Aos 62 anos, a aposentada Eunice tem a rotina que sempre desejou porque se preparou para isso
Aos 62 anos, a aposentada Eunice Luz tem a rotina que sempre
desejou. Viaja para comprar malhas na Serra Gaúcha, passeia com as
netas e se ocupa em atividades como voluntária no Sindicato Nacional dos
Aposentados. "Consigo ter uma vida boa, porque me preparei para isso.
Só com o benefício do INSS, não ia dar", conta. Ex-funcionária de um
banco, ela se mantém com a renda da previdência privada, fundo para o
qual começou a contribuir por estímulo do pai, que dizia que era preciso
garantir o futuro. "Antigamente, as pessoas rezavam para parar de
trabalhar e, dois ou três anos depois, morriam. Com 60 anos, já eram
velhas. Mas meu pai dizia que o mundo estava mudando", lembra.
E mudou, de fato. Pela primeira vez na história, a maioria das
pessoas no mundo pode esperar viver além dos 60 anos. No Brasil, uma
criança nascida em 2015 pode esperar viver 20 anos mais do que se
tivesse nascido há 50 anos. Os dados são do recente Relatório Mundial de
Envelhecimento e Saúde, publicado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), e sinalizam que o Brasil está envelhecendo mais rapidamente do
que a média internacional. Em 2050, a população idosa brasileira será
três vezes maior do que é hoje - passará de 12,5% para 30% -, enquanto a
mundial duplicará. Em breve, o Brasil será considerado uma nação
envelhecida, classificação dada aos países com mais de 14% da população
acima de 60 anos.
Mas o que significa isso? Segundo o relatório da OMS, ser idoso não
quer dizer ser dependente, como se imaginava antigamente. Assim, é
possível viver mais com qualidade de vida, desde que os governos, as
empresas e as pessoas se preparem para isso. Se depender do planejamento
financeiro, no entanto, os brasileiros ainda têm muito a mudar.
Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC
Brasil) mostrou que 57% dos consumidores no País não poupam dinheiro
para a aposentadoria. "Quando nos aposentamos, queremos manter o padrão
de vida, por isso precisamos nos planejar com uma poupança além do que o
governo vai nos dar", orienta a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela
Kawauti.
Um relatório produzido pelo HSBC, que ouviu 16 mil pessoas em 15
países, apontou que aproximadamente três quartos dos aposentados não
realizaram pelo menos uma de suas expectativas ao parar de trabalhar. "É
frustrante faltar dinheiro para as pessoas realizarem o que planejaram,
porque é muito difícil prever o custo da aposentadoria. Por isso, é
importante procurar um consultor financeiro, assim como vamos a um
nutricionista ou a um mecânico", sugere o porta-voz brasileiro da
pesquisa, Alfredo Lália.
Apesar de se mostrarem despreparados para a aposentadoria, os
brasileiros são mais otimistas quanto ao futuro do que cidadãos de
países como Alemanha, Austrália e Canadá, como mostrou um estudo
realizado pelo grupo global Mongeral Aegon. Entre 15 países, o Brasil
ficou em segundo lugar no nível de otimismo para a aposentadoria, apenas
atrás da Índia. "No início do ano, ainda não era muito evidente a crise
econômica e política que atravessamos. Provavelmente, um resultado
diferente vai aparecer na pesquisa do ano que vem", projeta o
superintendente de projetos especiais do grupo, Leandro Palmeira.
Quando e como começar a guardar dinheiro para o futuro?
É consenso entre especialistas que quanto
antes se começa a poupar para o futuro, melhor. Na casa da família
Basso, por exemplo, os quatro integrantes já têm sua reserva em planos
de previdência privada, inclusive Rafael, de 2 anos, e Aline, de 3 anos.
"Eles não tinham nem um ano, e comecei a depositar pensando em pagar as
faculdades. Se não precisar, eles já podem usar para a aposentadoria",
conta o pai, Daniel Basso, de 36 anos, que contribui todo mês. Ele e a
esposa, Elisa Basso, consideram a poupança inacessível, pois não
pretendem mexer nela até se aposentar.
A família é o exemplo
do que os consultores financeiros recomendam: poupar com regularidade,
por um longo período. "Não só o que guardamos faz aumentar o rendimento
com o tempo, mas também os juros sobre juros, que fazem nossas economias
engordarem mais rápido", explica a economista-chefe do SPC Brasil,
Marcela Kawauti.
O primeiro passo do planejamento financeiro
deve ser olhar para o orçamento de forma ampla, contabilizar tudo o que
se gasta e o que se ganha e localizar onde é possível economizar. "Às
vezes, a economia em gastos invisíveis ajuda, como estacionamento,
sorvete e cafezinho", sugere. Em seguida, já dá para ter noção de um
valor mensal fixo que é possível investir.
Não há um único
valor mínimo por mês recomendado para todos, então o negócio é guardar o
máximo que puder e não se preocupar se parece pouco. "Temos uma falsa
sensação de que, se sobrou pouco, não vale a pena economizar. Mas R$
50,00 por mês, no final de um longo período e com alta rentabilidade,
pode gerar uma boa renda", indica o consultor em finanças pessoais e
professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (Pucrs) Alfredo Meneghetti Neto, que recomenda aplicar 10% da
renda mensal em diferentes investimentos, incluindo aplicações como
previdência privada, caderneta de poupança, títulos do Tesouro Direto,
fundos de renda fixa e ações. Ele só descarta depender apenas da
Previdência Social, cujo teto é de R$ 4.662,43.
Previdência atrai jovens e maiores contribuições
Existem diversos tipos de investimento para
poupar recursos para o futuro. A previdência privada, no entanto, é o
único deles que consegue ser transformado em renda mensal direto na
conta, o que faz dela um investimento propício para a aposentadoria.
Uma pesquisa da Brasilprev realizada entre seu 1,8 milhão de
clientes, fornecida com exclusividade ao Jornal do Comércio, apontou que
a contribuição média em previdência privada na região Sul cresceu 8%
entre maio de 2014 e maio deste ano. A contribuição média no Rio Grande
do Sul, de R$ 377,00 por mês, é maior que a da região, de R$ 340,00.
"O ticket médio cresce devido ao aumento da renda média da
população nos últimos anos e da consciência de que é preciso poupar",
explica a gerente de inteligência e gestão de clientes da Brasilprev,
Soraia Fidalgo.
Planos de previdência para jovens e crianças também estão cada vez
mais populares. Na Brasilprev, entre cada três planos, um é de alguém
com menos de 21 anos. Soraia conta que entre os clientes de até 30 anos,
a maioria das decisões de fazer a previdência privada parte dos pais,
pensando em projetos educacionais ou profissionais.
É o caso dos irmãos Luiza e Guilherme Menezes, de 25 e 29 anos,
respectivamente, que ganharam um presente diferente do pai, Valmir
Menezes, no último Natal: um plano de previdência privada. "Trabalhei no
serviço público e recebo meu salário integral como aposentado, mas
percebi que esses benefícios estão terminando. Então, propus ajudá-los a
buscar alternativas na iniciativa privada", conta o consultor agrônomo.
Seu projeto é contribuir com depósitos anuais, até que os filhos
consigam investir com recursos próprios. "Todo início de carreira é
difícil. Por enquanto, acho que consigo formar uma boa poupança",
comemora.
A idade sinalizadora de que está na hora de planejar a
aposentadoria é 35 anos, como sugere o consultor financeiro e professor
de Economia da Pucrs Alfredo Meneghetti Neto. Ele considera que uma das
vantagens da previdência privada é poder adquirir planos diferentes,
conforme o perfil do investidor, mais conservador ou agressivo.
Esse investimento também tem incentivos fiscais. O Imposto de
Renda, por exemplo, é cobrado apenas no momento do resgate ou do
recebimento da renda. Meneghetti, no entanto, destaca que, ao procurar o
banco ou a seguradora, é preciso já ter buscado informações prévias.
Ao optar por planos de previdência privada, a economista-chefe do
SPC Brasil, Marcela Kawauti, recomenda comparar as taxas de
administração e de carregamento cobrada exclusivamente em planos de
previdência privada de uma instituição para a outra, ou tentar
negociá-las com o gerente.
Também é necessário ter cuidado ao escolher o tipo de plano e ter
claro que previdência privada é um investimento de longo prazo,
favorável a quem quer transformá-lo em renda no futuro. "É melhor não
usar esse dinheiro para comprar um carro, por exemplo, por causa da alta
tributação. A previdência privada não é vantajosa para retirar o
dinheiro de uma vez só", orienta.
Quais os tipos de previdência privada?
A previdência privada é complementar à
Previdência Social, aquela paga pelo INSS aos trabalhadores, por isso
também é chamada de previdência complementar. Mas existem duas
modalidades:
- Previdência complementar aberta: É comercializada por bancos e seguradoras, e pode ser adquirida por qualquer pessoa ou empresa. É regulada e fiscalizada pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), ligada ao Ministério da Fazenda.
- Previdência complementar fechada: Também conhecida como fundos de pensão, é mantida por instituições sem fins lucrativos e organizada em planos coletivos. É permitida apenas para funcionários de empresas, servidores do governo ou associados de entidades de classe. É fiscalizada pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC), ligada ao Ministério da Previdência Social.
Preste atenção em seus direitos ao adquirir planos
O sucesso de um plano de previdência
privada depende de dois momentos: a contratação e o acompanhamento. Ler
com atenção as condições do que se está contratando é essencial. Todas
as taxas de carregamento e de administração devem estar previstas no
contrato, como explica o advogado e presidente da OABPrev-RS, Jorge
Fara. "É um contrato de longo prazo, por isso é importante estar bem
informado para adquirir um plano que atenda a seus objetivos no futuro."
A
rentabilidade deve ser acompanhada uma vez por ano, observando se está
de acordo com a que foi projetada. Se estiver abaixo do esperado, é
possível fazer mudanças no plano. A portabilidade é outro direito. Ela
possibilita a troca de banco ou seguradora caso o consumidor considere
as taxas de administração praticadas elevadas, ou não estiver satisfeito
com o atendimento. Qualquer investidor pode migrar seus recursos de um
plano para outro sem pagar impostos.
Fonte: Jornal do Comércio (30/10/2015)
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