Poupança e educação financeira para pais e filhos
Domingo à noite, enquanto minha enteada estudava física, eu lia o livro de Celina Macedo, "Filhos: seu melhor investimento", recém-lançado pela coleção Expo Money. A abordagem de Celina, de como ensinar educação financeira para os filhos, chamou minha atenção porque fazia um contraste com as mensagens dos anúncios das campanhas para promover as aplicações em fundos de previdência neste fim de ano, que começaram a ser veiculadas na semana passada.
Para aumentar suas vendas, as seguradoras estão apostando no crescimento do mercado de planos de previdência para menores, que ainda é muito incipiente e representou menos de 4% dos depósitos efetuados nos primeiros meses de 2011.
A ideia da campanha promocional é transmitir a noção de que pais realmente preocupados com o futuro financeiro de seus filhos podem contar com os planos de previdência para reduzir a mordida do leão no imposto de renda e, ao mesmo tempo, formar um colchão de investimentos para satisfazer as necessidades futuras das crianças.
Uma pesquisa mundial sobre o futuro da aposentadoria, realizada anualmente, foi explicada por Edson Lara, diretor do HSBC, patrocinador do estudo. A entrevista está no site do Valor.
O tema central do estudo era a importância da família na preparação para a aposentadoria e, particularmente, como eventos específicos, tais como o nascimento de um filho ou a morte de algum integrante da família, poderiam alterar radicalmente o planejamento financeiro originalmente imaginado. Uma das conclusões é que mudanças na forma de organização da família estimulam a reavaliação das aplicações financeiras.
Os anúncios das seguradoras, oferecendo planos de previdência para menores, buscam explorar esse momento de transformação da família, quando existe uma maior propensão a poupar.
Apesar do consenso de que os pais devem se organizar financeiramente para formar uma poupança com o objetivo de dar o máximo de conforto para seus filhos, Celina argumenta no livro que é mais importante ensinar as crianças a ter uma relação saudável com o dinheiro, para evitar que se tornem, no futuro, adultos consumistas e endividados.
Um dos erros mais comuns que os pais podem cometer, segundo ela, é proteger excessivamente seus filhos, e evitar explicar abertamente a maneira como o dinheiro foi ganho e quais são as prioridades financeiras da família. Quanto mais cedo os filhos conhecerem o esforço que é preciso empreender para ganhar dinheiro e a ginástica que os pais fazem para administrar o orçamento doméstico, mais rapidamente eles irão compreender que para atingir qualquer objetivo é fundamental esforço e planejamento.
Por outro lado, quando os pais evitam falar sobre dinheiro com seus filhos, a tendência é que eles achem que basta pedir para que seus desejos sejam atendidos. Muito provavelmente essas crianças crescerão despreparadas para enfrentar as dificuldades naturais da vida.
Portanto, se poupança para aposentadoria já é um assunto extremamente sério, muito mais complexo é a tarefa de guardar dinheiro para os filhos. O ideal é que o assunto seja discutido abertamente com eles para que possam, quando se sentirem preparados, administrar seus investimentos por conta própria.
Muitos, por suas próprias características ou objetivos, serão naturalmente mais conservadores nos seus investimentos e irão preferir aplicações financeiras com menor risco. Outros, no entanto, podem gostar dos ativos mais arriscados, mas sempre o fundamental é preservar a individualidade de cada um.
Em muitos casos, a separação dos investimentos em caixas específicas pode ser desastrosa para a correta diversificação dos riscos. Por exemplo, se você decide que o dinheiro reservado para a educação do seu filho é muito importante e resolve não correr qualquer risco com ele, você pode estar perdendo boas oportunidades de investimento que reduzirão a rentabilidade futura e vão prejudicar a realização do objetivo.
Eu gostaria que a minha enteada se tornasse especialista em física teórica e se dedicasse à pesquisa para resolver os diversos enigmas do universo. Mas a decisão tem que ser dela.
Fonte: Valor (16/11/2011)
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