segunda-feira, 29 de julho de 2019

Aposentadoria: "Devemos buscar alternativas racionais”, diz especialista em finanças pessoais sobre renda na aposentadoria



Professor e autor de livros sobre educação financeira diz que o brasileiro pode assumir o papel de banqueiro de seu próprio dinheiro e conseguir bons rendimentos

Aplicações no mercado financeiro estão entre os meios de alcançar mais segurança na terceira idade, afirma Mauro Halfeld

Viver da aposentadoria da Previdência Social tem se tornado um objetivo distante e, por isso, nunca foi tão importante planejar uma reserva particular para a velhice, avalia Mauro Halfeld, professor da Universidade Federal do Paraná, colunista da rádio CBN e autor de cinco livros sobre educação financeira, entre eles Investimentos — Como Administrar Melhor seu Dinheiro, da editora Fundamento. Segundo Halfeld, aplicações no mercado financeiro e na previdência privada são meios de alcançar mais segurança na velhice. Confira a entrevista concedida a Zero Hora.

Com a reforma da Previdência, aumentou a importância de formar uma reserva particular para a aposentadoria?
Sim. Como a aposentadoria oficial vai se tornar um objetivo ainda mais distante, o brasileiro deve dedicar mais esforços para tentar conseguir sua independência financeira. Para isso, ele terá que economizar mais e investir melhor.

Uma reserva particular é preferível em relação aos planos de previdência complementar?
Os planos de previdência complementar estão melhorando aos poucos. Hoje, já temos gestores mais competentes tentando oferecer resultados melhores em PGBLs e VGBLs. Mas a maioria desses produtos ainda cobra taxas altas de administração e oferece rendimentos pífios. Diante deste cenário, o brasileiro pode montar uma carteira de investimentos simples com Tesouro Direto, fundos imobiliários e fundos de ações negociados em Bolsa (ETFs). Ou seja, um brasileiro comum pode assumir o papel de banqueiro do seu próprio dinheiro e conseguir rendimentos muito interessantes. Além disso, o tradicional investimento em imóveis também terá seu lugar no futuro.
Os planos de previdência privada estão melhorando, mas a maioria ainda cobra taxas altas e oferece rendimentos pífios.
Mauro Halfeld - Professor e escritor
Em algum aspecto, vale a pena recorrer aos planos de previdência privada? Como avaliar quando valem ou não a pena?
O critério-chave é a taxa de administração. Se ela for superior a 1% ao ano, melhor esquecer do produto, porque ele vai render pouco ou terá um nível de risco muito alto. Planos patrocinados pelo empregador geralmente são bem interessantes quando há uma contribuição do patrão. Além disso, os planos coletivos são interessantes porque contam com a administração de grandes bancos e seguradoras e cobram taxas menores.

Os fundos de pensão geralmente oferecem a segurança desejada para esta fase da vida?
Hoje, sabemos que fundos de pensão de estatais, ou mesmo privados, como fundo da Varig, tiveram muitos problemas. Os beneficiários terão que vigiar muito a administração desses fundos de pensão, porque fraudes ou má gestão podem se repetir. O melhor é não depen
der só disso para criar patrimônio para a aposentadoria.

Como deve proceder quem chegou à faixa dos 50 anos de idade mas, por alguma razão, ainda não havia iniciado uma reserva para aposentadoria?
Ele vai precisar acelerar o passo, ou seja, poupar mais e arriscar um pouco mais. Mas dá tempo, desde que ele esteja ciente de que seu caminho será mais árduo. Quando falo em risco maior, refiro-me a saber conviver com as oscilações de uma carteira bem diversificada de ações ou de fundos imobiliários. No longo prazo, esses investimentos devem render bem mais do que a renda fixa, embora oscilem bastante no dia a dia. 

E quando estiver mais próximo do momento da aposentadoria? 
Neste caso, o investidor deve tirar o pé do acelerador, ou seja, tornar-se mais conservador. Ele deve reduzir sua exposição a produtos mais arriscados e aumentar o percentual destinado à renda fixa.

E quando já se está aposentado, como lidar com um orçamento limitado e sem perspectiva de incremento na renda? 
O brasileiro precisa pensar mais na hipótese de se mudar para uma cidade menor na aposentadoria. A qualidade de vida pode ser melhor e os custos dos planos de saúde serão reduzidos substancialmente. Sem falar no IPTU e no custo dos serviços necessários para apoiar os mais idosos. Ou seja, não dá mais para sonhar em morar em um grande apartamento, com uma taxa condominial alta, e pagar um plano de saúde caríssimo só para morar perto dos filhos, que talvez nem tenham tempo para cuidar dos pais idosos, porque perdem muito tempo no trânsito de uma grande cidade. Temos que buscar alternativas mais racionais. No futuro, certamente teremos no Brasil o fenômeno conhecido como reverse mortgage, sistema em que um idoso refinancia seu imóvel quitado para ter uma renda extra (ele vende lentamente seu imóvel, mas continua morando no mesmo lugar).

Como os mais velhos devem abordar o assunto aposentadoria com os filhos ou netos?
É um assunto crucial. Não há tempo a perder nisso. Não podemos aceitar pagar taxas caras para que produtos ruins finjam que administram nosso dinheiro. Os mais velhos precisam aprender o básico de finanças pessoais e precisam orientar seus filhos. Além disso, os mais velhos precisam educar os filhos para que eles sejam realmente independentes financeiramente.

O planejamento da aposentadoria deve se tornar uma preocupação a partir de qual momento de vida ou em que idade? 
A partir do momento em que o jovem entra no mercado de trabalho. Quanto antes ele começar, mais fácil será. Quem demora a cuidar de sua previdência terá um desafio muito maior e vai enfrentar muito mais riscos.

Fonte: Gauchazh (26/07/2019)

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