terça-feira, 6 de setembro de 2016

Fundos de Pensão devem bater meta neste ano


Os fundos de pensão devem registrar em 2016 um desempenho positivo que não tinham há tempos. Desde 2013 sem conseguir superar nem a rentabilidade do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), as fundações caminham para bater a meta atuarial neste ano. O desempenho acontece em um ano em que alguns dos principais fundos de pensão do país - Petros, Previ, Funcef e Postalis - são alvo da Operação Greenfield da Polícia Federal, que apura investimentos deficitários. As quatro fundações dizem estar colaborando com o trabalho das autoridades.
 

Levantamento da consultoria Mercer mostra que os fundos de pensão fecharam julho com uma rentabilidade acumulada de 7,8% no ano, percentual levemente acima da meta atuarial de 7,6% para o período. Os números contêm uma amostra de 60 entidades. "Este vai ser um ano mais tranquilo para os fundos de pensão se alinharem à meta", diz Raphael Santoro, chefe de investimentos da Mercer.  

Mesmo com a inflação ainda em patamar elevado neste ano, até agora não faltaram contribuições para os fundos de pensão registrarem bons resultados, como a recuperação das ações de empresas na bolsa de valores e também um estoque de títulos públicos com remuneração alta.  "A expectativa da Funcef é fechar 2016 com um retorno um pouco acima da meta atuarial. É o ano da reversão para todos os planos, depois de três anos com retorno abaixo da meta", diz Maurício Marcelini Pereira, diretor de investimentos da Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal.

 Com R$ 57,2 bilhões sob gestão em quatro planos, a Funcef tem entre 54,7% e 69% alocados em renda fixa, principalmente títulos públicos atrelados à inflação. Em renda variável, a participação vai de 17,8% a 23,7%.  Para os fundos que fazem a marcação a mercado de seus ativos, os ganhos ainda se tornaram mais representativos com a perspectiva da queda de taxa de juros. 

"Os novos títulos estão sendo oferecidos a taxas mais baixas, o que fez o preço dos mais rentáveis subir", afirma Jorge Simino, diretor de investimentos da Funcesp, que reúne diversas empresas privadas.  Até julho, o retorno acumulado no ano da Funcesp estava em 16,31%, comparado a uma meta de 10%. Até dezembro, Simino diz acreditar que a diferença se reduzirá porque o preço dos ativos já subiu bastante. "Como eles já avançaram muito, não é de se esperar que continuem a se valorizar", diz. Mesmo assim, a perspectiva é que a fundação tenha uma rentabilidade acima do alvo em 2016.  

O Postalis, dos empregados dos Correios, tem planos com desempenhos diferentes. O fundo de benefício definido tem perda de 1,72% de janeiro a julho deste ano, mas o de contribuição variável ultrapassou o alvo de 7,87%, com 8,25%. Para equacionar seu déficit, precisará de contribuições adicionais de empregados e aposentados dos Correios até 2039.  Para André Motta, presidente do Postalis, a situação do fundo de benefício definido poderia estar pior se a fundação não tivesse optado por concentrar seus investimentos mais em renda fixa. "É um momento péssimo para o país, mas é bom para os fundos de pensão", diz André Motta, presidente do Postalis, em entrevista concedida antes da Operação Greenfield, deflagrada pela Polícia Federal nesta segunda-feira.  

Segundo Santoro, da Mercer, as fundações poderiam ter registrado rentabilidade mais elevada caso tivessem uma parcela maior do portfólio alocada em renda variável. Isso porque, no acumulado do ano até ontem, o Ibovespa registrava alta de 37,41%, enquanto o IMA-B, índice que replica a rentabilidade dos títulos públicos atrelados à inflação, subiu 20,73%.  Quem prevê que a bolsa de valores manterá a trajetória de alta vai buscar aumentar a participação da renda variável na carteira. É o caso da Valia, dos empregados da Vale, que prevê alocar no médio prazo até 8% dos investimentos em ações, contra os atuais 5%. "Vamos aumentar um pouco porque achamos que no médio prazo a bolsa é uma boa alocação", afirma Maurício Wanderley, diretor de investimentos e finanças da Valia.

 Na Previ - dos funcionários do Banco do Brasil - o bom desempenho da renda variável também beneficiou a fundação. No Plano 1, o maior da Previ, a alta de ações como Petrobras, Banco do Brasil e CPFL Energia gerou mais de R$ 5,8 bilhões à carteira de ações. Cerca de 46% do patrimônio do fundo, de R$ 160 bilhões, é composto por renda variável. Já no Plano 2, que gere atualmente R$ 8,5 bilhões, as aplicações em bolsa representam cerca de 28% do total. Nele, a rentabilidade do ano até julho foi de 16,86%, ante meta atuarial de 8,82%, segundo o presidente da Previ, Gueitiro Genso. "Nós estamos sentindo o reflexo da confiança dos investidores. A gente está otimista, até porque os ativos brasileiros estão baratos", afirma.  No Plano 1, diz Genso, a Previ avalia a possibilidade de venda de sua fatia na CPFL, na esteira da venda da participação da Camargo Corrêa para a State Grid, que precisa estender a mesma oferta aos demais acionistas - Previ e Bonaire. "A gente avalia sempre as oportunidades desta venda em relação ao benefício do associado, mas não temos uma decisão ainda", afirma.  

A melhora nos resultados pode contribuir para uma redução do déficit acumulado pelas fundações, que chegou a R$ 71,7 bilhões em abril, de acordo com os dados mais recentes da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). O valor já representa uma melhora frente ao resultado negativo de R$ 76,7 bilhões que havia sido registrado em dezembro. "Esse resultado negativo é causado pela conjuntura dos últimos três ou quatro anos", diz o presidente da associação, José Ribeiro. A expectativa é que a tendência de melhora do cenário político e econômico, aliada aos planos de equacionamento, contribua para a recuperação nos resultados.  

Na Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, a expectativa é de melhora no déficit - que foi de R$ 22,6 bilhões no ano passado - em caso de manutenção do cenário positivo para os investimentos.  Segundo o fundo, no primeiro semestre de 2016, o Plano Petros do Sistema Petrobras (PPSP), no qual está concentrado o déficit, teve rentabilidade de 8,24%, frente à meta atuarial de 7,35%. O desempenho foi impulsionado pela renda fixa, que teve valorização de 17,75% no período. Já os títulos públicos marcados a mercado ganharam 21,65% no ano até junho. Hoje, as aplicações em bolsa representam 28% da carteira da Petros, enquanto a renda fixa representa cerca de 55%. Essa estratégia colaborou para o resultado global da Petros, que teve rentabilidade de 12,20% de janeiro a julho, ante meta atuarial do período de 8,41%.

Fonte: Valor (06/09/2016)

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