sexta-feira, 1 de maio de 2020

Fundos de Pensão: Atentos à evolução da crise global e aguardando medidas do CNPC, os fundos de pensão realizam compras pontuais de NTNs e ações em bolsa



Enquanto aguardam o anúncio de medidas de caráter emergencial pelo Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) para o enfrentamento da crise global dos mercados causada pela pandemia da Covid-19, os fundos de pensão vão se virando como podem.
As carteiras de investimento, que em meio a um processo de maior exposição ao risco sofreram grandes perdas com o mergulho das bolsas de valores em março, tentam alguma recuperação com títulos públicos no mercado secundário, ampliação de empréstimos a participantes (ver reportagem nesta edição) e compras de ações aproveitando as cotações baixas. São movimentos, contudo, ainda extremamente cautelosos.

“Não há muita convicção em relação à renda variável. Mesmo as fundações que estão na ponta compradora do mercado estão realizando alocações tímidas, sem elevar a participação aos níveis do fim do ano passado”, comenta Guilherme Benites, sócio da consultoria Aditus. “Além disso, estão muito centradas em fundos passivos e de ETFs, de forma a reduzir riscos”. Segundo o consultor, essa postura mais conservadora é ditada, entre outros fatores, por uma preocupação com a liquidez do sistema, “por causa da proposta de interrupção temporária das contribuições de patrocinadores e participantes em análise no CNPC.”

A Funpresp-Exe, fundo de pensão dos servidores públicos ligados ao Executivo e ao Legislativo federais, é uma que sofreu reduzidas perdas com a queda da B3, que caiu 31,70% até 17 de abril. Criada em 2013, a entidade tem apenas 6% da sua carteira de R$ 2,6 bilhões aplicados em fundos de ações, com 93% aplicados em títulos públicos. Além disso, o seu caixa conta com um forte fluxo positivo, já que paga benefícios para apenas 118 assistidos e recebe contribuições de cerca de 95,4 mil participantes ativos. “A arrecadação soma cerca de R$ 90 milhões por mês”, informa o diretor-presidente Ricardo Pena.

Com munição de sobra, a fundação aproveitou a crise para sacar recursos aplicados em fundos referenciados DI e sair à caça de bons negócios. As operações de maior vulto foram a compra de R$ 240 milhões de Notas do Tesouro Nacional (NTNs) com taxas anuais ao redor de 5% – pouco menos de um ponto percentual acima do índice de referência de rentabilidade dos planos ExecPrev e LegisPrev, de contribuições definidas (CDs) – e vencimentos entre 2050 e 2055. “Seguimos à procura de novas oportunidades na área, pois é certo que, depois de superada a crise, as taxas das NTNs voltarão a fechar”, assinala Pena.

Além da renda fixa, a entidade também aportou R$ 40 milhões em dois fundos abertos de ações atrelados ao índice IBX 100, e injetou mais R$ 43 milhões em outros dois fundos de ações no exterior, segmento no qual realizou a sua estreia recentemente. “Os fundos contemplados foram escolhidos por meio de uma licitação realizada no fim do ano passao para a implantação dos nossos perfis de investimento, que iniciaram as operações em 1º de janeiro”, diz o Pena.

A ampliação da diversificação, que previa alocações em fundos imobiliários (FIIs) e fundos de crédito privado, foi temporariamente adiada, à espera de melhorias nos quadros sanitário e econômico. No primeiro trimestre do ano, a carteira da Funpresp-Exe sofreu perdas de 3,8%, mas os indicadores de abril, segundo Pena, indicam alguma recuperação. “Estamos trabalhando em um cenário de muita incerteza, no qual as métricas de risco perdem toda a eficácia”, observa o diretor-presidente.

Na Valia, o fundo de pensão do grupo Vale, a crise do novo coronavírus não trouxe grandes impactos. Isto em razão da forte posição da entidade em renda fixa, correspondente a 77,79% dos seus recursos garantidores, que somavam R$ 24,7 bilhões em fevereiro, cabendo à renda variável uma fatia de 8,44%. O plano BD, com ativos de R$ 11,48 milhões e apenas 4% do seu volume alocado em renda variável, apresentava rentabilidade acumulada de 0,28% em 7 de abril.
“A maior parte da carteira do BD se concentra em títulos públicos indexados, que garantem retornos superiores à meta atuarial”, comenta o diretor de investimentos Maurício Wanderley. “O plano já chegou a contar com 35% em ações, mas, como começou a gerar superávits seguidos, decidimos reduzir a presença da renda variável em seu portfólio de forma substancial.”
A situação não é tão cômoda nos planos de contribuição variável (CVs) da fundação, em particular no Vale Mais, com ativos da ordem de R$ 10,41 bilhões, e no Valeprev, com recursos de R$ 943,76 milhões. Como a dupla dispõe de fatias maiores de renda variável, tanto doméstica quanto internacional (por conta dos perfis de investimentos), acumulava recuos de até 4,53% em meados de abril. “As perdas foram sensivelmente menores no mercado externo, que ainda permitiu a captura de ganhos com a desvalorização do real”, diz Wanderley.

Segundo o executivo, a atividade econômica só tende a apresentar sinais de retomada, na melhor das hipóteses, no terceiro trimestre. Até que isso ocorra, a Valia seguirá com a estratégia adotada nas últimas semanas, que contempla aquisições de NTNs com taxas acima das metas atuariais e recomposições regulares das parcelas de ações dos perfis de investimentos. “É perigoso manter baixa exposição ao risco em momentos turbulentos como este”, observa Wanderley. “Quem for muito conservador vai perder chances de obter ganhos quando o mercado reaquecer.”

Patrocinada por estatais de energia paranaenses, a Fundação Copel também aproveitou a abertura momentânea das taxas de juros dos títulos públicos para reforçar suas posições em renda fixa, comprando cerca de R$ 50 milhões em NTNs com vencimentos em 2050 e 2055. Esses papéis, que oferecem ganhos de 5% ao ano além da variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), possibilitaram o alongamento da duration de uma parte da carteira do Plano Unificado, de benefício definido.
Os passos seguinte serão dados nos pregões da B3. A fundação prevê a aquisição, em etapas, de até R$ 300 milhões em ações para recompor a carteira, que contabilizava cerca de R$ 1 bilhão antes da crise, o equivalente a 9% dos recursos garantidores. “Há várias papéis com cotações abaixo do valor patrimonial, como Petrobras e algumas instituições financeiras”, comenta o diretor de investimentos José Carlos Lakoski. “As decisões de compra, entretanto, ficarão a cargo de nossos gestores terceirizados.”

Os títulos de crédito privado, que já chegaram a responder por uma fatia superior a R$ 1 bilhão dos ativos totais da Fundação Copel, também estão na mira. Lakoski observa que as taxas de juros no segmento estão abrindo e que já há opções de empresas com boas notas de rating pagando na faixa de 6% ao ano além da variação do IPCA. Segundo Lakoski, os fundos de dívidas corporativas tendem a recuperar o espaço perdido no último ano para fundos de investimentos imobiliários (FIIs).
“Estamos reavaliando a conveniência dos FIIs, que vem perdendo gás. Recentemente, inclusive, decidimos adiar aportes em dois fundos do gênero, que já estavam praticamente acertados, para pensar melhor a respeito”, diz o diretor de investimentos. “Acreditamos que, em razão do trabalho à distância ditado pela pandemia da Covid-19, muitas empresas vão perceber que podem reduzir sensivelmente suas estruturas físicas. Ou seja, a crise atual poderá gerar sequelas de longo prazo para o setor imobiliário.”

Já o Metrus tem como prioridade absoluta a liquidez. Como o seu patrocinador, o Metrô paulistano, sofreu uma drástica queda de receitas em razão das restrições à circulação de pessoas impostas pela Prefeitura de São Paulo e pelo governo estadual na quarentena da Covid-19, a entidade espera redução ou até mesmo de interrupção temporária das contribuições do mantenedor e participantes. “Estamos conversando a respeito com o Metrô. A suspensão, que depende de aprovação das autoridades do setor, talvez seja a solução”, diz a diretora de investimentos e previdência Keite Bianconi.
Um eventual corte do fluxo de recursos não impediria a fundação, segundo a executiva, de manter o pagamento de benefícios por um prazo de pelo menos 90 dias. Bastaria recorrer, durante esse período, aos valores que entrarão no caixa com o vencimento de aplicações em títulos diversos e, sobretudo, aos recursos depositados em fundos de altíssima liquidez, que somam cerca de 8% do portfólio da casa, o equivalente a R$ 215 milhões. “Mas se o corte das contribuições se estender por muito mais tempo, teremos de vender ativos para honrar com os compromissos do nosso Plano I, de benefício definido fechado desde 1999. A medida não terá de ser estendida ao Plano II, de contribuição variável, que tem a maioria da sua população na ativa.” diz Keite.
Segundo ela, a crise do Covid-19 retardará o processo de diversificação das aplicações da entidade. No ano passado, a participação da renda variável e dos investimentos estruturados subiram de 5,95% e 7,61% do total de investimentos para 10,84% e 10,42%, respectivamente, com a renda fixa caindo 72,18% para 66,73%. “A diversificação reduz riscos de perdas”, observa Keite. “Mas a regra, neste momento excepcional, não se aplica a praticamente nenhum ativo.”

Fonte: Invest. Institucional (29/04/2020)

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