Os mais jovens questionam hábitos das gerações que levaram o país ao desenvolvimento na segunda metade do século passado, como a jornada semanal de até 68 horas, férias de menos de uma semana e a tradição de que o subordinado deve chegar antes e sair depois do chefe.
Tal pressão tem levado a mudanças na legislação trabalhista. A presidente Park Geun-hye tem um plano para reduzir a jornada máxima semanal para 52 horas. As férias legais de 15 dias estão sendo crescentemente respeitadas. Até 2022, todas as empresas coreanas serão obrigadas a dar aos seus funcionários um plano de previdência privado.
Com tudo isso, o número médio de horas trabalhadas por semana, que se aproximou de 54 no fim dos anos 1980, agora caiu a 42 -e segue decrescendo. Esse valor, no Brasil, é de 35 horas.
Além de estarem menos workaholics, os coreanos estão aliviando a rotina dos mais jovens. Nas admiradas escolas do país, a semana letiva não inclui mais o sábado, como antes.
"No fim da tarde, as novas gerações querem estar em casa e relaxar. Isso era impensável há dez anos", afirma Kim Yong-hak, professor de sociologia na Yonsei University.
Tal opinião é compartilhada pelo meio empresarial.
"A geração que cresceu após a guerra [da Coreia] partiu de uma situação dificílima, de muita pobreza, e a prioridade era construir um país. Os coreanos que nascem agora partem de outro padrão, é natural que queiram desfrutar mais a vida", diz Zayong Koo, vice-presidente de Comunicação Global da Hyundai.
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Uma outra consequência dessa transição é que os sindicatos têm se tornado mais fortes. Neste ano, por exemplo, empresas com a Hyundai e Samsung enfrentaram paralisações e dezenas de rodadas de negociação.
A principal divergência era sobre jornada de trabalho e sobre o pagamento adequado das horas extras cumpridas pelos trabalhadores. É aguardada ainda uma decisão da Suprema Corte coreana que pode determinar que as empresas passem a pagar em dobro pelo trabalho durante feriados.
Puxado por esse movimento, o turismo tem disparado na Coreia. Em dez anos, o número de viagens feitas por coreanos para fora do país duplicou: de 7 milhões para 14 milhões. Os destinos turísticos mais comuns são os vizinho Japão e China, os EUA (especialmente o Havai), a Tailândia e a Europa.
Tal demanda crescente por menos trabalho e mais lazer tem o efeito colateral de tornar os custos trabalhistas da Coreia maiores.
Os custos trabalhistas são bem menores na China, por exemplo, onde a Hyundai já produz 1 milhão de carros por ano (contra cerca de 1,8 milhão na Coreia e 167 mil no Brasil).
Para Koo, porém, isso não significa que o país vizinho necessariamente tomará a produção coreana. "As horas diminuem, mas há um forte aumento da produtividade na Coreia", afirma o vice-presidente da montadora. "Utilizamos cada vez mais robôs, por exemplo."
Fonte: Folha SP (23/10/2014)
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