quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

TIC: Teles, depois de receberem superávit da Sistel mesmo sem contribuírem, reforçam agora competição com bancos



Com produtos financeiros como empréstimos e seguros, operadoras miram 185 milhões de usuários


As operadoras de telecomunicações voltaram a atacar o mercado de serviços financeiros, como empréstimos e seguros, competindo com os bancos. Telefônica Brasil, dona da Vivo; Claro, TIM Brasil e Algar Telecom têm na mira uma base de 184,93 milhões de clientes que poderão lhes ajudar a acelerar os avanços da receita e da margem de lucro.  

Mudanças nas regulamentações feitas pelo Banco Central (BC), que permitiram a entrada de novos competidores, e o uso de smartphones por 80% da população brasileira incentivaram as operadoras a estruturar os planos de atuação para competir na área financeira. 

Anos atrás, as quatro maiores operadoras do país criaram serviços de meios de pagamento batizados de Meu Dinheiro Claro, Oi Paggo, TIM Multibank Caixa e Zuum - joint venture entre o Grupo Telefónica e a MasterCard Worldwide. Contudo, os serviços de transferência de valores e pagamento para clientes sem conta em banco não vingaram.  

Na Oi, a decisão de encerrar a operação ocorreu em 2010. A Claro suspendeu o serviço em 2014, a TIM e a Telefônica em 2018. Rodrigo Gruner, diretor de serviços digitais e inovação da Vivo, atribuiu o fim do negócio à reorganização das estratégias no setor.   

Mas as teles não se renderam, recuaram apenas para rever a estratégia para o serviço. A Telefônica oferece desde agosto de 2019 um crédito pessoal de R$ 1 mil a R$ 30 mil para parte dos 42,3 milhões de clientes de planos controle e pós-pago. O projeto com o banco Digio, controlado por Bradesco e Banco do Brasil, está em fase de teste, mas a intenção é estendê-lo aos 31,53 milhões de clientes do pré-pago.  

Gruner não revela quantos usuários já contrataram o serviço, mas contou que a escolha dos consumidores neste momento é aleatória. O juro varia de 6% e 7% ao mês. A tele recebe uma comissão por cada contrato fechado.  

Há tempos a Telefônica buscava encontrar sinergias entre seus clientes, especialmente no pós-pago, que representa a maior parte da base, e os serviços financeiros. A contribuição será direta na receita líquida e no lucro e há uma expectativa de que fidelize os clientes.  

“Não pretendemos ser banco, mas avaliamos oferecer diversos serviços financeiros mais para frente”, disse Gruner. O plano futuro é expandir a atuação para os clientes de banda larga e TV paga. A Vivo já tem parceria em cartão “cobranded” (leva sua marca e a de um banco) com Santander e Itaú.  

A rival Claro, com 56,45 milhões de assinantes, faz empréstimos desde novembro de 2019 para parte dos 26,24 milhões de clientes pós-pagos. Os valores - de R$ 1,5 mil a R$ 30 mil, divididos em até 36 vezes - são concedidos pelo Banco Inbursa, que pertence ao bilionário Carlos Slim, dono da América Móvil, que controla a Claro.  

Nesse caso, a taxa de juros é a partir de 2,85% ao mês, conforme o histórico de pagamento das faturas pelo cliente. O processo de contratação é digital. A modalidade já funciona há cinco anos no México, onde a América Móvil atua com a marca Telcel no serviço móvel.   

Mesmo tendo iniciado a operação no segmento de maior valor, a Claro vê potencial relevante na oferta de serviços para os clientes que fazem recargas no celular. “Uma parcela da população é desbancarizada. Parte só tem o cartão do Bolsa Família e usa uma vez por mês no saque do benefício. Será um mercado que vai mudar muito nos próximos anos”, afirmou Mauricio Santos, diretor de soluções e produtos financeiros da Claro.  

O primeiro serviço financeiro vendido pela Claro foi em fevereiro de 2018, um seguro para celular. Três meses depois, deu ao cliente do pré-pago a opção de antecipar a recarga com um crédito de R$ 5. Quem usava pagava uma taxa de conveniência de R$ 2. Em 2019, foi iniciado um teste com os bons pagadores, que vão receber crédito de R$ 10.  

“Vemos potencial para diferentes áreas como seguros, meios de pagamentos, educação financeira, criptomoedas e bancos digitais”, afirmou Santos.  

Pietro Labriola, diretor-presidente da TIM, tem a ambição de transformar o pré-pago em um cartão de débito. “Temos 400 milhões de recargas por mês feitas por nossos clientes. Podemos oferecer serviço de microempréstimos e microsseguro para a população desbancarizada”, disse o executivo em dezembro. O plano para a área será apresentado em março.  

A TIM já faz empréstimo de crédito pré-pago de R$ 5 e R$ 10 aos clientes cujos créditos para uso dos serviços de voz e dados tenham acabado. Ao fazer uma nova recarga, a operadora cobra o valor adiantado mais uma taxa.  

A subsidiária da Telecom Italia começou a olhar para os serviços financeiros há seis meses, como uma oportunidade de elevar a receita. Renato Ciuchini, diretor de estratégia e transformação digital, disse que a inciativa não faz parte do negócio principal, mas integra a estratégia de transformação e inovação.  

Ciuchini, que há três meses respondia pelo marketing, afirmou que a empresa está atenta ao marco regulatório de serviços financeiros do Banco Central, ao pagamento instantâneo e às regras de Open Banking - conjunto de regras para organizar o compartilhamento de dados e serviços do sistema financeiro por meio de abertura e integração das informações.  

“Não vamos nos restringir ao pré-pago. Olhamos toda a parte dos serviços e ecossistema de pagamentos. A expectativa é que os frutos dessas iniciativas comecem a ser colhidos a partir de 2021 e 2022”, afirmou o diretor.  

Dados do Banco Central mostram que as receitas com prestação de serviços e intermediação financeira feitas por Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander somaram R$ 730 bilhões em 2018. Entre janeiro e setembro de 2019, a cifra alcançou R$ 596,54 bilhões.  

A estratégia de priorizar os consumidores do pré-pago com esses serviços é considerada positiva por Daniel Federle, analista do Credit Suisse. “[Normalmente] são clientes com renda menor e chance de ter uma relação frágil com os bancos”, disse ele ao Valor. “É um caminho bom porque as operadoras são fortes e passam confiança.”  

No futuro, as redes de lojas das operadoras e os pontos de recarga para os celulares pré-pagos, como bancas de jornais, supermercados e drogarias, poderão ser usados, por exemplo, para sacar dinheiro.  

Federle acrescentou que a proporção de celulares por habitante no país é alta e, por isso, a estratégia de crédito e microcrédito pode dar certo. “As operadoras terão uma curva de aprendizado por meio das parcerias com bancos ou fintechs [startups do setor financeiro]. O pré-pago é mais fácil de explorar devido ao perfil do cliente, que não está acostumado a receber oferta de crédito e serviços financeiros”, afirmou o analista.  

A mineira Algar Telecom, cujo foco são as pequenas e médias empresas, iniciou a oferta de serviços de gestão financeira e fiscal em fevereiro do ano passado. Zaima Milazzo, diretora do Brain, centro de inovação fundado pela operadora, disse que o desenvolvimento destes serviços começou no segundo semestre de 2018, após identificar que estes eram os principais problemas dos 120,9 mil clientes que compram serviços de dados e voz.   

Segundo Zaima, a oferta de serviços financeiros ajuda a Algar a se aproximar mais das empresas que atende, além de oferecer produtos com maior valor.  

Em 2019, a Algar e a Linx se uniram para criar um pacote com serviços financeiros com foco em meios de pagamentos. “Estamos idealizando entrar no modelo de adquirência (sic) com um sistema totalmente digital que vai abranger outras funcionalidades na área de gestão para empresas”, disse Zaima.

Fonte: Valor (13/01/2020)

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