Em cinco meses, negócios quase alcançam o valor transacionado em 2020 inteiro
O movimento de fusões e aquisições envolvendo operadoras de telecomunicações e provedores de acesso em banda larga no Brasil somou US$ 92,4 bilhões (mais de R$ 467,9 bilhões, pelo câmbio de ontem) de 2010 a 2020, referentes a 95 transações. No ano passado, a cifra alcançou US$ 4,5 bilhões (acima de R$ 22,79 bilhões, envolvendo 16 acordos, o maior número na década no país. Esse total, na verdade, ainda é maior, pois omite negócios cujos valores não são revelados pelas partes. Só de janeiro a maio de 2021 foram fechados nove acordos por US$ 4,1 bilhões (R$ 20,76 bilhões), quase o total do ano passado inteiro.
Nos primeiros cinco meses de 2021, o mercado seguiu aquecido, com 9 acordos assinados no país, de acordo com estudo da RGS Partners, que presta assessoria financeira em fusões, aquisições e captação de recursos. A RGS assessorou 7 transações do mercado em 2020. À frente da assessoria estão os irmãos Guilherme Radwanski Stuart e Renato Radwanski Stuart, sócios-fundadores egressos do banco BTG Pactual.
O Brasil é apenas uma fração do que ocorre no cenário mundial, onde, em dez anos, ocorreram 4.691 transações que totalizaram em torno de US$ 1,4 trilhão. A diferença é que 2020 não foi o melhor ano para fusões e aquisições em telecomunicações em nível global, se considerado o período de dez anos. Foram realizadas 430 transações no ano, por US$ 182,85 bilhões. Embora o volume de recursos transacionados seja 156,3% maior que em 2019, perde para 2013, quando os acordos somaram US$ 216,44 bilhões.
As fusões e aquisições analisadas incluem ativos de fibra óptica, torres de celular, data centers, telefonia móvel e até mensageria multimídia, como o caso da Microsoft comprando o Skype, explica Fábio Jamra, que atuava no banco de investimento o Deutsche Bank antes de se tornar sócio da RGS Partners. A análise inclui também as vendas de ativos da Oi. A maioria dos negócios realizados no setor envolve operação de celular e torres, responsáveis pelo forte movimento de consolidação no exterior.
No mercado brasileiro, metade das transações é com provedores. Dos nove acordos de aquisição firmados em 2021, três são com provedores de fibra e um de empresa de cabo submarino. Na conta entra o compromisso para venda do ativo de fibra óptica da Oi para fundos do BTG Pactual, com a ressalva de que ainda será feito o leilão judicial para a venda ser concluída.
Na década estudada, o Brasil alcançou dois picos com 15 transações cada, em 2011 e 2015, com forte desaceleração nos anos seguintes. Em 2017, houve apenas duas operações de compra, com melhora acentuada a partir de 2018. Esse mercado em transformação, que se consolida cada vez mais, deverá ganhar mais um fator de mudança com a chegada da telefonia móvel de quinta geração (5G), com leilão de radiofrequência previsto para este ano.
A empresa que liderou o maior número de transações no mundo (33) na década foi a Rostelecom, maior provedor de serviços digitais da Rússia. Em valores, a maior compradora é a americana AT&T, com negócios que atingiram US$ 142 bilhões no período. Na lista também figuram a Oi, por conta da incorporação da Tele Norte Leste, em 2012, por US$ 31,5 bilhões; a mexicana América Móvil, dona da Claro no Brasil, com US$ 48 bilhões, e a American Tower, que também atua no Brasil, com US$ 16 bilhões em aquisições nos EUA.
“Não dá para dizer que a Oi foi uma grande consolidadora”, reconhece Jamra, ao ser questionado sobre a inclusão da tele no ranking. De fato, a operadora cresceu com aquisições. Mas, ao longo dos anos foi se desfazendo dos ativos, mesmo antes de registrar seu pedido de recuperação judicial, em junho de 2016, com uma dívida de R$ 65,4 bilhões. A expectativa do mercado é que ao fim do processo saia uma empresa saudável, porém muito menor, após vender a maioria de seus ativos.
Outro ponto analisado pela RGS Partners é o perfil do comprador. Na média dos dez anos, no mundo, 89% eram compradores estratégicos, que não apenas colocam o capital na empresa, mas também querem se envolver no desenvolvimento da operação. Os 11% restantes são compradores financeiros, que só colocam o dinheiro e esperam pelo retorno.
No caso do Brasil, de todos os negócios realizados, 81% envolveram compradores estratégicos e 19% financeiros, diz Jamra da RGS. Além disso, 74% eram compradores estabelecidos no Brasil e 26% de outros países.
Nos últimos dois anos, houve aquecimento do mercado local. Várias empresas se capitalizaram com fundos de private equity e partiram para as compras, principalmente de provedores. Seis ou sete consolidadores são de médio porte. Fortalecidos com aportes de fundos e faturamento anual em torno de R$ 200 milhões, passaram a comprar provedores menores.
Os alvos para compra estão principalmente em cidades do interior dos Estados. São pequenos provedores que atuam em duas a três cidades e faturam de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões por ano. Abaixo desse teto os fundos não se interessam, pois é um processo trabalhoso para um retorno baixo. Os fundos não querem perder tempo, diz Jamra.
Para se tornarem atrativas, essas pequenas empresas têm que se fundir. Não basta se aglomerarem para exibir um bloco grande e mais forte de negócios, que faz compras e outras atividades conjuntamente, mas cada uma com um CNPJ diferente. O comprador não quer fazer uma diligência em cada uma delas.
Jamra observa que em 2019 e 2020 só empresas com dinheiro de private equity fizeram aquisições. Mas em 2021, aparecem provedores com 100 mil a 150 mil assinantes comprando outros menores, com 10 mil a 15 mil clientes. Muitos desses negócios nem são divulgados na mídia por serem muito pequenos.
“Todo mundo nesse mercado vai querer vender em algum momento, é negócio de escala”, diz Jamra. Em sua opinião, quem quiser vender tem que se apressar. A entrada da Vivo com redes de fibra e outros serviços nas pequenas cidades, os investimentos que a Oi está fazendo em fibra, os fundos de private equity fazendo aportes nessas redes e o lançamento da tecnologia 5G vão mudar o perfil desse mercado.
Com a competição mais intensiva, a oferta de internet vira negócio de mais escala e com menos margem de lucro. “Os provedores regionais vão sofrer”, opina o sócio da RGS. Ele destaca que o tíquete médio de internet, que já foi de R$ 130 a R$ 140 por mês, hoje está na faixa de R$ 70 a R$ 80.
“Muitos [provedores] não querem vender agora porque querem crescer mais. Eles têm medo das novas tecnologias, principalmente 5G. Com as grandes empresas entrando, vão ter que reduzir o preço”, afirma Jamra. “O pequeno provavelmente vai morrer com o mico na mão, pois não será comprado onde a Vivo entrar.” Por essa análise, para não ficar com o mico, cada um precisa estudar com cuidado o momento de investir ou sair do negócio.
Fonte: Valor (11/06/2021)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"Este blog não se responsabiliza pelos comentários emitidos pelos leitores, mesmo anônimos, e DESTACAMOS que os IPs de origem dos possíveis comentários OFENSIVOS ficam disponíveis nos servidores do Google/ Blogger para eventuais demandas judiciais ou policiais".