terça-feira, 6 de novembro de 2018

Fundos de pensão planejam elevar exposição a ativos de risco em 2019


Com a definição do cenário eleitoral, os fundos de pensão começam a desenhar as estratégias de investimento para 2019. A busca por risco deve se intensificar, com aumento da alocação em ações e fundos multimercados, até por conta do desempenho abaixo do esperado ao longo deste ano.

“Estava todo mundo em compasso de espera e a sensação é que será necessário tomar mais risco em 2019”, diz Guilherme Benites, sócio da consultoria Aditus. Ele estima que a alocação em renda variável, que corresponde hoje a cerca de 6% das aplicações da amostra de fundos de pensão acompanhada pela consultoria, pode subir para algo entre 8% e 10% em 2019. Já para os multimercados — hoje 4% dos investimentos —, a estimativa é que dobrem de tamanho.

Levantamento da Aditus com 113 fundações que administram R$ 188 bilhões mostra que, no ano até setembro, a rentabilidade média foi de 5,19%, quase dois pontos abaixo do objetivo, de 7,11%. Do universo analisado, 101 planos são de benefício definido, sendo que 73% não superaram as metas em 2018. Até setembro, a renda fixa — que representa quase 90% dos investimentos — rendeu 5,58%, atrás apenas dos investimentos no exterior, com valorização de 15,74%, mas que não chegam a 1% das aplicações. A renda variável gerou um retorno de 0,26% e os investimentos estruturados, 3,8%.

O desempenho melhor dos mercados em outubro, com valorização da bolsa e dos investimentos de renda fixa, pode contribuir para reverter esse cenário mais fraco, estima a consultoria.

Foi o que aconteceu na Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras com mais de R$ 80 bilhões. Os números de outubro ajudaram o desempenho do PPSP, o plano de benefício definido que concentra o maior patrimônio e os principais investimentos da fundação, a ficar “bem próximo” de seu objetivo, afirma o presidente Daniel Lima, sem dar mais detalhes. No PP-2, plano de contribuição definida, a meta “foi superada com alguma folga”. Na prévia do ano até setembro, a rentabilidade da Petros estava em 1,99% no PPSP, ante meta de 7,73%. Já no PP-2, os ganhos somavam 7,34%, pouco abaixo do objetivo de 7,5%.

Segundo Lima, no período pré-eleitoral a Petros aproveitou-se da volatilidade dos mercados para alongar o perfil dos títulos públicos da fundação e negociou cerca de R$ 10 bilhões. “Devemos ter vendido mais ou menos R$ 4 bilhões e comprado pouco mais de R$ 6 bilhões”, afirma. Desde o início do ano, a Petros já esperava um cenário de maior volatilidade por conta das eleições e propício a essa estratégia. A fundação também aumentou a participação em crédito privado, que ainda é pequena em relação ao patrimônio bilionário.

Na renda variável, a movimentação ocorreu no PP-2, plano que concentra a carteira atualizada a valor de mercado. Com a alta da bolsa, a Petros vendeu algumas ações, cerca de 2% de seus papéis. “Realizamos algum ganho e agora vamos esperar um pouco. Estamos no momento de escrever a nova política de investimentos”, diz Lima. Para o ano que vem, a Petros deve olhar para os investimentos no exterior. Até o fim do ano, a fundação deve submeter ao crivo do comitê de governança os processos criados para realizar aplicações fora e, em 2019, deve abrir um processo de seleção de gestores.

A Previ, fundação dos funcionários do Banco do Brasil com patrimônio de R$ 186 bilhões, também aproveitou a volatilidade recente dos mercados e comprou cerca de R$ 3 bilhões em títulos públicos, com vencimentos entre 2035 e 2050. Além disso, realizou R$ 1,5 bilhão em vendas de ações de empresas em que possui participação mais robusta. “Aguardamos agora uma definição dos quadros no próximo governo para definir os investimentos”, diz o diretor de investimentos da fundação, Marcus Moreira, referindo-se à aplicação dos recursos levantados com a venda de ações.

Entre as alternativas, a Previ analisa aplicar o montante em títulos públicos ou títulos de dívida, se houver uma retomada deste segmento. Em setembro, a nova metodologia para contabilizar a participação da fundação teve impacto positivo de mais de R$ 12 bilhões para o Plano 1, de benefício definido, e levou a um superávit de R$ 6,611 bilhões em 2018 até setembro. Até agosto, a fundação acumulava déficit de R$ 9,9 bilhões. O plano tem investimentos de mais de R$ 170 bilhões, é o maior e mais maduro da Previ e concentra as principais participações em empresas.

O Infraprev, fundação dos funcionários dos aeroportos e que tem a Infraero como principal patrocinadora, aguardava os resultados das eleições para discutir as estratégias para 2019. “Sabemos que é insustentável manter a carteira de renda fixa para a estrutura de plano que temos. Onde vamos aumentar dependerá de como o mercado vai reagir [daqui para frente]”, afirma a diretora de administração e finanças, Juliana Koehler.

O Infraprev, que tem hoje investimentos superiores a R$ 3 bilhões e cerca de 14 mil participantes, acumulou rentabilidade de 8,59% em 12 meses até julho no seu principal plano, de contribuição variável. Com um CDI de 7,08% no período, o retorno correspondeu a 121% do referencial.

A princípio, o objetivo do fundo é aumentar, principalmente, a exposição em renda variável. No passado, a fatia no segmento já chegou a 30%, mas foi reduzida para os atuais 10%. O entendimento é que não é necessário tomar o mesmo risco, e uma participação de 15% seria o desejável, de acordo com a diretora-superintendente da fundação, Claudia Avidos Pereira. “A ideia é fazer uma alocação mista de ações na carteira própria e em fundos terceirizados. Provavelmente vamos aumentar nas duas pontas”, diz.

As entidades aguardam ainda a edição de uma instrução da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) que vai normatizar a política de investimentos depois da resolução 4.661, do Comitê Monetário Nacional (CMN), que mudou as regras de aplicações do setor. A resolução 3.791, que em maio foi substituída pela 4.661, determinava sete itens mínimos que deveriam ser adotados pela política de investimentos. Agora, são 16, obrigando a estratégia a ser mais densa.

“A política ficou mais processual, em geral as entidades já tinham de alguma forma se preparado para ter certos documentos internamente, já que vêm numa melhora do processo de governança corporativa. Agora é preciso ver o que será enquadrado na instrução”, afirma Benites, da Aditus.

Fonte: Valor (05/11/2018)

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