Re-estruturação da PT, “imposta pela Oi”, faz desaparecer empresas PT SI, PT Contact e PT Cloud.
A Altice anunciou este domingo ter feito uma proposta de aquisição dos ativos da Portugal Telecom detidos pela Oi, num valor de 7,025 mil milhões de euros. Em comunicado, a empresa que detém a Cabovisão e a Oni em Portugal, revela estar interessada nos negócios da PT fora de África e exclui a divida da operadora à Rio Forte, algumas ações da Oi e os “veículos financeiros” da PT.A oferta da Altice inclui 800 milhões de euros a serem realizados no futuro, tendo em conta a geração de lucros e libertação de “cash flow” da PT. A empresa assegura que a aquisição será feita com nova dívida e capital existente.
A propósito do negócio, o francês leblogfinance lembra que a Altice, detentora da operadora Numericable em França, está a aproveitar “a fraqueza econômica” de Portugal para ficar com a PT, sendo que a Numericable “está fortemente ligada ao mundo da finança via o fundo de pensões Carlyle”.
Já o New York Times aponta a proposta de aquisição como “a última de um número de potenciais negócios no sector das telecomunicações na Europa, que está a sofrer uma nova vaga de consolidação dado que operadores móveis e de TV por cabo se posicionam antes de esperadas mudanças regulatórias”.
Analistas do BPI disseram ao Jornal de Negócios que “a oferta da Altice é acima do preço que esperávamos que alguém pagasse [pela PT Portugal], apesar de alguns detalhes da oferta serem pouco claros” – nomeadamente as receitas e o OPEX futuros para se chegar aos sete mil milhões de euros da oferta, algo que “pode mudar drasticamente a percepção da oferta”, dizem.
Por outro lado, “estamos um pouco surpresos de ver a Altice apresentar uma oferta de compra antes de assegurar a venda da Cabovisão, já que antecipamos que um processo de concentração entre a PT Portugal e a Cabovisão vai levar mais de um ano para que as autoridades de concorrência emitam uma decisão final. Esta linha temporal parece incompatível com os planos [urgentes] de consolidação da Oi no Brasil”, para a rápida libertação de dívida e sequente aquisição do negócio da italiana TIM naquele país.
Entretanto, quem está declaradamente contra o negócio é a Comissão de Trabalhadores da PT. Ao Expresso, afirmam que a proposta de aquisição “não acrescenta valor”, que a Altice pode estar apenas interessada em fazer mais-valias, vendendo rapidamente a PT Portugal “por atacado ou às postas”.
“Ainda que a Altice diga que não está interessada em comprar a PT para a vender e retalhar, estamos preocupados com o futuro da PT Portugal. A Altice não é um operador global de telecomunicações, nem acrescenta valor à PT Portugal. Não traz tecnologia, nem know how, nem inovação. Não traz qualidade, não garante o desenvolvimento de futuro, nem os postos de trabalho”, afirmou Francisco Gonçalves, da Comissão de Trabalhadores. Segundo ele, “os 7,025 mil milhões traduzem-se em muito pouco, já que a dívida da PT Portugal é de 6,5 mil milhões” de euros.
No sábado, o semanário revelava que a re-estruturação da PT “imposta pela Oi” irá fazer desaparecer a PT SI, a PT Contact e a PT Cloud. Esta unidade para a cloud computing, com o centro de dados na Covilhã, vai integrar “o segmento empresarial, cujo administrador é Carlos Duarte”, enquanto “o negócio dos centros de dados passa para a área de engenharia e operações tecnológicas, sob a responsabilidade de Manuel Rosa da Silva”.
Quem é a Altice?
A Altice é uma empresa que, nos últimos anos, comprou vários operadores de telecomunicações. Conheça o grupo que quer comprar a PT Portugal.
Em Portugal, a Altice começou a ser falada quando, em dois anos, comprou de uma assentada dois operadores no País. A Cabovisão e a Oni, que, respectivamente, tinham operações ligadas ao consumidor residencial e ao empresarial. Já tinha a Cabovisão e estava em processo de compra da Oni, quando João Zúquete da Silva, diretor-geral da Cabovisão, assumia, em conferência de imprensa, que o objectivo era ser "o segundo operador de telecomunicações em Portugal no curto ou médio prazo", mas não disse, em Junho de 2013, como conseguiria o feito.
O grupo Altice já se assume como multinacional cabo e telecomunicações com presença em França, Israel, Bélgica, Luxemburgo, Portugal, Suíça e Caraíbas.
Saltou para os jornais internacionais quando adquiriu, em França, a SFR, a segunda maior operadora móvel em França, a seguir à Orange. Há quatro operadores móveis com infra-estruturas próprias no mercado gaulês. A SFR tem menos de 30% de quota no mercado móvel. A SFR tem também desenvolvido o projeto de internet de alta velocidade fixa. A SFR acabou por ser uma negócio avaliado em 17 mil milhões de euros, tendo já recebido luz verde para concretizar a compra.
Em França, a Altice detém, ainda, a Numericable, que cotou em bolsa este ano, e que tem a rede de fibra óptica que cobre mais de cinco milhões de lares. A Altice detém 30% da Numericable, tendo a Carlyle 26,3%.
Em Israel, detém a operadora Hot, que detém uma operação de cabo e móvel. No final de 2013, esta empresa tinha 1,127 milhões de clientes no cabo e 810 mil subscritores móveis.
Na Bélgica e Luxemburgo detém a Coditel. Está também em Guadalupe, Martinica e República Dominicana.
O grupo Altice é liderado por Patrick Drahi que começou a sua carreira profissional no grupo Philips em 1988, passando depois pela Kinnevik-Millisat. Em 1993, fundou a CMA, uma firma de consultoria especializada em comunicações e media e ainda criou duas operadoras de cabo: a Sud Cable Services (1994) e a Media Reseaux (1995), que, no ano 2000, foi adquirida pela UPC.
Arrancou com a Altice em 2002. Segundo a revista Forbes, Patrick Drahi está na posição 133 na lista de milionários, com uma fortuna avaliada em 9,4 mil milhões de dólares. Na Wikipédia, está descrito como empresário franco-israelita, nascido em Marrocos em 1963 e residente na Suíça.
Fontes: Computerworld e Jornal de Negócios - Portugal (03/11/2014)
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