Conversa nº 12
Conversa de hoje: A situação presente do PAMA e PCE
São
dois amigos: Zé aposentado e Seu ajuda. Esse é o apelido deles. Não são tão
jovens assim. Ambos trabalharam anos em telecomunicações e se aposentaram pela
Fundação Sistel. Zé aposentado é do tipo descansado. Quer apenas o dinheirinho
no banco, todo final do mês e ir ao médico quando precisa. Seu Ajuda é o preocupado. Vive
acompanhando tudo que trata de aposentadoria e de plano de saúde. Aqui a
continuação da conversa que eles iniciaram no começo do ano, sobre PAMA e
PAMA-PCE.
Zé aposentado – Bom dia, Seu
Ajuda. Nós gostamos mesmo é de uma boa conversa.
SEU AJUDA– Gostamos. É conversando que a gente se entende e aprende. Melhor
ainda é se for tomando uma bebidinha e comendo uns petiscos.
Zé aposentado – Por falar em
petiscos, hoje, eu trouxe umas brevidades que é um biscoito que derrete
rapidamente na boca. Daí o nome brevidade. Onde nós paramos no nosso último
bate-papo?
SEU AJUDA– Nas nossas duas últimas conversas, fizemos um histórico do PAMA –
Plano de Assistência Médica ao Aposentado e como foi criado, em 2004, um
Programa de Coberturas Especiais – PCE.
Zé aposentado – Eu me lembro. O
Programa PCE era aquele cujas contribuições dos assistidos aumentavam cada vez
mais para sustentar o Fundo Garantidor do PAMA.
Seu ajuda – Sim. E como pano de fundo das nossas últimas conversas, discutiu-se
como deveria ser o custeio do PAMA e a má vontade dos patrocinadores em colocar
recursos novos, nos planos de saúde dos assistidos do PBS-A.
Zé aposentado – Se bem me
recordo, na nossa última conversa, você ia me explicar o que significa que “o
Conselho Deliberativo da Fundação Sistel para evitar o déficit no Fundo
Garantidor do PAMA decidiu transferir recursos da Reserva Especial do PBS-A
acumulados desde 2009 para o PAMA”
Seu Ajuda– Vamos explicar isso, dividindo o tema por partes. Divide et impera,
já dizia Cesar, cem anos antes de Cristo, ao conquistar a Gália que hoje é a
França.
Zé aposentado – Lá vem você,
com o seu latim para me impressionar, Seu Ajuda. Aceita uma brevidade?
Seu ajuda – Aceito, obrigado. Primeiramente, vamos comentar os termos: 1)
Conselho Deliberativo; 2) Fundo Garantidor do PAMA; 3) Reserva Especial do
PBS-A
Zé aposentado – Conselho
Deliberativo?
Seu ajuda – O Conselho Deliberativo é quem manda na Fundação Sistel. Dita a
política e toma as grandes decisões, que precisam estar dentre da Lei e dos
regulamentos. Os patrocinadores – os representantes das “teles” herdeiras de
quem institui a Fundação Sistel, nos tempos das telecomunicações, sob comando
estatal – possuem voz majoritária. São os patrocinadores que decidem. Os
representantes dos assistidos, por assim dizer, assistem.
Zé aposentado – Fundo
Garantidor do PAMA?
Seu ajuda – É o nome da conta onde ficam os recursos para garantir o
funcionamento do Plano de Saúde dos assistidos. Atua como uma espécie de caixa
de água, na qual entram e saem recursos. Os recursos que entram provém, em
teoria, de diversas fontes, como dotações dos patrocinadores e, na prática, das
contribuições dos assistidos. Os recursos que saem são para custear o Plano
PAMA. A Fundação Sistel, hoje, paga ao Bradesco Saúde que é quem opera o plano
de saúde na maioria dos casos. O cartão de plástico azul, que você utiliza Zé
aposentado, para acessar médicos e hospitais, é o do Bradesco Saúde-Sistel.
Zé aposentado – Reserva
Especial do PBS-A?
Seu ajuda – PBS-A é um dos planos de benefícios previdenciários da Sistel.
Congrega os que aderiram e se aposentaram pelas empresas do Sistema Telebrás,
ainda sob comando estatal, isto é antes da privatização. Todo o mês, até o
final de sua vida, o assistido do plano PBS-A recebe mensalmente um dinheiro de
suplementação, ao que o governo lhe paga, pelo INSS na qualidade de trabalhador
aposentado.
Zé aposentado – Eu quero
lembrar Seu ajuda, que o dinheiro – tanto do INSS quanto do Plano PBS-A – que o
aposentado e assistido recebe mensalmente é fruto da poupança que o trabalhador
fez quando ele estava na ativa.
Seu ajuda – Tem razão. Não é esmola. É o nosso dinheiro. São os descontos que,
mês após mês, vinham registrados nos nossos contracheques. Quem disser que
gostava de receber esses descontos no seu contracheque estará mentindo.
Zé aposentado – Reserva
Especial?
Seu ajuda – A Fundação Sistel nas suas demonstrações de contas tem o que denomina
de ativos – digamos que é a sua “riqueza” -- cuja maior rubrica (Fundos de
Investimentos) representa os investimentos financeiros que ela faz. Deduzidas
algumas obrigações, as contas de ativos ficam com um ativo líquido.
Zé aposentado – Isso é coisa
para contador Seu Ajuda...
Seu ajuda – De fato é. Mas você precisa pelo menos saber algum pouquinho. O ativo
líquido compreende as provisões matemáticas, o superávit ou o déficit técnico e
os fundos previdenciais.
Zé aposentado – Chi! agora é
que complicou.
Seu ajuda – Provisões matemáticas você já sabe o que é. É o dinheiro que o Fundo
Sistel tem para pagar todos os assistidos e beneficiários do seu Plano,
mensalmente, até o final da vida de cada um.
Zé aposentado – E a Sistel tem
provisões matemáticas?
Seu ajuda – Sim. Ela tem mais de R$8 bilhões, a dados de 2015, para pagar todos
os assistidos, mensalmente, até o final da vida.
Zé aposentado – Bilhões de
Reais, todo essa dinheirama?
SEU AJUDA– Tudo é relativo, Zé. Oito bilhões de Reais parece muito dinheiro, mas
é pouco se comparado com o montante dos gastos, menos éticos, que andam por aí.
Basta você conferir o noticiário.
Zé aposentado – Vamos voltar
para a Reserva Especial?
SEU AJUDA– Vou ser rápido. A Fundação Sistel tem um patrimônio que sofre adições
e destinações. As adições que fazem o patrimônio crescer são principalmente os
resultados positivos dos investimentos e as contribuições previdenciárias dos
participantes ativos e alguns assistidos. As destinações são principalmente os
benefícios pagos aos assistidos. Ao final do ano (exercício), o patrimônio do
Plano previdenciário como o PBS-A terá sofrido um acréscimo ou um decréscimo.
Zé aposentado – E o que é a
rubrica “superavit & déficit técnico”?
SEU AJUDA– O plano previdenciário é feito para que os investimentos existentes,
juntamente com outras entradas de recursos, permitam honrar, basicamente, a
provisão matemática que é a garantia de pagar os assistidos, até o final da
vida, etc.... Se o valor da rubrica investimentos, ao final do exercício, for
maior que a provisão matemática, há uma situação de superavit, caso contrário,
de déficit.
Zé aposentado – Superavit?
SEU AJUDA– Daria para falar horas sobre superavit. Fica para uma outra conversa.
Aqui, direi apenas que o superavit equivale ao lucro de uma empresa. No caso da
empresa, o lucro, ao final do exercício, pode ser distribuído ao acionistas,
reinvestido ou provisionado para uso futuro. No caso previdenciário, o
superavit pode ser distribuído aos assistidos, reinvestido ou mantido em
reserva para uso futuro. Há toda uma legislação que disciplina tais assuntos.
Zé aposentado – Entendi. E o
uso da Reserva Especial para cobrir o déficit do Plano PAMA e do Programa PCE?
SEU AJUDA– A Reserva Especial que o Plano PBS-A acumulou, através de sucessivos
aportes de superavits, não distribuídos aos assistidos, desde 2009, foi da
ordem de R$3,042 bilhões. O Conselho Deliberativo da Sistel – comandado pelos
patrocinadores – deliberou transferir essa “dinheirama” da Reserva Especial
para cobrir o déficit previsto no Fundo Garantidor do PAMA.
Zé aposentado – A solução para
cobrir o déficit do Fundo Garantidor do PAMA, do Plano PBS-A, poderia ter sido
outra?
SEU AJUDA– Sim, mas envolveria dotação de recursos novos dos patrocinadores, o
que eles não vão fazer. Não vai haver nenhum tostão novo dos patrocinadores
para o Plano PBS-A e nem para o Plano PAMA que lhe é conexo. Nem pensar, nisso,
Zé.
Zé aposentado – Calma Seu
Ajuda. Beba esse cafezinho novo que eu acabei de coar e coma mais uma
brevidade.
Seu Ajuda e Zé aposentado param um pouco a Conversa. Vão tomar o cafezinho recém
coado, com as brevidades caseiras que o Zé aposentado trouxe. O nome brevidade
deriva do biscoito ser tão fofinho que tem vida breve, porque derrete logo na
boca. Depois da pausa, a conversa é retomada entre os dois amigos:
Zé aposentado - Qual o
argumento que o Conselho Deliberativo da Fundação Sistel utilizou para
justificar a transferência de R$3,041bi do Fundo de Reserva Especial para o Fundo
Garantidor do PAMA?
Seu Ajuda – Baseou-se na interpretação da sentença da ação movida pela FENAPAS,
em 2001, que comentamos na nossa conversa anterior. Vou lembrar a você. “É
reconhecida a obrigação da Sistel de providenciar a transferência de valores do
Fundo de Compensação e Solvência para o Plano PAMA, até suprir o eventual
déficit”, diz a sentença.
Zé aposentado – Então, pelo que
você me disse, o Fundo de Compensação e Solvência (FCS) seria o mesmo que o
Fundo de Reserva Especial (FRE)?
Seu Ajuda – O Fundo de Reserva Especial (FRE) está na Lei Complementar nº 109, de
20 de maio de 2001, que rege a Previdência Complementar. Está lá no artigo 20
que trata dos resultados superavitários: “ao final de cada exercício, os
resultados superavitários serão destinado a uma reserva de contingência”. O
artigo nº 20 ainda fixa um limite para essa contingência que não deve
ultrapassar 25% das reservas matemáticas.
Zé aposentado – E depois de
constituída essa Reserva de Contingência, o que diz a Lei nº 109?
Seu Ajuda – Caso sobrar valor excedente, depois de constituída a Reserva de
Contingência, deve ser constituída uma Reserva Especial.
Zé aposentado – E o que fazer
com essa Reserva Especial, fruto de superavit acumulados?
Seu Ajuda – Depois de três exercícios consecutivos deve haver revisão obrigatória
do plano de benefícios da entidade. No caso do Plano PBS-A, pode ser, mais um
dinheirinho mensal para os assistidos.
Zé aposentado – E seu quiser
saber mais sobre isso?
Seu Ajuda – Vá no Diário Oficial da União, nº 190, de 1º de outubro de 2008, na
Seção 1, paginas de 59ª a 60. Onde diz “Resolução do Conselho de Gestão da
Previdência Complementar CGCP, nº 26, de 29.11.2008”. Lá a Resolução nº 26 do
CGPC – que é muito didática -- fala como se calcula o superavit, sua destinação
e a revisão dos planos de benefícios. E também fala no que fazer no caso de
déficit do Plano.
Zé aposentado – Déficit? que
Deus nos livre. Os colegas Juca Sinistro e João Deprimido é que vão adorar.
Seu Ajuda
– Por enquanto estamos
falando em superavit. Um déficit para a turma do PBS-A seria, de fato, muito
ruim.
Zé aposentado – Já falamos do
Fundo de Reserva Especial (FRE). O que é o Fundo de Compensação e Solvência
(FCS)?
Seu Ajuda – O FCS foi fruto de acordo entre os patrocinadores. Pelo Ofício nº
041, de 25 de fevereiro de 2016, a Associação Nacional dos Participantes dos
Fundos de Pensão –ANAPAR pediu à Superintendência Nacional de Previdência
complementar – PREVIC que atue junto aos patrocinadores para que estes utilizem
dotações de recursos próprios para equilibrar o déficit do plano de saúde PAMA.
Zé aposentado - E não utilizem
os R$3,041 bi do superavit do Plano previdenciário PBS-A?.
Seu Ajuda – É isso.
Zé aposentado – O que diz a
Sistel?
Seu Ajuda – O Informe Sistel, de 30 de setembro de 2015, diz que “em atendimento
a determinação judicial, houve a transferência da sobra de recursos, hoje
existente no PBS-A, para o PAMA, limitada sua necessidade”. E promete que “fica
assegurada a prestação dos serviços de saúde”. E diz ainda que ”as
contribuições do PCE passam a ser reajustadas, com índices próximos aos
aplicados ao benefícios”.
Zé aposentado – Não estou
entendendo, nada. E como fica o aumento abusivo de 141% que aconteceu no
passado, nas contribuições do PCE?
Seu Ajuda – Eu também não entendo. Com R$3,041 bi, injetados no Fundo Garantidor
do PAMA, as contribuições do Programa PCE deveriam retornar a seu valor
histórico. Relembro que tudo que está acontecendo no PAMA e PAMA PCE é com o
dinheiro dos assistidos. Os R$3,041 bi de superavit, injetados no Fundo
Garantidor do PAMA, foi obtido com recursos dos assistidos. É dinheiro dos
assistidos.
Zé aposentado – E quem vai
controlar a aplicação desses R$3,041 bi, injetados no Fundo Garantidor do Plano
PAMA?
Seu Ajuda – Realmente é muito dinheiro, Zé. Na base, significa que os prestadores
não contribuíram com dinheiro novo necessário ao Plano de Saúde PAMA, tal como
deveriam. Os assistidos é que tiveram que colocar seus recursos, uma tradição
que já vem dos tempos da instituição do Projeto PCE.
Zé aposentado – Sim, mas quem
vai controlar a aplicação dos R$3,041 bi ?
Seu Ajuda – Respondendo a você Zé aposentado, quem vai controlar esse dinheiro
aplicado no PAMA e no PCE, é a Fundação Sistel, com seus Conselhos Deliberativo
e Fiscal e com sua administração, todos controlados pelos patrocinadores. Cabe
aos assistidos ficar de olho atento e exigir mecanismos efetivos para uma total
transparência, em todo o processo.
Zé aposentado – Eu lembro a
você, Seu ajuda, que ter um Plano de Saúde acessível é vital para o aposentado.
Ter um PAMA, com contribuição elevada, equivale a tirar renda do dia-a-dia dos
velhinhos e velhinhas. E ter um PAMA de qualidade ruim, equivale à brevidade.
Seu Ajuda – Brevidade, aquele biscoito que tomamos com o cafezinho?
Zé aposentado – Não, Seu Ajuda.
Se o Plano de Saúde não for bom e acessível é ter brevidade de vida.
Seu Ajuda – Chega para lá Zé. Com uma piada assim, até parece que estou falando
com o João Deprimido! Até nossa próxima conversa. A última coisa que morre é a
esperança.
Fonte: Jornalista Fonseca (02.05. 2016)
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