quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Fundos de Pensão: Políticas de investimentos abraçam o risco. A palavra de ordem é sair do lugar comum



Com taxas de juros em queda, os fundos de pensão traçam cenários para o ano que vem. E a palavra de ordem é sair do lugar comum

A perspectiva de juros reais ainda mais baixos do que os atuais, e até mesmo negativos, é que está ditando o rumo das políticas de investimento dos fundos de pensão para 2020. E se há uma palavra praticamente banida do dicionário dos comitês e diretorias de investimento das entidades, ao traçarem suas políticas de investimento para o ano que vem, essa palavra é imobilismo.

A Funcesp já ampliou sua alocação em renda variável, multimercados e FII entre 2016 e 2017, com um aumento expressivo na tomada de risco, mas a área de investimentos prepara outros incrementos marginais a partir de 2020. A fatia de renda variável saiu de 5% em junho de 2016 para 17% até meados de outubro de 2019, o investimento em FII saiu de zero para três fundos e a classe de fundos multimercados passou de R$ 200 milhões para R$ 1,6 bilhão, informa o diretor de Investimentos e Patrimônio da Funcesp, Jorge Simino.
“A ampliação de risco já vem ocorrendo e agora teremos que fazer apenas aumentos marginais, talvez em três ou quatro pontos percentuais adicionais na alocação de bolsa, mais três ou quatro pontos em FII. O cenário em princípio é positivo, mas iremos com cautela porque há chuvas e trovoadas principalmente no ambiente externo”, diz Simino. Os gestores estarão sujeitos a fortes emoções também no cenário interno mas a grande preocupação é com o quadro global e a perspectiva de recessão nos EUA. “O governo Trump gastou seu trunfo fiscal e quando os EUA precisarem pagar o preço ele poderá ser caro demais”.
A busca por maiores retornos nos investimentos dos fundos de pensão, portanto, terá que obedecer a um critério claro para os orçamentos de risco. No caso da Funcesp, a previsão é de que a renda variável chegue a 20% dos ativos no próximo ano, enquanto os FII, que já tem posição relevante, cresçam um pouco mais por conta das perspectivas de retomada de alguma atividade no mercado imobiliário. “A abordagem para o próximo ano é mais voltada ao objetivo de risco do que de retorno, estamos finalizando a definição da política e do patamar de risco que iremos querer assumir em 2020”, conta Simino.
O portfólio da Funcesp, com 100% da carteira de títulos marcada a mercado, tem um histórico de 13 anos com volatilidade de 5%, o que poderá subir para algo em torno de 5,5% ou no máximo 6%. A alocação no exterior, que hoje é de 0,5%, vai continuar nesse percentual e o crédito privado segue fora dos projetos da Funcesp. “Para nós não vale a pena porque os prêmios são baixos demais”.

Cinco anos 
A Real Grandeza acaba de aprovar sua política de investimentos com horizonte de cinco anos, direcionando para o aumento da renda variável. A alocação estratégica para o plano BD prevê ampliar a renda variável de 12,6% para 20,8% enquanto no plano CD essa fatia subirá de 14% para 24,6%. “A renda variável quase quadruplicou ao longo de 2019, saindo de 6% para 19% no CD e no BD, o que nos garantiu a melhor rentabilidade em relação à meta dos últimos vinte anos”, comemora o diretor presidente da entidade, Sérgio Wilson Ferraz Fontes.
A rentabilidade acumulada pelos planos BD e CD era de 17,7% e 19% até 07 de novembro, contra uma meta de, respectivamente, 7,4% e 9% no período. Até setembro, o plano BD tinha superávit de R$ 1,2 bilhão, dando à fundação uma folga importante para tentar promover uma redução de sua meta atuarial em 0,5 ponto percentual, que ainda está em discussão. A fundação também vai aumentar o valor médio dos mandatos dos quatro gestores externos de renda variável que superaram a gestão própria. A gestão terceirizada de renda variável responde hoje por 23% dessa carteira, com R$ 2,9 bilhões em FIAs.
Embora a performance da renda variável tenha sido a grande responsável pelos resultados do ano, as NTN-B (marcadas na curva no plano BD e 100% a mercado no plano CD) também contribuíram. Para 2020, a política prevê reduzir a carteira de NTNs, mas manter os títulos são marcados a vencimento para garantir um melhor retorno ajustado ao caixa. Até porque as NTNs na curva tem pago mais do que a meta, com folga. “Desde 2018 nosso ALM mostrou que ter NTN a mercado passou a ser um risco, o que significa que é hora de vender”, diz Fontes.
Na Real Grandeza tudo começa com o ALM, um programa alimentado por três consultorias de cenários, duas locais e uma internacional. “Identificar as assimetrias entre os mercados têm produzido resultados espetaculares, agora vamos mais para renda variável e Selic”, afirma Fontes. Entre os destaques de 2020, está a alocação no exterior, que deve passar de 2% para 4%, percentual para o qual a entidade já está posicionada.

Otimizando o portfólio 
A Petros está revisitando a gestão de investimentos e começou dando um passo para trás para enxergar o que precisava ser aperfeiçoado ao mesmo tempo em que avalia o novo cenário de juros em queda e o desafio inédito para a gestão das EFPC. “Deflagramos estudos que incluem endowments soberanos e outros, com um olhar conjunto sobre estratégias e governança. Procuramos otimizar o portfólio e diversos estudos estão maturando, a intenção é agregar todo esse conhecimento à política que será aprovada até o final do ano”, explica o diretor de investimentos da Petros, Alexandre Mathias. “O sistema tem que otimizar carteiras com mais risco e para isso é preciso construir um portfolio diversificado e otimiza-lo”.
A nova política da Petros já tem um “desenho provável” explica Mathias, que será submetido à diretoria e ao Conselho Deliberativo. Esse desenho segue dois grandes modelos de gestão internacionais, o primeiro é o do endowment da Universidade de Yale, nos EUA, fortemente centrado na diversificação, e o segundo o do Canada Pension Plan Investment Board, o CPPIB, fundo de pensão canadense que reúne vários aspectos de governança e estratégia com um desenho simples e prático.
A partir desses dois modelos a Petros vai construir a carteira otimizada para atingir a melhor fronteira eficiente, tendo como base o portfolio de referência. “Identificar o melhor retorno com o menor risco envolve uma tecnologia complexa, é preciso compreender o padrão das séries para construir o portfólio estratégico”, detalha Mathias. No caso da Petros, com meta de inflação mais 5% (média para os 37 planos administrados), o objetivo a buscar é próximo a 9%. “Se a exposição ficar 70% em NTNB longa e o carregamento dessa posição render 7%, precisarei gerar o restante da meta com os outros 30% de ativos (isso seria feito, segundo o modelo, com 20% de inflação mais longa, 40% de inflação mais curta e ativos indexados aos juros, 30% de bolsa, 7% a 8% de ativos reais e 5% a 10% no exterior).

Limite maior e ajustes 
A política atual da Petros limita os investimentos em ações ao máximo de 20%, quase totalmente tomado hoje (a carteira de renda variável está em torno de 18%). A fundação deverá propor um limite bem superior a esse, a ser atingido gradualmente. “Em 2020 passaríamos a 30%, com espaço para fazer ajustes táticos em torno desse nível, podendo oscilar entre 20% e 40%. Segundo Mathias, na prática todo o portfólio deverá será conduzido por meio de ajustes táticos”.
Ele lembra que a exposição dos fundos de pensão à renda variável, em outros países, gira em torno de 60% a 70% dos patrimônios, padrão ao qual o Brasil deve convergir em cinco ou dez anos. Na Petros, há quatro estratégias de renda variável: um FIC com onze gestores externos e rendendo bem acima do Ibovespa, e outras três estratégias internas, sendo uma ativa (para competir com os gestores terceirizados, buscando Ibovespa mais 2% ou 3%) e duas passivas (uma “melhorada” e outra “plus”). Para 2020, a proposta é abrir mais uma ou duas estratégias, incorporando uma estratégia de benchmark com maior geração de alfa e melhor parametrizada. Esse desenho vai se reproduzir em todas as classes de ativos.

Seleção de gestores 
Na Fachesf, um novo modelo de seleção de gestores e fundos será concluído em novembro e as alocações começarão a ser feitas ainda neste ano. Renda fixa, renda variável e estruturados serão tratados com um olhar abrangente tanto dos ativos locais quanto do exterior. “A ideia é começar a ampliar a presença em alocação internacional, segmentar toda a gestão nessas três classes conforme está indicado no ALM”, diz o gerente de investimentos da Fachesf, Clidenor de Moura Lima Júnior. O novo ALM e, no caso do plano CD, as atualizações de estudos de otimização, em fase de sintonia final, devem reiterar essa indicação.
A Fachesf mantém três planos, com um deles subdividido em dois porque tem duas massas de participantes segregadas entre CD puro e BD. A entidade deve fechar 2019 com patrimônio de R$ 8 bilhões e rentabilidade consolidada média de 11,45% até setembro contra metas de IGPM mais 5,5% no CD e de 4,75% no plano saldado. “Todos bateram as metas e o plano CD puro teve retorno de 18,11%, é um plano com 100% de marcação a mercado e portanto, sem “muletas”. Segundo Lima Júnior, o CD já tem 1,6% de exterior.
O total alocado pela Fachesf hoje no exterior é de 0,48%, com indicação para ampliar. De acordo com Lima Júnior, “as novas indicações serão referendadas até o final de novembro, mas no conjunto dos planos a renda fixa deve cair de 85,62% para 70% e no CD puro cai de 80,62% para algo próximo a 60%. Essa mudança respeitará uma margem de segurança a depender do que ocorrer no cenário econômico, é claro, mas o consenso é de queda estrutural no juro e cenários mais robustos, o que exige abrir carteiras mais variadas.

Gestão mais robusta 
A Fachesf aposta também no trabalho de reforço do risco e conformidade e do uso de ferramentas mais eficientes. “A área de gestão é separada da área de risco e conformidade e o modelo de seleção é feito internamente, de modo que tanto a gestão própria quanto a terceirizada sigam um processo contínuo e consistente”, detalha Lima Júnior. São 18 gestores ao todo, avaliando ativos no Brasil e em outros países, incluindo FIPs e fundos líquidos. A ordem é buscar a melhor correlação entre os gestores e diversificar para diluir o risco, conferir métricas e verificar se o beta é confiável, sem apostar em “números mágicos”, diz ele.
Enfrentar o novo ambiente de investimentos vai exigir cada vez mais rigor com o caráter técnico e de pesquisa que deve marcar a gestão. Para a Fachesf, o modelo de seleção de gestores adotado neste ano será, pela primeira vez, fundamental para viver o momento divisor de águas. “Veremos muitas surpresas nos investimentos de fundos de pensão, com maior profissionalização e áreas de risco mais fortes. Os processos de governança tendem a ser mais robustos e mais ágeis”, diz o executivo.

Rebalancear risco 
O patamar a que chegaram os juros exige diversificar e rebalancear o risco, sublinha o diretor de Investimentos da Previsc, Ricardo Esch. Na entidade, isso começou a ser enxergado em 2017 e influenciou a política de investimentos adotada em 2018. “Já tínhamos 15% do patrimônio aplicados em renda variável e 10% em estruturados com estratégias long only e macro. Mas o ano de 2019 consolidou essa direção e a parcela de renda variável subiu para 20% enquanto a de estruturados segue em 10%”, diz o dirigente. A renda fixa ainda concentra 65% do total dos ativos, mas a tendência de redução nessa carteira deve prosseguir. A fundação pretende manter renda fixa com liquidez e fundos exclusivos (retorno absoluto), fundos de investimento em imóveis e exterior para ajudar a diversificar.
Até meados de outubro, esse movimento para a renda variável ancorou uma rentabilidade total de 10,94% no ano contra meta atuarial de 7,09% na Previsc. Isoladamente, a carteira de bolsa rendeu 25,63% (dois terços em gestão ativa e um terço em índice – BOV 11). A previsão é aumentar a alocação em renda variável para até 25% no próximo ano.
A diretriz de 2020 também vai abrir espaço para alocação no exterior, já aprovada pelo comitê de investimentos em julho passado. “Mas decidimos segurar o investimento por conta da disparada do dólar nos últimos meses, então apenas no dia 28 de outubro fizemos a primeira tranche, no valor de R$ 13 milhões. A segunda tranche, em idêntico valor, aguarda apenas o próximo movimento de baixa do dólar frente ao real”, explica Esch. No próximo ano, a fatia de exterior deverá sair dos atuais 2% para chegar próxima a 5% dos ativos totais, voltada ao mercado de equities.
O colegiado da Previsc discute no momento a possibilidade de investir em FIPs (Fundos de Investimento em Participações) mas com um olhar mais distante, ainda não para 2020, diz Esch. Essa alternativa deve seguir o rumo dos FII, que cresceram à medida que o mercado ficou mais maduro e com melhor visibilidade. “No caso dos FIPs, porém, a situação é mais delicada, envolve questões como a da sustentabilidade jurídica e incertezas de vários tipos, ainda vai amadurecer e o mercado precisará evoluir em qualidade de gestão desses fundos”, afirma o diretor. Será uma saída inevitável e poderá ganhar espaço à medida que as demandas por investimento em infraestrutura ficarem mais acentuadas.

Fonte: Investidor Institucional (27/11/2019)

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