Desde 2003, através do Art. 28 da Lei nº 10.741, sancionada pelo Congresso Nacional, é determinante que o Poder Público crie e estimule programas de preparação para a aposentadoria com um ano de antecedência para os seus funcionários por meio de estímulos sociais. A medida vai ao encontro do aumento da expectativa de vida dos brasileiros, que passa de 73,2 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O trabalhador brasileiro se aposenta cada vez mais jovem e com muitos anos de vida pela frente de forma saudável. Porém, o aumento da expectativa de vida ainda provoca ansiedade, segundo os especialistas, apesar de não ser um comportamento unânime, quando o tema é aposentadoria.
Fábio Gallo Garcia, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), acredita que a história econômica do Brasil possa justificar de alguma maneira esse sentimento de apreensão de muitos brasileiros quando se aproximam do momento da aposentadoria.
“O fato de os brasileiros terem ficado por 40 anos sem chances de organização financeira, sem ter como pensar de maneira objetiva no futuro, pois sequer era possível saber se no fim do mês haveria dinheiro por conta da inflação, me parece um dado histórico que ajuda a explicar essa preocupação com o momento da aposentadoria”, afirma Garcia.
Para o professor, ficou um resquício cultural que não incentiva o planejamento. Outro ponto registrado por ele é a questão de o aumento da expectativa de vida estabelecer novas relações dentro para a sociedade.
“Todo esse passado gera dados que considero uma postura ruim, como a crença de que não é possível planejar a aposentadoria. Aproximadamente 60% dos brasileiros admitem ser ajudados financeiramente pelos familiares no momento da aposentadoria. Na Inglaterra, essa possibilidade não passa de 35%. Mas acredito em uma mudança de mentalidade rápida por aqui, pois é uma questão de necessidade”, comenta Garcia.
O professor aposta em uma transformação cultural acelerada também pelo fato de o brasileiro não se sentir 100% seguro com os benefícios oferecidos pela previdência oficial como garantia para o futuro.
“O processo cultural passa pela economia. Os brasileiros estão aprendendo a lidar com essa situação. Com uma vida financeira organizada e enfrentando a nova etapa – a aposentadoria – com outro olhar, passa ser possível realizar atividades que durante o período laboral não havia como realizar. Inclusive, empreender e gerar riqueza.”
Fábio Gallo Garcia acredita que se espelhar em outras culturas não é interessante, mas observá-las pode ajudar a conhecer a própria cultura brasileira e facilitar as mudanças de comportamento que se fazem necessárias.
Segundo os especialistas, por não terem vivido a inflação, como seus pais, os jovens crescem com a possibilidade de se organizarem financeiramente. Os profissionais afirmam que o momento é outro, de mais otimismo econômico para o país e mais acesso à informação, o que ajuda no processo de mudança cultural. Sendo assim, o momento da aposentadoria será encarado apenas como mais uma fase da vida e que pode ser perfeitamente planejado.
Marcos Troyjo, professor da Columbia University, do Ibmec e pesquisador da Universidade Paris V, afirma que tanto o Brasil enquanto nação quanto o brasileiro ainda economizam pouco.
“A taxa de poupança do Produto Interno Bruto (PIB) nacional está a 16%; se a compararmos com outros países, veremos que é baixa. O brasileiro culturalmente também age dessa forma; não poupa ou guarda pouco. Em uma relação imediata com o momento da aposentadoria, ele fica assustado, pois na nova fase o rendimento tende a cair e ele não dispõe de reservas”, compara Troyjo.
Mas o especialista acredita que, pela questão da expectativa de vida longínqua, o brasileiro vai mudar cultural e emocionalmente e com bons olhos aposta na revalorização dos profissionais que se aposentam, mas voltam ao mercado – seja por opção ou necessidade financeira – para suprir demandas, de modo que, aos poucos, a aposentadoria não será mais encarada como o fim do jogo.
Fonte: Previ e Diário dos Fundos de Pensão (05/12/2011)
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