segunda-feira, 3 de junho de 2019

Comportamento: "Come-cotas" dos fundos de investimentos é ruim, mas já foi pior



Ao conferir as aplicações em fundos de investimento no mês de maio, sua impressão será de que não houve rendimento

Para entender o porquê de o saldo bruto da sua aplicação no mês de maio parecer praticamente igual ao do mês anterior, o primeiro passo é verificar a rentabilidade do seu fundo, informada no extrato.
O valor é a divisão do valor da cota no último dia do mês de maio pela do último dia do mês de abril.

Ao investir em fundos de investimento você transforma reais em quantidade de cotas do fundo. A conversão é feita usando o valor da cota. O mecanismo é semelhante ao que acontece quando você compra uma moeda estrangeira.

Pense no valor da cota do fundo como a cotação do dólar. Se você converter R$ 1 mil em dólares com a cotação de R$ 3,92 por dólar, você terá US$ 255,10.

Se, depois de um tempo, não usar os dólares e resolver converter novamente para reais, o montante irá depender da cotação da moeda estrangeira. Por exemplo, se o dólar subir para R$ 4,10, você terá R$ 1.045; mas se a cotação cair para R$ 3,74, você terá R$ 954.
Agora, se a rentabilidade do fundo foi positiva, você não fez resgates e ainda assim o valor da sua aplicação não aumentou conforme o esperado, confira a quantidade de cotas informada no seu extrato de maio e compare com a do extrato de abril. Você notará uma redução, mesmo que não tenha feito movimentações.
O motivo para a queda na quantidade de cotas é o recolhimento antecipado do imposto de renda de 15% sobre os rendimentos da aplicação nos seis meses entre dezembro de 2018 e maio de 2019. O administrador do seu fundo fez o cálculo, resgatou compulsoriamente sua aplicação e repassou o montante para a Receita Federal.

Tudo é feito automaticamente
No fim do ano você receberá o comprovante para colocar os dados na sua declaração de imposto de renda, no campo de rendimentos sujeito ao imposto exclusivo na fonte.

Esse mecanismo é chamado de “come-cotas”, no jargão do mercado. E foi criado em 2004, num momento de crise da economia brasileira, quando o governo foi obrigado a elevar os juros para conter uma especulação contra o real e precisava aumentar a arrecadação.

O “come-cotas” tem impacto direto na rentabilidade dos seus investimentos. Na época em que os juros eram de cerca de 20% ao ano, a diferença depois de cinco anos entre uma aplicação sem e com “come-cotas” era de 0,75% ao ano.

Agora, com os juros na faixa de 6,5% ao ano, a aplicação sem “come-cotas” rende 0,10% ao ano a mais no mesmo período. E fugir do imposto pode não compensar o risco.

Dá para evitar?
Para evitar “come-cotas”, é preciso correr outros tipos de risco. O que nem sempre pode ser adequado ao seu caso específico.

Por exemplo, você tem a opção de investir num fundo de previdência. Mas aí, assumindo que o VGBL é o mais adequado, tem ainda que escolher entre a chamada tabela progressiva ou regressiva.

Outra possibilidade é investir diretamente em títulos públicos, desde que tenha um mínimo de conhecimento das características de cada papel oferecido no Tesouro Direto. Ou em CDBs de instituições financeiras.

Ainda na renda fixa, uma alternativa atraente são as modalidades isentas de imposto de renda, tais como Letras de Crédito Imobiliária (LCI), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) ou debêntures incentivadas. Mas aí é preciso entender o risco de crédito dos emissores e atribuir uma probabilidade de ocorrer alguma mudança das regras tributárias até o vencimento dos papéis.
Mudando o patamar de risco, é possível investir em operações de renda variável, cujos rendimentos são tributados apenas na venda ou resgate.
Uma alternativa híbrida são os fundos imobiliários, em que os rendimentos são isentos e o ganho de capital é tributado em 15% (sic).

As regras tributárias no Brasil são extremamente complexas. Mudar de aplicação apenas em função do “come-cotas” pode não ser uma boa ideia. Afinal, como disse o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama em sua visita ao Brasil, “você deveria ficar feliz de pagar seus impostos porque esse é um investimento que você está fazendo na sociedade para que seu negócio possa prosperar”. No contexto de seus investimentos, é sinal de que você conseguiu lucro nas suas aplicações.

Fonte: Valor Investe (31/05/2019)

Nota da Redação: A afirmação acima de que o ganho de capital de fundos imobiliários é tributado em 15% não é verdadeira, ele também é isento.

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