O Coronavírus vai passar, aguente as perdas e resista a tentação de vender ou de ganhar com mais transações
Nas últimas colunas publicadas neste espaço, tenho alertado para os perigos da euforia com os mercados de risco. Rendimentos elevados na Bolsa, nos fundos imobiliários e nos juros longos, aliados ao processo de redução das taxas de juros de curto prazo são verdadeira gasolina na fogueira da tentação.
Nos artigos Cuidado com os Oráculos de Plantão e O que fazer para não explodir em uma eventual bolha do mercado financeiro, tentei pontuar a preocupação tanto com a euforia dos clientes quanto com a necessidade dos distribuidores em manter a prudência e as boas práticas no momento da venda dos produtos.
Não que tivesse qualquer condição de prever os acontecimentos. Apenas, é sabido que a economia funciona em ciclos. Não por caso, FMI, OCDE e Banco Mundial já vinham registrando declínios nas previsões sobre a desaceleração da atividade econômica e o excessivo endividamento público e privado. Considerando que o crescimento já durava muitos anos, com os preços dos ativos subindo consistentemente e investidores afluindo aos mercados com mais avidez, era recomendável adotar prudência nas decisões de investimento. Nesse sentido, vale a pena alertar sobre os perigos de se ir com muita sede ao pote e comprometer parcela de suas economias em ativos que sejam incompatíveis com o perfil de risco e as necessidades de liquidez.
Pois bem, parece que o momento chegou. Se o coronavírus (ou COVID-19) já era um problema sério para a economia mundial, a guerra aberta entre a Arábia Saudita e a Rússia em torno da produção de petróleo e o consequente debacle de seus preços, jogou uma pá de cal em qualquer esperança de recuperação.
A semana passada foi uma verdadeira montanha russa. A Bolsa de Nova York teve seu pior pregão desde a crise de 2008, com direito a “circuit breaker”, mesmo após o Federal Reserve anunciar uma injeção de liquidez de US$ 1,5 trilhão. No Brasil, o “circuit breaker” foi acionado 4 vezes em uma semana, duas em um único dia, e o Banco Central teve de fazer intervenções maciças no mercado de câmbio para segurar a cotação, que apesar de todos os esforços, chegou a superar os R$ 5,00. Aliás, enquanto escrevo (na segunda-feira) assistimos ao quinto “circuit breaker” e o dólar acabou fechando na cotação máxima histórica de R$ 5,048.
Esse sobe e desce é ruim. Incerteza elevada não é bom sinal. A falta de previsibilidade costuma ser o pior companheiro de viagem para quem pretende fazer investimentos de médio e longo prazo.
Nestas horas, quando as pessoas estão lambendo suas perdas, vemos expressões de decepção, pessoas atordoadas e ouvimos aquela pergunta inevitável: o que eu faço com minhas aplicações? Vendo tudo, compro mais, fico parado?
Não é fácil olhar para o saldo de suas aplicações e vê-lo reduzir a cada dia.Ontem mesmo um amigo me falou que perdeu um carro zero KM desde que as Bolsas iniciaram o movimento de ladeira abaixo. A aversão a perda é cruel mesmo.
Nunca vi ninguém contar que estava ganhando um carro, ou que poderia pagar uma viagem de férias com os rendimentos das aplicações. Mas a perda dói, tanto que, nestas horas, as pessoas a materializam.
A boa prática indica que se aplique em ativos de risco apenas valores que não serão necessários para fazer frente a obrigações certas ou altamente prováveis nos próximos anos, algo como pelo menos três anos.
Para quem seguiu este roteiro, agora é hora de sofrer calado. Pare de olhar seu saldo e de acompanhar a Bolsa. Deixe de lado a paranoia de fazer contas para ver o quanto já perdeu. Pare de festejar a cada dia de alta como se tivesse recuperado parte de seu patrimônio. Essa sensação não durará mais que 24 horas.
Também não vale achar que vai se dar bem comprando ações na baixa e vendendo na recuperação. O risco de comprar na baixa e vender na baixa é alto. Outra tentação é vender os ativos e tentar recomprá-los em preços mais baixos. Mais uma vez, a chance de ser pego no contrapé é enorme.Em resumo, você pode tentar fazer uma série operações de compra-venda ou venda-compra, tanto faz. Só existem duas certezas. A primeira é que você não tem a menor chance de saber previamente o resultado de suas transações. E a segunda é que terá uma despesa considerável com corretagem. As corretoras agradecerão. Portanto, cuidado com conselhos para comprar ou vender.
Se você seguiu a boa regra e alocou apenas recursos de longo prazo em ativos de risco, vale a pena aguardar o desenrolar dos acontecimentos. Imagine que está em um bunker em meio a um furacão. Se você abasteceu sua despensa com cuidado, com todos os itens necessários para passar um bom tempo abrigado da tempestade, não sofra. Evite botar o nariz para fora e espere pacientemente que ela vai passar.Fonte: Valor Investe (18/03/2020)
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