segunda-feira, 25 de junho de 2018

TIC: Novos hábitos de usuários causam estagnação de teles


No PIB, telecomunicação encolhe 

Enquanto a economia brasileira avança, ainda que em ritmo lento, o setor de telecomunicações continua a encolher. Responsáveis por 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em conjunto com os segmentos de tecnologia da informação e serviços audiovisuais, as companhias de telecomunicações sentem os efeitos da mudança nos padrões de consumo, e da carga tributária mais alta em alguns Estados. 
 
Nos três primeiros meses do ano, os serviços de informação encolheram 3,3% na comparação anual, ao passo que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,2%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  

A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), também realizada pelo IBGE, mostra queda acumulada de 4,4% no volume de serviços de telecomunicações no período de 12 meses terminado em abril.

Na comparação entre abril deste ano e o mesmo mês de 2017, a retração é de 5,1%, para o setor de telecomunicações.  "Tanto a receita [bruta] quanto o volume de serviços caíram", diz Paulo Lins, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas. Isoladamente, os serviços de telecomunicações respondem por 17% da PMS, mais que o dobro do segundo item de maior peso (transporte rodoviário de carga, com 8,2%).   


Parte do desempenho negativo do setor se deve à mudança nos padrões de consumo, diz Rafael Pistone, sócio da área de telecomunicações, mídia e tecnologia do escritório Vinhas e Redenschi Advogados. "O que está havendo é uma acomodação do mercado", afirma Pistone, que comandou a Angola Cables no Brasil. "As operadoras estão adequando seu modelo de negócios, que era mais rentável, às novas prioridades do consumidor. E a prioridade hoje é o OTT [over the top]."  

O avanço dos OTTs - empresas que fornecem conteúdo e serviços digitais pela internet - impulsionou a demanda por banda larga fixa. Para as operadoras, a atratividade do mercado de banda larga fixa está diretamente relacionada ao seu potencial de expansão.  

O número de linhas fixas e móveis no país caiu nos últimos três anos, mesmo comportamento observado no mercado de TV por assinatura. Já o número de assinantes de banda larga fixa aumentou no período.  

A transformação digital está longe de se limitar à mudança nos hábitos do consumidor, destaca Renato Pasquini, diretor de Pesquisa da consultoria Frost & Sullivan para a América Latina. "O ganho de eficiência gera uma canibalização de receita". Como exemplo, o executivo cita a diminuição do número de posições de atendimento nos call centers e o uso de tecnologias mais baratas no mercado de dados corporativos.  

O número de linhas fixas e móveis no país caiu nos últimos três anos, o mesmo aconteceu na TV por assinatura  
A densidade na oferta do serviço ainda é relativamente baixa. Em março, o serviço estava presente em 42,86 de cada cem domicílios brasileiros, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). "Há uma necessidade de investimento das operadoras em banda larga, que é um serviço de menor margem quando comparado ao de telefonia móvel", compara Pistone.  

A situação econômica do país - especialmente a crise fiscal nos Estados e a valorização do dólar frente ao real - também impactam negativamente o setor. Pasquini, da Frost & Sullivan, lembra que nos últimos anos muitas empresas optaram por renegociar contratos com as operadoras. E a carga tribitária aumentou. Estados como o Rio de Janeiro e Rondônia, entre outros, elevaram nos últimos anos a alíquota do ICMS sobre serviços de telecomunicações.  

"As operadoras não estão repassando a inflação gerada pelo custo dos equipamentos, que subiu com a alta do dólar", acrescenta Pasquini. A desaceleração nos investimentos foi outro fator que contribuiu para a diminuição da atividade no setor.

"Desde 2014 a trajetória do segmento de serviços de telecomunicações é predominantemente descendente", diz Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços. No caso específico da PMS, o declínio tem um componente estatístico - a série histórica tem como base 2014, ano que correspondeu ao auge da receita das companhias. "Dada a sequência longa de taxas negativas, [a atividade] vai atingir um patamar tão baixo que deve voltar a crescer. Isso não significa uma recuperação", frisa Lobo.

Fonte: Valor (25/06/2018)

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