terça-feira, 30 de setembro de 2014

Fundos de Pensão: A importância de participantes ativos jovens em planos CD facilita a busca pela rentabilidade, enquanto nos BD (assistidos e ativos mais idosos) preocupação é com superavits

Petros, com 50% de participantes jovens, deve passar por 'baby boom', avalia demógrafo

Um dos cinco integrantes da comissão criada pelo governo para analisar os erros na Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (Pnad), do IBGE, o demógrafo Eduardo Rios-Neto é pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com doutorado em demografia na Universidade da Califórnia. Sua área de expertise, o estudo da dinâmica populacional e ocupacional do país, levou Rios-Neto a realizar recentemente uma palestra na Petros, a "caixa" de pensão da Petrobras, segundo maior fundo do gênero do país.

Nesta entrevista ao Valor, Rios-Neto fala sobre o impacto da expansão acelerada da força de trabalho da Petrobras em seu fundo de pensão. "A carteira da Petros crescerá de forma exponencial. Haverá contribuições, mas sem retiradas, porque os novos funcionários são predominantemente jovens", avalia.

Valor: Qual o impacto da dinâmica demográfica nos fundos de pensão?
Eduardo Rios-Neto: Fiz uma palestra na Petros sobre cenários, fui para falar da dinâmica demográfica, das projeções de população e ocupação, as coisas que eu mexo, enfim. Aí notei uma coisa que o mercado ainda não percebeu.

Valor: A que o sr. se refere?
Rios-Neto: Quando participei de uma comissão do Ministério do Trabalho, uma comissão relativa à imigração (CNIg), um diretor de RH da Petrobras foi lá dar seu depoimento. Fiquei impressionado ao saber que a Petrobras iria, em cinco ou seis anos, praticamente dobrar o efetivo de funcionários. Como demógrafo, vi que isso significaria um baby boom no fundo de pensão, algo que precisará ser muito bem regulado pela sociedade porque o superávit capitalizado oferece um incentivo ao comportamento perdulário, caso a regulação destes fundos não seja estrita.

Valor: Mas por quê?
Rios-Neto: Porque entrará uma série de contribuintes novos, que ficarão anos até se tornar beneficiários. A Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil, hoje é maior do que a Petros, mas está estagnada ou quase, não tem um futuro promissor de acumulação de reservas. Chegaram a um equilíbrio, como um tanque cuja vazão de entrada de água é igual à vazão de saída, com poucas variações. Isso vale para quase todos os grandes fundos de previdência privada fechada. Para eles, o tal bônus demográfico não é tão alvissareiro, pois há um relativo envelhecimento das grandes empresas que aderiram à previdência fechada. Na medida em que as empresas estão em um tamanho ótimo, não acontecerá mais muita coisa. O diferente na Petrobras é que com a contratação de muitas pessoas na base, pessoas jovens, gera uma espécie de baby boom localizado.

Valor: Quais as consequências desse fato?
Rios-Neto: A carteira da Petros crescerá nos próximos dez anos de forma exponencial. Existirão contribuições mensais, mas sem retiradas, porque os novos funcionários são predominantemente jovens. E surge um problema potencial de gestão que a regulação não vê. Veja, que não critico a regulação, não tenho nem competência, nesse caso seria melhor procurar um advogado. Os planos são bem regulados, mas existe um ponto de conflito geracional, de interesses mesmo, entre os novos e os velhos contribuintes. Os velhos querem uma espécie de repartição de dividendos para os beneficiários correntes, por estar próximos de se aposentar ou ser aposentados. Os novos, por sua vez, exigem uma capitalização supereficiente para o futuro, mas o futuro deles é daqui a 30 anos. Então existe um incentivo para os beneficiários mais maduros de forçar maiores benefícios, com todo o respeito, não se trata de desonestidade, mas sim de um comportamento oportunista natural. Se não houver uma regulação muito grande, estes conflitos de gestão aflorarão.

Valor: A geração mais jovem tende a ser sub-representada na alta hierarquia das empresas?
Rios-Neto: Sim. Mas praticamente nenhum grande fundo tem mais benefício de valor definido para os novos funcionários. Todos, nas gerações mais novas, têm optado pelas contribuições definidas, em que o risco é transferido para o empregado, como se este tivesse uma conta de caderneta de poupança lá dentro. Isso é uma garantia inclusive de que não haverá desvios. Mas, no caso da Petros, qualquer 0,02% que se tire a mais da carteira em acumulação a título de qualquer coisa além dos custos administrativos é muito dinheiro.
Fonte: Valor (30/09/2014)

Um comentário:

  1. O entrevistado declara como se as gerações atuais não optassem por planos BD, o fato é que só são oferecidos planos CD! "A opção por CD nos quais o risco é transferido ao empregado é uma garantia de que não haverá desvios" é um engano, esta garantia só se consegue com Paridade nos Conselhos, sem voto de Minerva, Eleições Limpas e Eleição dos Conselheiros Adequados (não pelegos). Não é fácil não!

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