R$ 3 bilhões, enquanto a Funcef já ostenta um saldo negativo de R$ 4 bilhões. Para se defender, os comandos das entidades culpam a difícil conjuntura econômica. Levantamento da Abrapp, associação que reúne o setor, indica que 262 planos de benefícios fecharam o ano passado no vermelho, um aumento de quase 100% na comparação com 2012.
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Para os associados, porém, a justificativa não cola. Entre as principais bandeiras levantadas pelas chapas vitoriosas estão justamente as críticas à ingerência e ao aparelhamento promovido pelos petistas. “Nos últimos anos, ficou patente o interesse do governo em viabilizar seus projetos em detrimento da rentabilidade da previdência”, afirma o novo diretor de administração da Funcef, Antônio Augusto de Miranda. Ele pondera que no governo de Fernando Henrique o uso dos fundos era explícito. Após a chegada de Lula ao poder, criou-se um novo marco regulador que prometia proteção. Abriu-se a oportunidade de eleição para conselheiros e, posteriormente, para diretores. Essa dinâmica, porém, retroagiu quando o PT percebeu o poder que tinha nas mãos. “O governo passou a usar os fundos para viabilizar concessões públicas e empreendimentos em que o mercado não tinha interesse”, avalia.
Ao aparelhamento, somam-se a pouca transparência na gestão e o alto déficit. Na lista de negócios que o governo empurrou para a Funcef, Miranda destaca o caso da Brandes, empresa que prometia desenvolver em parceria com a IBM uma solução tecnológica para financiamento imobiliário na internet. Ficou no papel e consumiu R$ 1,2 bilhão. Outra foi a Eldorado Florestal, que também não existia, e a ALL Logística, que só deu prejuízo. A gota d’água foi a denúncia de que o deputado André Vargas intermediou uma reunião do doleiro Alberto Youssef com o diretor de participações societárias, Carlos Borges, nomeado pela Caixa. “O caso Youssef simbolizou o grau de ameaça que paira sobre a destinação dos recursos dos fundos. O alinhamento político canaliza esse tipo de negociata, como ocorreu na Postalis”, alerta Miranda.
Na Previ, a eleição garantiu mudanças substanciais no conselho deliberativo, no consultivo e na diretoria-executiva. A chapa vencedora é formada por auditores de carreira do BB. Apesar do alegado perfil técnico, ela foi organizada nos bastidores por Valmir Camilo, que já foi filiado ao PPS, e com apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito (Contec), cujo presidente, Lourenço Prado, é do PMDB do Distrito Federal. Recentemente, a Contec também andou cortejando o pré-candidato presidencial do PSB, Eduardo Campos. Essa chapa multipartidária emplacou três diretores, entre eles Cecília Garcez (administração), ex-diretora de planejamento da Previ entre 2004 a 2010. À ISTOÉ, Camilo diz que não é militante partidário e sua relação com o PPS é pela amizade com Roberto Freire. “Nem sou mais filiado”, diz.
Ex-membro do conselho deliberativo da Previ, Camilo avalia que o desgaste do PT era previsível e se refletiu numa insegurança generalizada entre os participantes do fundo quanto à administração dos ativos. Ele cita como exemplos de “uma gestão nebulosa” o uso da Previ na criação da Oi, da BR Foods e da Invepar. “O Tasso Jereissati tinha R$ 150 milhões para investir num negócio de R$ 3 bilhões e uma dívida de R$ 700 milhões com o Bradesco. De repente, virou dono de tudo. Não há fórmula matemática que explique isso!”, ataca. Segundo ele, a Previ perdeu oito anos na gestão de Sérgio Rosa, que deixou o fundo no “piloto automático”.
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O governo continua com alguns dos cargos principais, que são privativos de nomeação do presidente do BB. Manteve o presidente, Dan Conrado, e indicou como diretor de investimentos Márcio Hamilton Ferreira, no lugar de Renê Sanda, o japonês. Também nomeou Marcio Geovanne como diretor de participações. O cargo era eletivo até 1997 e a nova chapa cogita recuperá-lo. Conrado confidenciou a alguns amigos que estava cansado e queria sair e o PT pensou em emplacar Robson Rocha, que ocupa hoje uma das vice-presidências do banco. Mas o governo resolveu deixar como está para evitar mais lenha na fogueira. Conrado entrou para pacificar a crise deflagrada em 2012 pelo então presidente da Previ, Ricardo Flores, ligado ao PT de Zé Dirceu. Para o senador Paulo Paim (PT-RS), que tem origem sindical – chegou a secretário-geral da CUT –, as derrotas do partido no comando dos fundos é um processo natural. “Acho que é um ciclo natural de desgaste de quem está na direção das entidades. O próprio movimento sindical está passando por isso”, diz.
Fonte: Isto É (07/06/2014)

Um comentário:

  1. O meu medo é sair das mão do PT e entrar nas mãos dos Demos e Tucanos
    que sucateiam tudo por onde passam e só deixam dívidas e nada nois cofres.
    Jair Mauro

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