domingo, 15 de fevereiro de 2015

Fundos de Pensão: Investigações provocam crise em fundo de pensão da Petrobras (Petros) com a demissão de dois de três diretores


A devassa nas contas da Petrobras desencadeou uma crise na Petros, fundo de pensão dos funcionários da estatal. Na sexta-feira, durante reunião do Conselho Deliberativo da entidade, o diretor de Seguridade, Maurício França Rubem, surpreendeu os conselheiros ao pedir demissão. Foi mais um capítulo da disputa interna iniciada há dois meses, desde que a então presidente da Petrobras Maria das Graças Foster estendeu à Petros a auditoria interna em curso na estatal pelos escritórios Trench, Rossi e Watanabe Advogados e Gibson, Dunn & Crutcher. Em dezembro, antes da decisão, Helena Kerr, a diretora de Administração e Finanças, já havia pedido demissão. Agora, são duas cadeiras vagas na cúpula da Petros, que tem três diretores e um presidente.

A Petros entrou na mira da auditoria da Petrobras e também da Operação Lava-Jato depois que o advogado Carlos Alberto Pereira Costa, um dos auxiliares do doleiro Alberto Youssef, disse em depoimento que dirigentes da fundação receberam parte de uma propina de R$ 500 mil para fechar um investimento de interesse do esquema de lavagem de dinheiro investigado pela Polícia Federal. A Petros perdeu R$ 13 milhões com a operação. O advogado disse ainda que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, ajudava a influenciar negócios de interesse de Youssef na Petros e em outros fundos de pensão, o que o petista nega.

Segundo maior fundo de pensão do país, com R$ 80 bilhões em ativos e 150 mil participantes, a Petros é controlada desde 2003 por dois grupos sindicais do PT. O mais forte é o de ex-sindicalistas bancários de São Paulo, do qual fazem parte Vaccari e Wagner Pinheiro, atual presidente dos Correios, que dirigiu a Petros entre 2003 e 2010. Além da presidência, esse grupo sempre controlou a diretoria de Investimentos, de onde saíram os dois sucessores de Pinheiro. O outro grupo, da Federação Única dos Petroleiros (FUP), ficava com as demais diretorias e a presidência do Conselho. A harmonia começou a mudar em março de 2014, quando o então diretor de Investimentos Carlos Fernando Costa assumiu a presidência. No lugar dele ficou o ex-diretor de Administração Newton Carneiro da Cunha, que é da FUP.

Cotidiano vigiado
O clima pesou de vez com a investigação da Petrobras, definida em 26 de dezembro, justamente quando o grupo de Carlos Fernando Costa perdera a área de investimentos, principal alvo da auditoria. A inclusão da Petros foi vista como uma tentativa de Graça de trocar a diretoria da fundação, sobre a qual nunca teve influência. Sem evitar a investigação, o presidente conseguiu que o conselho administrativo convocasse uma reunião extraordinária para tratar de substituir a diretoria. Só ele ficaria no cargo. Cunha seria trocado por um de seus assessores, Marcelo Perillo.

Pouco antes da reunião, a mudança foi abortada, numa intervenção atribuída ao governo. Mas a essa altura, a relação entre os diretores já havia azedado. O presidente desautorizou decisões de Cunha, e os dois não se falam. Enquanto isso, a Petros vive um cotidiano vigiado. Para cumprir a ordem de não apagar arquivos e e-mails, a capacidade de armazenamento das caixas de mensagens foi ampliada. Caixas são empilhadas nas salas com papéis que não podem ser descartados. Funcionários ouvidos pelo GLOBO acreditam que a troca de Graça por Aldemir Bendine na presidência da Petrobras pode beneficiar o grupo dos bancários na disputa. O ex-presidente do Banco do Brasil seria mais próximo deles e tem o poder de influenciar as decisões do Conselho Deliberativo da Petros como presidente da patrocinadora, que tem voto de desempate.

PETROS nega suspeitas de irregularidades
Procurada pelo GLOBO, a Petros não quis comentar a crise na diretoria. Em nota, afirmou que “não comenta publicamente questões internas referentes à sua administração”. A fundação informou que a inspeção interna requerida pela Petrobras está em curso, mas é de responsabilidade da estatal, que mantém os resultados em sigilo. A fundação frisou ainda que o fato de estar sob a inspeção solicitada pela Petrobras “não significa que haja alguma irregularidade ou suspeita de irregularidade”.

Em relação às investigações da Operação Lava-Jato, a Petros informou que não recebeu qualquer comunicado oficial e nem teve acesso ao teor das denúncias, mas criou uma auditoria interna, com o apoio de consultoria externa independente, para avaliar todos os ativos de crédito com provisões de perda. O objetivo da auditoria ainda em curso, que a fundação diz ter sido decidida antes da inspeção da Petrobras, é verificar se foram realizados de acordo com todas as regras de governança.

Vários investimentos malsucedidos feitos pela Petros foram compartilhados por outros fundos de pensão. Participantes e funcionários dessas entidades denunciaram a Ministério Público, Polícia Federal e Previc, órgão regulador do setor, sinais de uma coordenação política externa para direcionar fundos de pensão de estatais para operações suspeitas. Uma das denúncias, que baseou a abertura de um inquérito da PF no Rio, chama o esquema de “clube do amém”, revelou O GLOBO em novembro.

Fonte: O Globo (15/02/2015)

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