quarta-feira, 4 de julho de 2018

Fundos de Pensão necessitam incentivar critérios sustentáveis em seus processos de investimentos


A Previ quer que outras entidades de previdência complementar incorporem às suas decisões de investimento os princípios ambientais, sociais e de governança corporativa e integridade – conhecidos como ASGI -, a exemplo do que já faz. A entidade, o maior fundo de pensão da América Latina, também faz coro com organizações sobre a necessidade de se criar métricas para quantificar os riscos e retornos que a adoção destes critérios têm ou não sobre as aplicações.

O fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (BB) lançou em junho o guia de melhores práticas de ASGI em investimentos, que contém diretrizes e orientações para demais entidades interessadas em adotar ou aprimorar o tema. "Queremos transformar o nosso papel de ator para indutor e ajudar as outras fundações a também elevarem a régua", diz o presidente da entidade, Gueitiro Genso. O executivo foi indicado ontem para a vice-presidência de distribuição de varejo e gestão de pessoas do BB.

O executivo defende o papel dos investidores institucionais para aumentar a relevância do tema. "Quando a Previ questiona se uma companhia insere critérios de responsabilidade socioambiental no planejamento estratégico e, se outros fundos de pensão fazem o mesmo, essa empresa vai levar em consideração que todos os investidores estão preocupados com as questões ambientais e de sustentabilidade", afirma Genso.

O presidente da Previ reconhece que o Brasil ainda não tem a mesma cultura de sustentabilidade de países mais avançados e não é possível esperar o mesmo nível de exigência quanto ao tema. "Mas, na medida do possível, vamos tentar estimular isso cada vez mais", afirma. Para ele, os critérios podem ser incorporados por outros fundos de pensão, sem custos adicionais. "Não é induzir que a entidade desenvolva uma metodologia ou que contrate uma empresa para fazer isso. A fundação vai questionar o investimento e pedir um ‘check list’ das informações necessárias sobre o tema", completa o executivo.

A Previ é signatária da iniciativa internacional Princípios para o Investimento Responsável (PRI), que estimula a inserção destes critérios nos processos de investimento. Há outros 11 fundos de pensão brasileiros, como Petros (Petrobras), Funcef (Caixa Econômica Federal), Valia (Vale), Real Grandeza (Furnas) e Forluz (Cemig), que também aderiram ao programa. A tendência é que o PRI aprimore a análise qualitativa e incentive os signatários a melhorar a qualidade as informações. E a Previ poderá ajudar outras fundações a incorporar os critérios nas políticas de investimentos, que começam a ser elaboradas para o próximo ano.

O executivo cita outras iniciativas no mundo sobre o assunto, como o trabalho da Comunidade Europeia para melhorar o ambiente regulatório e a gestão de investimentos. E o Banco Mundial anunciou no final do ano passado que não financiará projetos de óleo e gás a partir de 2019, como apoio aos países para cumprir os objetivos do Acordo de Paris.

No Brasil, a regulação dos fundos de pensão passou a prever o assunto desde 2009, quando foi editada a resolução 3.792. De forma genérica, a norma determinava que a política de investimento de cada plano deveria "conter a observância ou não" de princípios de responsabilidade socioambiental. A regra foi substituída no final de maio pela resolução 4.661, com uma redação diferente. Agora, diz que a entidade deve considerar na análise de riscos, "sempre que possível", os aspectos relacionados à sustentabilidade econômica, ambiental, social e de governança dos investimentos.

O presidente da Previ afirma que o tema passou da fase de militância para uma questão econômica. "Os critérios ASGI afetam as empresas pelo risco e pela oportunidade. Isso de alguma forma tem impacto sobre o longo prazo e nosso olhar de investidor institucional é de longo prazo", diz.

O próximo passo é a quantificação econômica destes impactos. "Há um debate no mundo. Já vimos diversos prêmios Nobel de economia que conseguiram fazer análises de ‘valuation’ e desenvolverem métricas de risco de crédito, de mercado. Agora é incentivá-los a criar uma metodologia de ASGI e publicar para grandes bancos como J.P. Morgan, Morgan Stanley, Merrill Lynch começar a trazer isso também para mercados emergentes, de forma padronizada."

Fonte: Valor (04/07/2018)

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