quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Fundos de Pensão: Em meio à turbulência eleitoral, rentabilidade de fundos de pensão fica abaixo da meta


Até agosto, desempenho foi de 4,58%, inferior à média esperada, que é de 6,38%
Na Sistel, desempenho do plano CPqDPrev foi de 7,4%

Os fundos de pensão, cujo setor já acumula déficit bilionário, não têm conseguido cumprir suas metas de rentabilidade. Em ano de turbulência eleitoral e de greve de caminhoneiros, os planos renderam em média 4,58% no ano até agosto, segundo levantamento exclusivo da consultoria Aditus. O desempenho é quase dois pontos abaixo da meta atuarial média dos fundos, que era de 6,38%. Na prática, quando não batem a meta, os fundos estão aumentando seus déficits.

O estudo da Aditus abrange 111 fundos de pensão, que têm patrimônio de cerca de R$ 193 bilhões em investimentos. O levantamento não compreende grandes fundos de pensão de estatais, como Previ (funcionários do Banco do Brasil) e Petros (da Petrobras), que concentram parcela desproporcional dos investimentos do setor.

— O segundo trimestre do ano foi provavelmente o pior dessa indústria em pelo menos 10 anos. Além da greve dos caminhoneiros e da forma como as eleições impactaram o mercado, os juros este ano estão baixos, tornando mais difícil atingir a meta. Para piorar, no momento da greve, a inflação acelerou, aumentando a meta dos fundos — explicou Guilherme Benites, da consultoria Aditus.

Desempenhos inferiores à meta são um problema para planos do tipo Benefício Definido - modelo mais antigo, pelo qual o participante sabe desde o início quanto vai ganhar na aposentadoria - e Contribuição Variável, mais flexível. Isso porque esses dois tipos de planos acumulam déficit. Já o plano de Contribuição Definida funciona como uma espécie de capitalização, em que o benefício é determinado pelo desempenho dos investimentos feitos pelo fundo com as contribuições do participante ao longo do tempo. Como não têm compromisso de pagar nenhum valor específico, esses planos não registram déficits.

Os planos de Benefício Definido registraram rentabilidade de 5,73% no ano segundo a Aditus, o melhor desempenho das três categorias porque, por serem mais conservadores, têm mais títulos públicos de renda fixa em suas carteiras. Com a inflação mais acelerada depois da greve, esses papéis acabaram rendendo mais.

Entre os segmentos de investimento, as carteiras de ações dos fundos de pensão foram as que mais sofreram, registrando prejuízo de 1,27% no ano, isso porque toda a conjuntura eleitoral e a greve fizeram com que a Bolsa apagasse seus ganhos no ano. A renda fixa, por sua vez, rendeu 5,03% para o setor até agosto.

As melhores aplicações do setor foram no exterior, com uma rentabilidade de 16,40%. Contribuíram para o resultado o bom desempenho do mercado de ações americano, embalado pelo otimismo após a aprovação da reforma tributária do governo Trump e pela divulgação de bons números sobre a economia dos EUA. Mas o avanço de dois dígitos do investimento no exterior pouco ajudou o setor de fundos de pensão, já que essa classe de ativos representa menos de 1% das carteiras.

— O investimento no exterior tem uma participação mínima na carteira das fundações. Mas já temos muitos fundos querendo aplicar mais lá fora como alternativa de diversificação, diante da queda de juros no Brasil. Acredito que, durante a formulação das novas políticas de investimentos para os próximos anos, depois das eleições, esse apetite maior vai aparecer — acrescentou Benites.

Em dezembro, a Previc — autarquia que regula o setor de previdência complementar fechada — mudou as regras para investimento no exterior, acabando com a restrição de investimento em fundos que detenham 5% de ativos emitidos por um único emissor e flexibilizando a necessidade de “grau de investimento” (selo de bom pagador) para papéis emitidos lá fora. Em contrapartida, passou a exigir que o fundo possua ao menos 12 meses de histórico de performance e diminuiu o limite de aplicação num único fundo de 25% para 15%.

O setor de fundos de pensão como um todo encerrou o primeiro semestre com déficit líquido de R$ 29 bilhões, informou no mês passado a Abrapp, associação que reúne as entidades do setor. O valor foi resultado de perdas de R$ 49 bilhões em 83 fundações e de ganhos de R$ 20 bilhões em 141 instituições. Apesar de o déficit líquido ter se reduzido em relação aos R$ 57,9 bilhões do ano passado, o resultado final do setor está no vermelho desde 2014, quando teve início a crise econômica.

Fonte: O Globo (02/10/2018)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Este blog não se responsabiliza pelos comentários emitidos pelos leitores, mesmo anônimos, e DESTACAMOS que os IPs de origem dos possíveis comentários OFENSIVOS ficam disponíveis nos servidores do Google/ Blogger para eventuais demandas judiciais ou policiais".