quarta-feira, 1 de julho de 2020

Meu Bolso: Título do Tesouro Direto cai até 15% com pandemia, recupera-se em maio e junho e programa tem recorde de investidores



Número de investidores cadastrados e ativos no programa do Tesouro bateu recordes no ano e investidor aprendeu - na prática e talvez com alguma dor - que renda fixa é uma aplicação de retorno previsível e não fixo e constante

Quem considerava o investimento em Tesouro Direto um nado em águas calmas, quem sabe até uma piscininha, aprendeu - na prática e talvez com alguma dor - que renda fixa é uma aplicação de retorno previsível e não fixo e constante.

A flutuação, que no primeiro semestre pareceu mais uma montanha-russa, é decorrente da marcação a mercado dos títulos do Tesouro Direto, ou seja, atualização do preço que o papel está sendo negociado naquele dia.

Com a marcação a mercado o preço do título pode subir ou descer conforme as expectativas para o cenário econômico e político, de forma semelhante ao que acontece com as ações.

"O que aconteceu no primeiro semestre foi um medo no mercado como um todo. No medo você não sabe o quanto pode perder ou o que pode acontecer. Com o passar do tempo passou a ser um risco e isso pode ser mais calculado. Essa virada de chave de medo para risco aconteceu em meados de abril e maio", afirma Lucas Collazo, analista da Rico Investimentos.

"A chegada da pandemia e as incertezas geraram um susto, os investidores não sabiam o que ia acontecer. Foi um cenário que pouco de nós já vivemos no mercado financeiro", conta Fabio Macedo, diretor comercial da Easynvest.

Foi esse movimento que derrubou em 15,8% a rentabilidade do Tesouro IPCA+ 2045 no primeiro semestre deste ano, o pior resultado entre os títulos. Se está difícil prever como estará a economia brasileira no próximo mês, o prazo de 25 anos é longo demais, o que aumenta as incertezas dos investidores.

Com mais incertezas, o governo precisa pagar mais para te "convencer" a comprar um título dele, o que desvalorizou o preço do papel de quem fez a compra em dezembro, quando a covid-19 ainda nem tinha esse nome e estava circunscrita ao território chinês.

Do outro lado, o Tesouro Prefixado para 2023 teve o melhor desempenho no primeiro semestre, com valorização de 6,7%.

Confira o desempenho dos títulos no 1º semestre de 2020
Desempenho do Tesouro Direto em junho de 2020

TítulosVencimento30 dias*No ano12 meses
Prefixados
Tesouro Prefixado01/01/210,26%3,40%7,81%
Tesouro Prefixado01/01/220,39%5,86%11,34%
Tesouro Prefixado01/01/230,45%6,74%13,06%
Tesouro Prefixado01/01/250,66%5,46%12,99%
Tesouro Prefixado01/01/260,84%--
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais01/01/210,26%3,34%7,64%
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais01/01/230,49%6,32%11,98%
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais01/01/250,67%5,69%12,15%
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais01/01/270,71%4,07%11,38%
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais01/01/290,67%2,75%11,06%
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais01/01/310,58%--
Indexados à taxa Selic
Tesouro Selic01/03/210,21%1,73%4,58%
Tesouro Selic01/03/230,19%1,68%4,53%
Tesouro Selic01/03/250,17%1,65%4,51%
Indexados ao IGP-M
Tesouro IGPM+ com Juros Semestrais01/04/212,49%5,43%12,06%
Tesouro IGPM+ com Juros Semestrais01/01/312,68%4,38%11,92%
Indexados ao IPCA
Tesouro IPCA+15/08/240,66%3,86%10,75%
Tesouro IPCA+15/08/260,42%--
Tesouro IPCA+15/05/350,78%-9,00%-2,51%
Tesouro IPCA+15/05/451,07%-15,81%-7,70%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais15/08/200,92%0,64%5,01%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais15/08/240,71%3,57%10,02%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais15/08/260,48%2,43%8,72%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais15/08/301,37%--
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais15/05/350,84%-4,05%2,41%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais15/08/400,35%--
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais15/05/450,08%-9,03%-1,79%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais15/08/500,06%-10,42%-2,85%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais15/05/550,20%--

O total de investidores cadastrados no Tesouro Direto chegou ao nível recorde de 6,769 milhões em abril (dado mais recente disponível), o que significa aumento de 20,3% em relação ao observado em dezembro do ano passado.

Mais gente se cadastrou no programa, mas o número de investidores ativos não acompanhou essa evolução, embora o patamar atual também seja o maior da história. O número de investidores ativos era de 1,247 milhão em abril, um aumento de 3,8% ante dezembro.

O filme de 2020 até aqui
O mercado financeiro começou a ser sacudido pelo novo coronavírus em fevereiro, mas foi o mês de março que foi marcado pelo desembarque do coronavírus com força total no Brasil. Os impactos econômicos, aqui e no mundo, passaram a ser calculados e recalculados. A recessão na economia brasileira já era apontada como inevitável e o aumento no desemprego também.

Assim como no mercado de ações, os preços e rentabilidades dos títulos do Tesouro Direto chacoalharam naquele mês ao ponto das negociações serem suspensas por dois dias seguidos.

"Teve um movimento forte de saída de investidores em março, especialmente no títulos indexados ao IPCA. O receio do que estava por vir fez com que os investidores tirassem o dinheiro para emergências", afirma Fabio Macedo, da Easynvest.

O saldo do fim de março foi de fortes quedas nos títulos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+) e leve alta nos títulos prefixados de curto prazo (2021 e 2022), além de uma mudança nas negociações.

Diante de protestos e reclamações de investidores que viram seu dinheiro preso, o Tesouro Nacional anunciou uma mudança em 13 de março e o Tesouro Selic, que quase não sofre alterações de preço e rentabilidade, mesmo em dias mais caóticos, passou a continuar sendo negociado em dias que os outros títulos eram suspensos, dando a liquidez prometida pelo programa ao investidor.

Não bastassem os efeitos colaterais da pandemia da covid-19, os investidores foram "agraciados" com uma crise política na reta final de abril. Naquele mês, os títulos com vencimento mais longo foram os que mais sofreram, com destaque para os títulos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+) que registraram as maiores perdas no mês, que chegaram a 26%.

Em maio, veio a redenção e quase todos os títulos do Tesouro Direto conseguiram fechar no azul. O susto de investidores com os efeitos colaterais da pandemia da covid-19 foi menor, com uma acomodação das expectativas.

Em junho, o pânico foi deixado de lado e com os riscos mais calibrados todos os títulos fecharam o mês no azul, como pode ser observado na tabela acima.

Os próximos capítulos
Se você pensa que as emoções ficarão confinadas no primeiro semestre, saiba que a segunda temporada de 2020 já foi confirmada e alguns trailers já mostram que não terá marasmo.

A eleição presidencial dos EUA pode mexer com o humor dos mercados globais, incluindo o Tesouro Direto. Donald Trump tenta a reeleição e o mercado já conhece seu "modus operandi", o que poderia trazer alguma tranquilidade ainda que seu opositor, Joe Biden, não seja um "inimigo dos mercados financeiros".

Contudo, se Trump pender para um posicionamento mais extremista para agradar seu eleitorado mais aguerrido, o mercado pode reagir negativamente, avalia Macedo.

Além disso, outro fator mais imprevisível e com risco de danos maiores é a segunda onda de contaminação pela covid-19 à medida em que os índices de infecções vêm aumentando nas economias que reabriram suas atividades, com destaque para os EUA.

Para Collazo, o risco de retorno ao confinamento - o que impactaria ainda mais as cambaleantes economias globais - é baixo. "Os preços dos ativos já se recuperaram e o mercado não vê risco de 'lockdown'. Se tiver um segundo fechamento, vai afetar", diz.

Qual título comprar agora?
Não é porque a taxa de juros, a Selic, está na mínima histórica que a renda fixa morreu. Os títulos do Tesouro Direto em uma carteira de investimentos bem diversificada tem o seu valor e importância. Mas qual escolher?

De olho nos retornos de longo prazo, os títulos atrelados à inflação ganham destaque. "É bom ter ativos que possam te proteger de um risco de inflação maior", afirma Lucas Collazo, analista da Rico Investimentos.

E engana-se quem pensa que Tesouro Direto é só para manter o poder de compra sem grandes riscos. Dá para aumentar o capital mesmo nesse tipo de aplicação. "Tesouro pagando IPCA mais 4% de juros é uma taxa competitiva. Em um momento de calmaria esses títulos estavam pagando 2,5%, 3%", afirma o diretor da Easynvest.

Para quem precisa de renda recorrente, Macedo indica os títulos Tesouro IPCA+ com pagamentos de juros semestrais. Quem tem outras rendas e não precisa dos juros pagos pelos títulos até o vencimento, o Tesouro IPCA+ que paga todo o rendimento na data de vencimento pode ser a opção

Collazo, da Rico, prefere o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2035, mas Macedo, da Easynvest, avalia que o investidor deve escolher de acordo com o prazo de seus objetivos.

Para reserva de emergência, o Tesouro Selic continua com sua cadeira cativa.

"Tesouro Selic é um ativo que todos os investidores devem ter, porque é preciso ter uma liquidez garantida na carteira. Mesmo com a Selic na mínima histórica, ele continua sendo a melhor opção porque reserva de emergência não pode ter risco e isso é fundamental em qualquer carteira", afirma Collazo.

Como comprar títulos do Tesouro Direto?
Os títulos do Tesouro Direto são negociados em dias úteis das 9h30 às 18h (você pode vender ou comprar pelo site ou aplicativo da corretora em que tiver conta).

Os boletins com os preços dos títulos e suas rentabilidades são divulgados por volta de 9h30, 11h30 e 15h30, no site do Tesouro Direto.

Ao investir do Tesouro Direto, é cobrada uma taxa de custódia de 0,25% ao ano.

Fonte: Valor Investe (01/07/2020)

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