quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Fundos de Pensão: Briga entre patrocinadora (BB) e fundo Previ tem interferência do governo, vira novela e pode render demissões

Fundos: Dilma intervém em briga entre BB e Previ
A disputa pelo comando do Conselho de Administração da Vale - segunda maior mineradora do mundo - enredou numa teia de intrigas os presidentes do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, e da Previ (fundo de pensão do BB), Ricardo Flores. Ambos não se falam há mais de um ano, mas patrocinam uma desavença pública que levou a presidente Dilma Rousseff, ontem, a determinar ao ministro da Fazenda, Guido Mantega - a quem o Banco do Brasil, maior banco comercial do país, está subordinado - que tome providências.
"Não dá para continuar essa situação. Nesse governo isso é inadmissível", disse uma fonte qualificada do Palácio do Planalto. Outra questão que essa fonte salientou é que qualquer solução será dolorosa pois envolve o Banco do Brasil, que apresentou, em 2011, o maior lucro de sua história (R$ 12,1 bilhões), e a Previ, o maior fundo de pensão da América Latina, ambos com excelentes resultados gerenciais.
Em meio a essa situação de conflito, o PT montou uma operação para preservar Flores. Desde ontem, parlamentares do partido estão procurando as ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Assuntos Institucionais) para tratar do assunto e depor a favor do presidente da Previ. Eles alegam que o que ocorre é rescaldo da briga que marcou a sucessão na Previ em 2010.
Para substituir Sérgio Rosa no fundo de pensão do Banco do Brasil, Bendine indicou um dos vice-presidentes do banco - Paulo Caffarelli. Pouco depois, o Palácio do Planalto recebeu um "dossiê", que se revelou falso, contra Caffarelli. O documento, apócrifo, o acusava de ser "tucano", de ter provocado prejuízo em operações imobiliárias quando trabalhara na Previ anos antes e de ter dado tratamento especial no Banco do Brasil à Marina Mantega, filha do ministro da Fazenda.
As acusações eram frágeis porque Caffarelli não atuou, em seu tempo na Previ, na área de investimentos imobiliários. Além disso, não tinha vinculação com o PSDB e, mesmo tendo atendido Marina Mantega no edifício-sede do BB em São Paulo, não fechou nenhum negócio com ela.
Apesar disso, Bendine foi obrigado a indicar outro nome para a Previ. Optou, então, por outro vice-presidente do BB, Ricardo Flores. Quando fez o convite a Flores para assumir a Previ, o ministro Guido Mantega avisou que o fundo de pensão perderia, num futuro próximo, a presidência do conselho da Vale. Junto com a substituição de Roger Agnelli no comando da empresa, o ministro da Fazenda pretendia adotar o modelo americano, no qual, em geral, a presidência dos conselhos de grandes empresas é ocupada por um "chairman" contratado, alguém com perfil profissional, em vez de um mero representante dos acionistas.
Com apoio de Mantega, Bendine teria pleiteado, inicialmente, acumular a presidência do BB com a do conselho da Vale. Não houve respaldo dos sócios (Previ, Bradesco, entre outros) para isso.
Num segundo momento, Bendine pretendeu deixar o BB para presidir a Vale, mas foi preterido pelos critérios estabelecidos pelos sócios que definiram como perfil do sucessor de Agnelli alguém que entendesse de mineração. Pelo acordo de acionistas da Vale, a troca de comando da companhia teria que ser precedida da contratação de uma empresa internacional de "headhunter" que buscaria um nome a partir dos critérios definidos pelos acionistas.
O caso deixou marcas. Desde então, há uma verdadeira guerra de bastidores com suspeitas mútuas. Bendine, por exemplo, acha que Flores tem pelo menos três objetivos nessa história: manter-se na presidência do Conselho da Vale; angariar apoios políticos em Brasília; e desestabilizá-lo do comando do BB. Flores, por sua vez, atribui a Bendine a manobra para retirá-lo do conselho da mineradora.
Segundo fontes bem informadas, Flores se aproximou do vice-presidente Michel Temer (PMDB) e do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), seu conterrâneo. Além disso, tentou, sem sucesso, conquistar o apoio de Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República e principal interlocutor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no governo Dilma Rousseff.
Flores, por sua vez, está convencido de que funcionários do BB estão por trás da disseminação de intrigas e boatos e suspeita que uma das origens dessa situação esteja no vice-presidente de Governo do Banco do Brasil, Ricardo Oliveira.
Bendine demitiu em dezembro um outro vice-presidente, Allan Toledo, até então um nome de sua confiança, por suspeitar de que Toledo tenha gravado uma reunião do Conselho Diretor, na qual se tratou da operação de compra do Banco Postal pelo BB, e repassou o conteúdo para Flores. Publicado na revista "Época", o material indicava que o banco teria conduzido mal o negócio.
Toledo está sob investigação por ter recebido depósitos milionários e teve seu sigilo bancário quebrado. Na diretoria do Banco do Brasil há quem acredite que Flores instou Toledo a agir sob a promessa de que estava trabalhando para promovê-lo ao cargo de presidente do BB, no lugar de Bendine.
No início da noite de ontem, o Ministério da Fazenda divulgou nota oficial, determinando que o BB instaure "sindicância para apurar possível vazamento de sigilo bancário" de Toledo. "A apuração será supervisionada pelo Conselho de Administração do BB [presidido pelo secretário-executivo Nelson Barbosa], por meio da unidade de auditoria interna."
As queixas dos parlamentares do PT contra Bendine são inúmeras: na sua gestão, que começou em 2009, ele promoveu um afastamento de militantes do partido da direção e das gerências do BB; e alegam que não são recebidos pelos dirigentes do banco - o único integrante do partido que tem acesso ao BB é Gilberto Carvalho. Demandas antigas do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP); e do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP), dormem nas gavetas. O descontentamento do PT com Mantega também é crescente. 

Fonte: Valor online (28/02/2012)

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