quarta-feira, 25 de março de 2020

Comportamento: Flexibilizar isolamento depende de testes para coronavírus em todos suspeitos, diz economista do Banco Mundial



Cenário fica mais complexo quando a transmissão do vírus torna-se comunitária, isto é, quando a doença já circula dentro do país e quando não há testes para suspeitos da doença

A decisão de suspender ou aliviar a política de isolamento para conter o novo coronavírus depende diretamente da quantidade de testes para detecção da doença, opina André Medici, economista sênior do Banco Mundial, especializado em saúde pública. Sem informações precisas sobre os grupos ou localidades com maior crescimento de casos, ele defende que é prematuro flexibilizar as medidas de “lockdown”.

“Pode ser que algumas atividades não precisem ser totalmente paralisadas, mas para isso é preciso mapear em larga escala a população contaminada ou com suspeita de contaminação. Se conseguirmos fazer um ‘roteiro dos casos’ é mais fácil adotar estratégias pontuais para não desacelerar a atividade de outras pessoas não envolvidas nesse processo”, afirmou o economista hoje durante seminário online da Fundação Fernando Henrique Cardoso.

O cenário fica mais complexo quando a transmissão do vírus torna-se comunitária, isto é, quando a doença já circula dentro do país e não é possível atribuir a sua transmissão a algum paciente que esteve no exterior. “O ‘lockdown’ é a resposta mais eficiente nessa situação e países como o Brasil que adotaram uma paralisação prévia [antes do aumento de casos] têm conseguido resultados melhores”, afirma Medici.

Apesar de elogiar as medidas preventivas adotadas pela União, Estados e municípios, o economista lembra que as políticas públicas brasileiras têm alguns limites. “O problema por aqui é a implementação, que é difícil porque não temos uma máquina totalmente azeitada para fazer isso num país extremamente desigual”, afirma.

Além disso, o Brasil ainda possui baixo nível de testagem em proporção à sua população mesmo com as iniciativas recentes do governo federal para aumentar o número de exames disponíveis. O país não chegou a testar nem 3 mil pacientes, embora caiba a ressalva que a informação mais atualizada, organizada pela plataforma Our World Data, seja de 13 de março.

A Coreia do Sul, um dos países mais eficientes na contenção do vírus, já realizou 316,6 mil testes para doença até o dia 20 de março. É praticamente o dobro do que realizou a segunda colocada, a Alemanha, com 167 mil exames - embora, no último caso, os dados sejam só até 15 de março.

O debate sobre as medidas de isolamento tem ganhado força nos último dias, com governantes e economistas discutindo se os efeitos da paralisação geral das atividades serão mais nocivos à economia do que a pandemia em si. Hoje, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse esperar que o país volte à normalidade já na Páscoa.

O economista esclarece que os níveis de letalidade da doença aumentam conforme o sistema de saúde de país se aproxime do esgotamento. “Existe um determinado limite dos sistemas de saúde [de todo o mundo] para atender as internações, por isso tem de achatar a curva de infecção”, afirma. Isso explica porque na Itália a proporção de mortos com mais de 80 anos é bastante superior à da Coreia do Sul — 20,2% contra 9,3%.

Fonte: Valor Investe (24/03/2020)

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