sexta-feira, 13 de julho de 2018

Fundos de Pensão: Como o risco Brasil afetou a rentabilidade de fundos de pensão no 2o. semestre deste ano


Na sequência dos bons resultados dos dois anos anteriores, 2018 começou de forma favorável para os fundos de pensão do país, com o mês de janeiro apresentando uma valorização surpreendente do mercado acionário e, ao mesmo tempo, um fechamento das taxas de juro de médio e de longo prazo, que impulsionou a rentabilidade dos títulos de renda fixa de maior duração.

O cenário interno no início do ano era promissor, sustentado por uma inflação abaixo da esperada e pelas boas perspectivas para o crescimento econômico. Nesse contexto, a taxa de juro se mantinha nas mínimas históricas e os fundos de pensão passaram a considerar o aumento da alocação estratégica em ativos mais arriscados com o objetivo de compensar a queda de rentabilidade da renda fixa.

Se o cenário interno era positivo, o mesmo não se podia concluir do mercado financeiro internacional na medida em que a aversão ao risco se elevava. Mantendo a tradição, os países emergentes foram os primeiros a sentir a mudança e, gradualmente, o risco soberano foi subindo – Argentina e Turquia logo se mostraram vulneráveis.

O risco Brasil também aumentava, porém em ritmo mais moderado, e isso fez com que os ativos brasileiros fossem menos atingidos no primeiro quadrimestre. Em decorrência, os títulos de renda fixa e, principalmente, os de renda variável sustentaram a boa rentabilidade dos fundos de pensão e possibilitaram que as taxas de juros atuariais, um importante parâmetro para o resultado dos planos de previdência complementar, fossem superadas com relativa folga até abril.

O mês de maio, contudo, marcou a reversão do bom momento do país e a aceleração do risco Brasil no semestre. O risco soberano medido pelo CDS (Credit Default Swap) teve elevação generalizada. Enquanto o CDS médio dos países emergentes saltou de 119 pontos no final de dezembro para 191 pontos no final de junho (alta de 61% no semestre), o CDS do Brasil subiu de 162 pontos para 270 pontos (alta de 67%) nessa comparação.

A paralização dos caminhoneiros na segunda quinzena de maio pode ser considerada como o evento que iniciou a disparada do risco Brasil, cujos impactos comprometeram a rentabilidade dos fundos de pensão a partir de então. Em menos de 45 dias, o mercado acionário caiu 15% e passou a apresentar um retorno negativo no ano, enquanto as taxas de rendimento dos títulos de renda fixa de maior duração subiram, prejudicando a rentabilidade dos títulos públicos – a NTN-B 2023 (Nota do Tesouro Nacional com vencimento em 2023), por exemplo, apresentou uma inesperada rentabilidade negativa de 2% no período.

Além do revés na rentabilidade dos principais segmentos verificado a partir de maio, houve a contribuição negativa da inflação de junho, bem mais alta do que a prevista no começo do ano. Como a inflação é um dos componentes da taxa de juro atuarial, o repique de preços em junho acabou fazendo com que atingisse, em média, 5,1% no semestre, superando a rentabilidade média líquida do patrimônio dos planos de benefício definido, estimada em 3,9%, e dos planos de contribuição definida, estimada em 2,3% no semestre.

O contratempo da primeira metade do ano de forma alguma modifica os bons resultados recentes dos fundos de pensão. Contudo, mais uma vez mostra o quanto o cenário global é relevante para o desempenho dos ativos marcados a mercado que oscilam com liberdade e o quanto é importante para a rentabilidade dos investimentos.

É instigante observar como a globalização dos mercados pode interferir nas perspectivas para o valor econômico dos benefícios de aposentadoria complementar no país, seja para cima, seja para baixo, talvez com peso maior do que o das variáveis internas, o que nos leva sempre a refletir se tem sido adequadamente ponderada na gestão estratégica de investimentos.

Fonte: Valor e Jair Ribeiro - Eletros (13/07/2018)

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