segunda-feira, 29 de julho de 2019

Fundos de Pensão: Fundações gestoras de fundos de pensão resistem a buscar mais risco



Os fundos de pensão nunca tiveram tanto dinheiro em caixa à espera de uma oportunidade de investimento, apesar da necessidade de diversificação do portfólio em um cenário de juro na mínima histórica.
A questão é que essa postura conservadora pode comprometer a rentabilidade no futuro e a renda da aposentadoria dos participantes, alerta a consultoria Aditus.

O recente vencimento de cerca de R$ 90 bilhões de NTN-B para 2019, títulos públicos indexados à inflação, reforçou a posição de caixa de muitas fundações no Brasil. Considerando apenas os clientes da Aditus, de um total de R$ 220 bilhões em investimentos, de 15% a 20% estão em caixa e poderiam ser direcionados para aplicações mais arriscadas, estima o sócio da empresa, Guilherme Benites. Ou seja, um valor estimado entre R$ 30 bilhões e R$ 40 bilhões.

A movimentação até agora dos fundos de pensão em busca de diversificação do portfólio tem sido lenta, como se estivessem em compasso de espera a exemplo do investidor estrangeiro, especialmente depois de o Ibovespa ter atingido o patamar dos 100 mil pontos.

Toda a indústria de fundos de pensão reúne aplicações que chegam perto de R$ 900 bilhões. Quase 75% das alocações estão em renda fixa. Os títulos do Tesouro chegam a quase 20% do total — um patamar que permanece constante ao longo dos últimos anos, mesmo com a queda dos juros. No passado, com a Selic mais alta, a aplicação por si só era suficiente para que o setor atingisse as metas atuariais e garantisse o pagamento dos benefícios dos participantes.

O jogo virou com a queda dos juros, que já estão nas mínimas. E com a percepção do mercado de que esse nível deve permanecer por tempo prolongado, a dinâmica dos investimentos tem de mudar.

Com perfil muito exposto a títulos públicos, a Fundação Real Grandeza, dos funcionários de Furnas e Eletronuclear, se antecipou a essa necessidade e no início do ano vendeu títulos NTN-B. Com parte dos recursos, triplicou a alocação em bolsa para 15% da carteira, o que lhe garantiu ganhos acima da meta nos dois planos em 2019 até junho. Mas, ainda assim, tem quase R$ 2 bilhões em caixa à espera de uma decisão sobre novas aplicações. Entre os interesses da fundação estão os fundos multimercados e investimentos no exterior, segundo o presidente Sérgio Wilson Ferraz Fontes.

Uma decisão final vai depender de um novo estudo de ALM (Asset Liability Management) — mecanismo de gestão de ativos e passivos previsto para ser concluído em setembro. “Temos que ver o que o ALM nos diz e analisar a sensibilidade do mercado também”, disse Fontes.

Benites, da Aditus, lembra que a adição de novas classes de ativos à composição da carteira contribui de forma relevante para aumento de retorno e diminuição de risco. “Uma carteira pouco volátil no presente pode trazer resultados frustrantes em termos de acumulação de recursos, o que pode gerar renda muito abaixo da expectativa na aposentadoria”, alerta.

O levantamento da consultoria verificou que, com apenas 1% ao ano de retorno adicional, a renda na aposentadoria pode variar mais de 25%. A Aditus elaborou diferentes cenários considerando o perfil de um participante com expectativa de vida de 80 anos e que já possui uma reserva de R$ 50 mil em investimentos, recebe R$ 5 mil por mês e contribui com R$ 300 por mês para um plano de previdência, com uma contrapartida de outros R$ 300 do empregador.

Com 35 anos de contribuição a uma rentabilidade anual de 2,5%, o benefício seria de R$ 2.748,40. Com ganhos de 3,5%, o valor já seria de R$ 3.457,17. Já se essa rentabilidade anual for de 5,5%, o benefício sobe para R$ 5.599,52. “Assumir riscos em cenários de juros baixos não é uma opção, mas sim uma necessidade. E, para assumir riscos de forma eficiente, a diversificação é o caminho correto”, destaca o estudo.

“Estamos discutindo com muita atenção os impactos da queda da taxa de juros sobre a rentabilidade do nosso portfólio. Os fundos de pensão têm necessidade de se adaptar a essa nova realidade”, diz o presidente da Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, Renato Villela. Os investimentos no exterior estão entre os pontos de interesse.

No momento, a fundação está definindo as regras de entrada no segmento. “Estamos discutindo o assunto. A vantagem é que já temos alguns ‘benchmarks’, outras fundações já operam nesse mercado”, explica. A fundação também estuda retomar os investimentos em fundos de investimentos em participações (FIPs).

Na avaliação da Aditus, muito provavelmente a bolsa brasileira deve ser o ativo que mais vai receber recursos, por meio de fundos de investimento. Assim, as fundações também precisam dimensionar o risco dos gestores selecionados. O impacto dos juros baixos não se restringirá à macroalocação, mas também será sentido pelos gestores das carteiras, que provavelmente necessitarão de maior risco e alavancagem, nos mandatos em que isso é permitido.

Fonte: Valor (28/07/2019)

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