Queda nos juros e a atividade produtiva
O investidor institucional terá de ir à economia real. É ótimo. Aqui, os fundos de pensão alocam 60% em renda fixa. Nos EUA, 62% vão à renda variável
Em termos reais (ou seja,
descontando-se a inflação), a taxa de juros básica
(Selic) caiu de pouco mais de 6% ao ano em 2010 para cerca de 3% em 2012.
Tal redução, num quadro de inflação sob controle,
traz uma série de benefícios para a economia brasileira.
Além da desvalorização
cambial, positiva para as contas externas e para a atividade produtiva,
e do menor custo de financiamento da dívida pública, chamo
a atenção para os efeitos produzidos nos investidores e financiadores
da atividade produtiva.
À medida que cai
o retorno assegurado pelas aplicações em papeis que rendem
juros, aumenta a atratividade -e a necessidade- de se alocar recursos na
economia real.
Isso impacta, destacadamente,
os bancos, cuja oferta de crédito deverá crescer -ampliando
o mercado de dívida no Brasil, ainda pequeno- e os investidores
institucionais (fundos de pensão), cujo papel como sócios
e financiadores do investimento é de extrema importância.
Os investidores institucionais
deverão passar a ter maior participação no investimento
produtivo, a exemplo do que ocorre em muitos outros países.
Para tal, eles têm
o desafio de redirecionar sua carteira, hoje predominantemente voltada
à renda fixa (principalmente títulos da dívida pública),
para a economia real, mantendo a solvência e a sustentabilidade de
seus planos de aposentadoria.
Os fundos fechados de pensão
têm hoje ativos de cerca de R$ 600 bilhões, perto de 15% do
PIB. Seus investimentos estão alocados da seguinte forma: 60,5%
em renda fixa; 30,5% em renda variável (participação
direta ou indireta em empreendimentos e empresas); e menos de 10% em outros.
Para assegurar o cumprimento
de suas obrigações (passivos), os fundos buscam um patamar
mínimo de remuneração. Em geral, ele é de IPCA
mais 6% ao ano. Até 2009 (exceto na crise de 2008), os fundos obtiveram
retornos, no agregado, de quase o dobro desse patamar. Mas desde então
têm tido muito mais dificuldade -que, diante dos juros baixos, só
aumentará se a carteira seguir mais orientada à renda fixa.
A comparação
com outros países mostra aspectos importantes.
Quanto à relação
entre ativos dos fundos e PIB, estudo da OCDE, de 2009, mostra percentuais,
em dez economias consideradas maduras (Dinamarca, Irlanda, Canadá,
Chile, EUA, Reino Unido, Finlândia, Austrália, Islândia
e Holanda), que vão de 45% na Dinamarca a 130% na Holanda, com média
de 67%.
Já a alocação
de ativos em renda variável (equities), relativa a 2005, é
de 43% do total de ativos dos fundos na Holanda, 53% na Austrália,
44% no Japão, 37% na Suécia, 67% no Reino Unido e 62% nos
EUA. Chile, Finlândia e Canadá (anos distintos) estão
por volta de 40%.
Além de juros e questões
regulatórias, alguns estudos comprovam ainda que a alocação
tem relação com a idade média da população:
quanto mais velha, maior a participação da renda fixa, de
retorno mais rápido. Nos países citados, mais de 20% têm
65 anos ou mais. No Brasil somente 7,4% (dados de 2010).
Isso significa que os fundos
brasileiros dispõem de bastante espaço para o redirecionamento
de seus ativos. Não é necessário que eles se dediquem
à busca de liquidez acima da sustentabilidade e da rentabilidade
de longo prazo.
Todo o cenário, portanto,
indica maior participação dos investidores institucionais
como funding dos investimentos produtivos, com repercussões positivas
no mercado de capitais e no crescimento econômico. Fonte: Folha de S.Paulo (17/08/2012)
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