quarta-feira, 21 de setembro de 2016

TIC: América Móvil (Claro, Net e Embratel) tem interesse na Oi


O grupo mexicano América Móvil, dono da Claro, Net e Embratel no Brasil, tem interesse em comprar a Oi, seja como um negócio total ou em partes.

A transação vai depender dos detalhes que a Oi informará para a venda de seus ativos, do que a regulamentação brasileira vai permitir e do preço, disse ontem ao Valor, Daniel Hajj, CEO da América Móvil. Ele afirmou que tem interesse em todas as áreas da Oi - infraestrutura de telefonia fixa e banda larga, serviços móveis etc.
 
Hajj disse que está acompanhando o processo de recuperação judicial da Oi, mas que ainda não está claro o que realmente está à venda, se é o negócio completo ou partes dele. "Estamos abertos a ver tudo", afirmou. Com uma dívida total de mais de R$ 65 bilhões, a Oi entrou em junho com pedido de recuperação judicial - a maior da história do Brasil.  
"Estou muito interessado em participar da consolidação no Brasil, mas não sei como será feita", acrescentou o executivo, que participou ontem do evento de serviços móveis GSMA Mobile 360 Series, na Cidade do México. "A consolidação será muito boa para o Brasil e para o mercado."  
Mas, para que esse processo ocorra, além de a Oi estabelecer suas condições, os órgãos regulares e antitruste brasileiros precisam dar o aval. A legislação do setor de telecomunicações também deve ser alterada, tanto em relação ao regime de licença, de concessão para autorização, quanto ao limite de frequência que cada empresa pode ter (ver a análise Concentração de mercado pode ser entrave à aquisição).  

Ao falar dos movimentos de consolidação na América Latina, Hajj diz que a fusão de empresas é necessária para gerar escala, na infraestrutura e nas tecnologias que sustentam as operações. Lembra que há alguns anos os clientes tinham vários fornecedores, mas hoje apenas um oferece todos os serviços. Os padrões de consumo mudaram - a demanda de dados triplica a cada 12 meses; e o 'streaming' de vídeo começa a se popularizar, diz. Ele garantiu que a rede que a América Móvil construiu vai suportar o aumento do tráfego nos próximos anos.  
Na Argentina, por exemplo, o governo está para decidir se vai autorizar a Nextel a oferecer serviços móveis. A subsidiária argentina da NII Holdings foi comprada em janeiro pela maior operadora de TV a cabo do país, a Cablevisión, que pertence ao Clarín. Esse grupo de mídia há anos alimentava a ambição de entrar no setor de telecomunicações. Surgiu a oportunidade por meio da Nextel.  
Se for permitida a atuação da Nextel na Argentina, a América Móvil, bem como a Telefónica e a Telecom Argentina enfrentarão um novo competidor.  
O governo argentino vê essa possibilidade com simpatia. A inflação no país já passou de 40% neste ano. Os preços cresceram em média 0,2% em agosto, em relação a julho, mas em telecomunicações a alta foi de 3,3%. Com a Telefónica e América Móvil com patamares de participação de mercado praticamente semelhantes, a entrada de mais uma empresa poderá aquecer a competição. Para o governo, isso pressionará as teles para que ofereçam mais serviços, com qualidade, e preços menores. 

No Brasil, poderá ocorrer um movimento contrário, de concentração de mercado, se a Oi for vendida. Há quatro grandes teles nacionais - Claro, Vivo, TIM e Oi - e uma empresa menor, a Nextel, que passa por reestruturação e também poderá ser vendida. O futuro da TIM está indefinido, mas já esteve bastante ligado ao destino da Oi, em uma possível fusão. Falta de recursos para a controladora Telecom Italia fazer uma aquisição e a elevada dívida da Oi, somada a uma governança corporativa sem clareza, afastaram investidores do processo, como o grupo russo LetterOne. Por enquanto, o jogo da consolidação favorece, pelo lado financeiro, mexicanos e espanhóis. A América Móvil e a Vivo, marca da Telefônica Brasil, têm condições de dar as cartas. Isso, para falar apenas de quem já está no mercado.  
O grupo América Móvil tinha mais de 64 milhões de acessos de celular no Brasil no segundo trimestre do ano, uma queda de 9,7% em relação a igual período de 2015. Ao todo na América Latina são mais de 310 milhões de acessos. A receita total atingiu US$ 12,34 bilhões no período.  
Já a espanhola Telefónica tem cerca de 342 milhões de acessos na região, dos quais 272 milhões são celulares. A receita do grupo atingiu € 12,7 bilhões no segundo trimestre, dos quais € 2,6 bilhões foram gerados no Brasil pela Vivo. 

A América Móvil vem se preparando para uma maior competição na região. No México, as empresas do bilionário Carlos Slim, há muitos anos dominante, estão tendo que ceder ao órgão regulador para poder atuar em telecomunicações e TV paga. O grupo vem investindo em sua plataforma tecnológica há cinco anos, integrando os serviços fixos [TV paga, voz e banda larga] e móveis.  
Hajj diz que a inclusão digital tornou-se uma necessidade para o desenvolvimento de vários países. A próxima etapa, em desenvolvimento, é a tecnologia para 5G, que deverá estar disponível para os consumidores entre 2018 e 2020.
  
Para Hajj, terão êxito na disputa os operadores que adotam de maneira oportuna as novas tecnologias, que tenham maior velocidade e qualidade. Segundo ele, o processo de inclusão digital é necessário para o desenvolvimento sócio-econômico de todos os países. Para comparar, citou que os primeiros smartphones, em 2007, só ofereciam praticamente e-mail. Hoje, com imensa gama de aplicativos, os aparelhos são cem vezes mais rápidos que há nove anos.  
O próximo passo será a voz sobre LTE, a tecnologia de 4G, e sobre Wi-Fi, permitindo novos serviços de voz em alta definição. Na área de TV, o modelo linear deverá adota cada vez mais o modelo de vídeo sob demanda e download de vídeos pela internet nos aparelhos móveis. Esses conteúdo já representam mais de 50% do tráfego móvel da empresa, disse Hajj.

Fonte: Valor (21/09/2016)


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