Os preços de planos de saúde coletivos dispararam neste ano, e muitas pessoas estão ficando sem assistência médica própria. Os planos coletivos, que são a maioria do mercado, não têm os preços regulados pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Os planos individuais são uma opção, porque seus reajustes são regulados e menores. Mas são difíceis de encontrar justamente por isso.
Neste ano, a média de aumento nos planos individuais é de 8,14%, enquanto nos coletivos vai de 15% a 20%, segundo estimativa do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor). A boa notícia é que algumas empresas estão lançando mais planos individuais, como QSaúde e Alice. E o site da ANS ajuda a procurar e comparar preços e serviços de todos os planos, inclusive individuais.
QSaúde quer atender mercado
O desinteresse de algumas empresas pelos planos individuais foi visto como oportunidade pela QSaúde, com sede em São Paulo.
"Existia muito pouca opção de plano individual, talvez pelo modelo financeiro das operadoras, mas para a população é muito interessante. A ANS define os reajustes, enquanto nos planos de adesão coletiva o reajuste pode ser dado por qualquer índice", declarou o vice-presidente executivo do QSaúde e médico cardiologista, Anderson Nascimento.
Médico de família barateia custo
Para baratear custos e deixar o plano atrativo para o consumidor, a operadora apostou na metodologia do médico de família, que acompanha o paciente ao longo da vida, não apenas quando já está doente.
"O modelo do médico de família é usado desde 1940 na Inglaterra. Cuida da pessoa antes de ela ficar um doente caro. Age antes para que ela tenha todos os cuidados, para que a doença seja identificada precocemente. O custo é diferente."
Alice atende pela internet também
Outro plano de saúde que surgiu em meio à pandemia foi o Alice, lançado em junho do ano passado. A novidade dispõe de serviços presenciais, mas também foca em atendimentos pela internet por um aplicativo próprio.
O paciente é acompanhado por uma equipe de saúde, que inclui, além de médicos e enfermeiros, nutricionistas e preparador físico, entre outros. Até aulas de meditação são disponibilizadas. Alice é uma healthtech: empresa tecnológica de saúde (do inglês health, saúde, e technonolgy, tecnologia). Para André Florence, cofundador e CEO, a ideia é ser mais do que um plano de saúde, mas uma gestora de saúde que acompanha o usuário.
Site da ANS compara preços de planos de saúde
A ANS tem um guia para comparar preços e serviços de todos os planos individuais e coletivos disponíveis. Pela ferramenta, é possível comparar até três deles de uma só vez. Só é possível confrontar planos da mesma modalidade: individual/familiar, coletivo por adesão e coletivo empresarial.
Para consultar os planos, é necessário primeiro especificar o local onde o plano será contratado, a data de nascimento e escolher a cobertura desejada: ambulatorial, hospitalar, odontológica, obstetrícia —ou todas juntas. A ferramenta permite a consulta por abrangência geográfica: municipal, grupo de cidades, estadual, grupo de estados e nacional.
É possível escolher ainda o tipo de acomodação desejada, a existência ou não de coparticipação ou franquia e a modalidade de pagamento (pré-pago ou pós-pago). Após clicar em pesquisar, o usuário é direcionado para as opções de planos disponíveis. Ali é possível ver o preço, com a variação por idade.
Entidade recomenda plano individual
O Idec recomenda que o cliente escolha planos individuais se possível. Segundo a coordenadora do programa de saúde do instituto, Ana Carolina Navarette, há duas proteções para o consumidor neste tipo de plano. A primeira delas é o reajuste anual tabelado pela ANS. Além disso, o contrato não pode ser cancelado a qualquer hora pela operadora de forma desmotivada. "Só pode ocorrer se o cliente deixa de pagar ou se é identificada fraude", afirmou Ana Carolina.
Preço inicial do individual é mais alto
Mas o preço mais alto da modalidade ainda acaba afugentando muita gente. Na Unimed Porto Alegre (RS), por exemplo o valor máximo de um plano individual ambulatorial varia entre R$ 120,64 e R$ 723,72, dependendo da idade.
Um plano coletivo também ambulatorial oscila entre R$ 83,32 e R$ 499,69.
O superintendente de Clientes e Mercado da Unimed Porto Alegre, Júlio Wilasco, diz que o valor mais alto do plano individual ocorre porque o reajuste é tabelado e o contrato não pode ser cancelado só por uma das partes. "Tudo isso acaba deixando o preço mais alto."
Associação pede mudança no plano individual
A Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde) pede revisão da política de reajuste dos planos individuais, tabelados pela ANS.
O superintendente-executivo da Abramge, Marcos Novais, defende que a modalidade siga as mesmas regras dos planos coletivos, com correção por operadora, a exemplo do que ocorre em outros países.
"O índice não pode ser por indivíduo, só que ao mesmo tempo não pode ser para todo o mercado, precisa ser para toda operadora para equilibrar receita e despesa", disse Novais.
A política atual, segundo a entidade, tem deixado inviável o funcionamento dos planos. No ano passado, levantamento da entidade apontou que 105 operadoras foram consideradas deficitárias, ou seja, as despesas superam as receitas. Hoje há 717 empresas de planos de saúde em funcionamento no país, credenciadas na ANS.
Cuidados antes de contratar um plano
O primeiro ponto que deve ser observado antes de contratar um plano de saúde é analisar qual a necessidade do cliente, orienta a economista-chefe da Fecomércio-RS (Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo.
"Se é pessoa que praticamente não viaja, por que vai contratar plano nacional? Se é uma pessoa que viaja muito, o plano tem que cobrir riscos, pois acidentes podem acontecer em qualquer lugar", disse.
É preciso analisar a cobertura do plano. Modalidades ambulatoriais cobrem consultas médicas em clínicas ou consultórios, exames, tratamentos e demais procedimentos ambulatoriais. Porém, serviços de emergência estão limitados até as primeiras 12 horas do atendimento.
Conforme a ANS, a realização de procedimentos exclusivos da cobertura hospitalar fica sob responsabilidade do beneficiário, mesmo sendo feito na mesma unidade de prestação de serviços e em tempo menor que 12 horas.
Os planos hospitalares podem dispor ou não do serviço de obstetrícia, o que é fundamental para quem planeja ter filhos.
Fonte: UOL (10/02/2021)
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