terça-feira, 4 de junho de 2019

Aposentadoria: Guedes volta a defender capitalização sem aporte patronal, só empregados contribuirão!


Modelo proposto pelo ministro da Economia, sem aporte patronal, se provou um fracasso na maioria dos países onde foi adotado ao pagar baixas pensões aos aposentados e resultar no aumento da desigualdade social

O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a defender o sistema de capitalização sem contribuição patronal. Segundo Guedes, exigir aporte dos patrões no modelo previsto na reforma da Previdência vai gerar desemprego entre os jovens. A afirmação foi feita nesta terça-feira 4, na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.

No sistema de capitalização, cada indivíduo será responsável por gerir uma poupança individual durante a sua vida laboral para ter um benefício proporcional ao montante poupado.

“Pode botar [encargo sobre as empresas], mas começa a ter desemprego entre os jovens também”, afirmou o ministro, de acordo com a Folha de S. Paulo.

Esse modelo é idêntico ao implantado no Chile na década de 1980. Apenas trabalhadores contribuem com 10% do seu salário em contas individuais geridas por empresas privadas, chamadas de administradoras de fundos de pensão (AFP).

O resultado é que, atualmente, 80% dos aposentados daquele país recebem menos de um salário mínimo (US$ 424) de benefício, e quase metade (44%) está abaixo da linha da pobreza, segundo o economista chileno Andras Uthoff.

“O grande problema desse sistema é que aqueles que ganham pouco, trabalham sem registro em carteira ou passam boa parte da vida desempregados não conseguirão guardar o suficiente para a aposentadoria, resultando no aumento da miséria entre a população, exatamente como no Chile”, afirma Marta Soares, diretora-executiva do Sindicato. 

O sistema de capitalização falhou em 60% dos países que o adotaram, de acordo com estudo publicado no ano passado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho). Entre 1981 e 2014, 30 países modificaram seu sistema. Até o ano passado, 18 desses países já haviam feito uma nova reforma, revertendo ao menos em parte as mudanças.

Os 18 países que tentaram a capitalização, mas fizeram novas reformas, foram: Argentina, Equador, Bolívia, Venezuela, Nicarágua, Bulgária, Cazaquistão, Croácia, Eslováquia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Macedônia, Polônia, República Tcheca, Romênia e Rússia. 

Os que mantiveram o sistema foram: Colômbia, Chile, Peru, Uruguai, México, El Salvador, Costa Rica, República Dominicana, Panamá, Armênia, Nigéria e Gana. 

A Proposta de Emenda à Constituição 6/2019 prevê a criação do sistema de capitalização em contas individuais, administradas por entidades públicas ou privadas.

Segundo diversos especialistas, a capitalização corre risco de resultar em rendimentos menores do que no atual modelo de repartição da Previdência (financiado por contribuições do Estado, trabalhador e empregador), já que apenas os trabalhadores terão de contribuir para o novo sistema. Dentre os motivos estão as altas taxas de administração que consomem parte da aplicação individual do trabalhador; risco de quebra das entidades que administrarão o sistema e de prejuízo nos investimentos que remuneram as contas.

Economistas também alertam para o custo de transição do sistema atual para o novo modelo.

“O sistema de capitalização servirá única e exclusivamente para aumentar ainda mais os lucros dos bancos, que serão os responsáveis por administrar os recursos dos trabalhadores, cobrando altas taxas e especulando no mercado financeiro com esse montante, aumentando a desigualdade social que já é imensa no Brasil”, alerta Marta Soares. 

O aumento da desigualdade de renda nos países que adotaram a capitalização também foi observado no estudo da OIT. Como nesse modelo as contas são individuais, quem tinha renda menor ou não conseguia trabalhar – mesmo que temporariamente –  acabou poupando menos e, consequentemente, se aposentou com uma pensão menor, diz o estudo.

Fonte: SPBancarios (04/06/2019)

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