segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Fundos de Pensão: Petros fará auditoria em créditos privados como resultado de denúncias na operação Lava-Jato da PF


Com o nome da fundação mais uma vez envolvido em denúncias de corrupção, a direção do fundo de pensão da Petrobras, a Petros, montou um grupo de trabalho interno e contratou uma consultoria externa para passar um pente fino em sua carteira de títulos privados com provisões para perdas. O objetivo é verificar possíveis irregularidades. 
"Vamos rever todas as aprovações de todos os créditos provisionados", disse Carlos Fernando Costa, presidente da Petros. Segundo ele, será verificado se a governança da fundação foi obedecida na aprovação e aquisição desses papéis, se todos os documentos necessários foram requeridos e se as transações estavam coerentes com a legislação e aprovações, disse em entrevista exclusiva ao Valor. 
O nome da fundação voltou ao noticiário policial recentemente depois que documentos e depoimentos prestados no âmbito da Operação Lava-Jato da Polícia Federal vazaram para a imprensa. Há denúncias de que a fundação teria emprestado dinheiro para uma empresa que era controlada pelo doleiro Alberto Youssef e de que dois ex-diretores teriam recebido propina em transações com empresas alvos da operação enquanto ocupavam seus cargos

Costa diz que até o momento a fundação não recebeu nenhuma notificação ou pedido da PF ou do Ministério Público para qualquer tipo de esclarecimento. "A informação que temos é da imprensa. Quando chegar, vamos nos posicionar prontamente", afirma. 
O conselho deliberativo do fundo de pensão montou, há poucas semanas, um grupo interno formado pelo ouvidor, o auditor interno e os gerentes de compliance e de controle para liderar os trabalhos. A consultoria externa, cujo nome não foi revelado, vai dar suporte a esse grupo para avaliar os créditos provisionados. "Esse grupo vai se reportar ao conselho deliberativo, que tem assentos ocupados por eleitos dos participantes, para dar transparência ao processo e não haver conflitos de interesse", disse o presidente da Petros. 
Costa conta que esse grupo tem até o fim deste ano para terminar esse trabalho e apresentar um relatório final. Se alguma irregularidade for constatada, a direção vai tomar as medidas necessárias, afirma. "Nos preocupamos com a imagem da instituição e temos que esclarecer o que está acontecendo para o nosso participante." 

Não é de hoje, porém, que os investimentos em títulos privados da Petros chamam a atenção. A fundação tinha papéis de bancos que foram liquidados nos últimos anos pelo Banco Central (BC), casos do BVA e do Cruzeiro do Sul. Mais recentemente, tem tido prejuízos com a aplicação no fundo de recebíveis (Fidc) do Trendbank. 
O fundo de pensão fechou 2013 com cerca de R$ 520 milhões em provisões para perdas com títulos privados inadimplentes, entre eles cédulas de crédito bancário, certificado de cédula de crédito bancário (CCCB), cédula de crédito imobiliário (CCI), debêntures e certificados de recebíveis imobiliários (CRI). Entre esses papéis estão CCBs emitidas pela V55 Empreendimentos, uma das empresas criadas pelos principais sócios do falido banco BVA para injetar recursos no banco - além disso e papéis do banco, a Petros ainda tinha recursos investidos na gestora do banco, a Vitória Asset. O volume de créditos provisionados já teria subido para perto de R$ 650 milhões este ano, apurou o Valor.

Na semana passada, durante o congresso dos fundos de pensão, em São Paulo, participantes e conselheiros das três maiores fundações patrocinadas por empresas estatais - Previ, Petros e Funcef - fizeram um manifesto pedindo maior transparência e maior acesso a informações relevantes. 
No ano passado, a Petros apresentou um déficit de R$ 2,3 bilhões devido à desvalorização dos títulos públicos e à má performance da bolsa, segundo Costa. "Sofremos como todo o mercado. O que ocasionou o déficit foi mais uma questão de mercado", afirma. Até agosto deste ano, último dado contabilizado pela fundação, a rentabilidade dos investimentos foi de IPCA mais 9,28%, ultrapassando a meta da Petros de IPCA mais 5%. 
Formado em matemática e pós-graduado em administração financeira e em economia, Costa assumiu a presidência da Petros no começo deste ano. Ele chegou à fundação em 2008 como gerente de operações de mercado e, em 2011, assumiu a diretoria de investimentos. Antes, foi consultor financeiro da FGV e secretário de finanças de São Paulo. É, portanto, considerado um técnico. As duas gestões anteriores a dele foram indicadas pelo PT.  

Fonte: Valor Online (17/11/2014)

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