segunda-feira, 15 de outubro de 2018

TIC: Anatel, com apoio do BNDES, propõe novas regras para destravar 'Fust'. Trocar investimentos na telefonia fixa por banda larga


Uma proposta capitaneada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) busca tornar viável, depois de quase duas décadas, o uso dos recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust).
  
Minuta de projeto de lei aprovada no conselho da Anatel, e já encaminhada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), prevê uma série de mudanças no fundo. Este foi criado em 2000, na Lei Geral de Telecomunicações, para permitir a universalização dos serviços de telefonia fixa e voz.  

As alterações previstas podem aumentar a arrecadação do Fust para R$ 3,16 bilhões por ano, três vezes mais do que o valor atual, nos cálculos da agência (hoje a arrecadação é de R$ 1 bilhão por ano). O objetivo é usar esse dinheiro na expansão da banda larga, em especial em regiões menos atendidas, como Centro-Oeste, Norte e Nordeste. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) seria o agente financeiro.  

Cabe ao MCTIC enviar o anteprojeto de lei à Casa Civil. Esta, por sua vez, remeteria o projeto ao Congresso. A sugestão da Anatel é que isso ocorra ainda no governo Temer. Se não acontecer, a agência falará sobre o tema com o novo governo, a partir de janeiro.  

"O Brasil não pode esperar mais tempo sem infraestrutura de banda larga", diz o conselheiro da Anatel, Aníbal Diniz. Em quase 20 anos, o Fust arrecadou cerca de R$ 20 bilhões, mas não chegaram a ser usados R$ 300 mil. A agência identificou que há, no total, 80 projetos no Congresso que buscam dar destinação aos recursos dos Fust, sendo 61 deles na Câmara e 19 no Senado. Nenhum deles foi adiante. A receita do Fust advém da cobrança de uma alíquota de 1% sobre o faturamento bruto das operadoras de telefonia.    

Pela proposta da Anatel, essa alíquota passará para 3%. Em compensação, se prevê redução de R$ 2 bilhões anuais na arrecadação do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), cuja receita depende da cobrança de taxas sobre as operadoras. A Taxa de Fiscalização de Funcionamento (TFF), a principal delas, incidente sobre estações móveis (telefones celulares) cai de R$ 8,85 por ano para R$ 1,34 por ano. No caso da estação de satélites, a minuta de projeto de lei prevê a redução da Taxa de Fiscalização de Instalação (TFI) de R$ 201,12 por instalação para R$ 26,83, uma redução de 87%. Assim, a arrecadação do Fistel cairia de R$ 2,867 bilhões para R$ 826 milhões por ano.  

Na visão de Diniz, há três razões que explicam a não utilização do Fust. Uma razão é econômica e se refere ao fato de os ministérios da Fazenda e do Planejamento não abrirem mão do dinheiro do fundo para compor o superávit primário. Outra razão é política, uma vez que até hoje não houve interesse dos governos em dar uma solução ao tema. Por fim, está a questão jurídica, que passa pelo fato de o Fust prever, originalmente, que os recursos deviam ser usados para investimentos em telefonia fixa. Hoje, porém, não faz sentido instalar orelhões e sim expandir a rede de banda larga.  

Uma das principais mudanças propostas aos Fust é que os recursos possam ser usados na modalidade de empréstimo "reembolsável" (crédito), o que não estava previsto na lei do fundo. Originalmente, o Fust foi pensado para ser usado somente na modalidade "não-reembolsável" (a fundo perdido) de modo a permitir investimentos em regiões que não são economicamente viáveis.  

"O empréstimo reembolsável permite o uso dos recursos [do Fust] sem impacto fiscal, o que é importante em momento de ajuste das contas públicas", disse uma fonte do BNDES.  

A ideia é utilizar os recursos para financiar projetos de provedores regionais de internet, que já representam cerca de 20% do mercado. Poderiam ser replicados casos como o da Brisanet, empresa que contratou financiamento com o BNDES em junho de 2016 para expandir a rede de banda larga em 14 municípios do interior do Ceará. A operação permitiu crescimento de 202% no número de acessos de banda larga nessas localidades - de 21 mil para 64 mil acessos - até julho de 2018. "Queremos chegar em uma ampliação significativa dos acessos de banda larga fixa", diz a fonte do BNDES.  

A proposta da Anatel prevê ainda outra modalidade de aplicação dos recursos do Fust. O fundo poderá dar "garantia" a operações de crédito do BNDES de maior risco, como levar fibra ótica a populações ribeirinhas na Amazônia. Nessa modalidade, o BNDES estrutura a operação, concede o crédito, mas se não houver demanda o Fust paga o banco. Na proposta da Anatel, se prevê que o Fust seja administrado por um conselho gestor, integrado pelo MCTIC e outros ministérios, além de Anatel e BNDES.  

A densidade de banda larga fixa (número de acessos por 100 habitantes) é de 13% no Brasil, bem distante dos 30% dos países desenvolvidos. Segundo a Anatel, 2.345 municípios, de um total de 5.570 no país, não têm fibra. Cerca de 14% da população está desatendida.

Fonte: Valor (15/10/2018)

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