quarta-feira, 29 de maio de 2024

Comportamento: Neurologista lista os 10 hábitos diários para o cérebro desenvolver uma atitude positiva com a vida

 


Com disciplina, é possível mudar a maneira de enfrentar os problemas e transformar as circunstâncias que temos que atravessar em oportunidades de crescimento

Se quisermos ter uma vida saudável e plena, precisamos começar educando a mente, repetem médicos como o psiquiatra infantojuvenil Cristian Plebst, empenhado em falar sobre o potencial humano ilimitado. É preciso diminuir o volume das ideias que nos adoecem — que são predominantes — e aumentar o som daqueles pensamentos positivos que nos levam à tranquilidade e ao equilíbrio.

A atitude mental positiva não vem da genética, e sim da prática. A neurologista, professora, instrutora de mindfulness e apaixonada por unir ciência e espiritualidade, Lorena Llobenes, já explicava há vários anos que estudos avançados das neurociências fornecem provas claras dos benefícios que obtemos se, por meio de práticas como a meditação, conseguimos abandonar a mente inconsciente, repetitiva e negativa que costuma se ativar automaticamente, e redirecionar a atenção para o aqui e agora a fim de focar nos aspectos da experiência que nos gratificam — como o contentamento, a gratidão ou a gentileza.

— Isso é neuroplasticidade — a médica repete em suas palestras. Este termo é definido como a capacidade do cérebro de alterar sua própria experiência e fluxos de pensamentos e abrir um novo sulco neuronal, melhorando nossa saúde mental e física.

De acordo com um estudo sobre Gratidão e Bem-estar realizado na década de 2000 pelos psicólogos Robert A. Emmons e Michael McCullough e outro feito em 2010 por Charles S. Carver, Michael Scheier e Suzanne C. Segerstrom sobre os efeitos do otimismo na saúde mental, ao desenvolver essa nova rede de pensamentos, reduzimos a probabilidade de contrair doenças cardiovasculares, diminuímos os distúrbios de ansiedade e depressão e fortalecemos o sistema imunológico, ficando menos doentes.

Claro que isso não é ciência exata e requer disciplina e hábito. Reprogramar essa mente subconsciente cheia de crenças limitantes e ativar novos circuitos neurais que nos levem à alegria não acontece da noite para o dia.

A premissa para os estudiosos seria a seguinte: por meio de práticas silenciosas, devemos nos desligar de julgamentos tóxicos e intencionalmente trazer o foco para o presente, estabelecendo crenças positivas em nosso cérebro. Isso ativará o sistema nervoso parassimpático da calma, liberando oxitocina e dopamina, os chamados hormônios da felicidade, no corpo.

Sair do vitimismo

— Se em um ano de inflação alta eu não estiver ganhando o suficiente para manter meu padrão de vida habitual, terei de me adaptar à realidade e reduzir minhas despesas. O convite é para não reclamar ou me vitimizar e mudar pensamentos como: “Nunca vou conseguir o emprego que quero” ou “Neste país é impossível crescer”. E estabelecer outras possibilidades que nos levem ao compromisso e à mudança. As coisas não são como nós as vemos, nós as vemos como nós somos — diz Sol Millán, doutora em psicologia social e coach ontológica.

No entanto, fique alerta. Millán esclarece que a atitude mental positiva não é viver numa ilusão.

— Ser positivo sem acompanhar com ações é inútil.

A professora também compartilha um testemunho. Em 2017, a empresa para a qual trabalhava mudou de donos e decidiu demitir seu pessoal para depois recontratá-lo e, justo naquele momento, ela iniciava sua licença maternidade. Já formada como coach, dava aulas na faculdade, como um hobby. Seu desejo, com um filho prestes a nascer, era conseguir um trabalho mais flexível.

Começou então a visualizar essa possibilidade e a sentir que já era uma realidade em sua vida. Sem procurar, começou a receber clientes e nos meses seguintes sua agenda estava lotada. Depois de um tempo, quando a empresa ligou oferecendo-lhe a gerência que desejava, Millán recusou, pois já estava ganhando mais dinheiro fazendo o que realmente amava.

No caminho enfrentou dúvidas e medos. A coach teve que se concentrar em sustentar essa mudança.

— Fiz de tudo: me cerquei de pessoas que me estimulavam, ouvi podcasts motivadores e não desisti. Minha vida mudou para sempre e meu sonho se tornou realidade. Acredito que, assim como cultivamos o corpo para ficar do jeito que queremos, devemos cultivar a mente para alcançar o que desejamos — declara cheia de entusiasmo. Millán se define como uma pessoa que "não nasceu com boas cartas", mas que, graças ao empenho em restabelecer suas circunstâncias, "vem jogando uma partida muito boa".

Luciano Porzio, fundador e diretor geral da organização Protagonista de Cambio — escola que oferece cursos para a transformação pessoal e empresarial — prefere falar de atitude protagonista em vez de positiva ao se referir ao imenso potencial que temos de aceitar nossas circunstâncias e convertê-las em oportunidades de crescimento.

— Não acredito na atitude positiva extrema que força a mente a ver tudo com um sorriso falso, negando ou bloqueando emoções mal compreendidas como tristeza, medo ou raiva.

Para ele, as mudanças verdadeiras ocorrem quando nos permitimos atravessar a gama completa de emoções — alegres e dolorosas —, as aceitamos, as acolhemos em nosso corpo sem resistência, as expressamos e depois as gerenciamos, escolhendo agir a partir de nossa melhor versão.

— Se alguém me fecha na pista e está prestes bater em meu carro, instantaneamente a raiva se ativará em mim. Essa raiva tem que sair do corpo (posso bater furiosamente num travesseiro), para passar para o próximo passo que seria entender o que isso que estou entendendo como uma injustiça quer me mostrar — afirma. Em sua visão, esse mecanismo nos permitirá finalmente escolher responder com respeito e não com uma reação agressiva.

— Se eu mudar, tudo muda — conclui.

Um despertar espiritual

A história de Andy Figueira, de 60 anos, mudou da apatia para o protagonismo. Presa a um péssimo casamento com um marido desempregado, Andy trabalhava do amanhecer ao anoitecer sem dar conta de seu corpo e seu cansaço. Desassociada de si mesma, sentia que não tinha valor e isso a empurrava para uma rotina exaustiva para tentar ter seu esforço reconhecido.

Ela ia ao escritório com 39 graus de febre porque tinha que sustentar a família. Um dia, o lúpus, uma doença autoimune, manifestou-se no corpo da mulher e ela não aguentou mais.

— Dei uma virada de 180 graus. Deixei o trabalho e me separei do meu marido — conta.

Pouco tempo depois, ela teve um despertar espiritual em um retiro de cura que a levou a mergulhar dentro de si mesma, para extravasar a tristeza e a raiva que estavam trancadas no fundo de sua alma. Entretanto, ela não permaneceu presa ao sofrimento e à autopiedade.

— Eu me senti amada por Deus. Aos poucos, fui me conectando com a pintora que eu era, sempre gostei de pintar, e comecei a vender meus quadros. Ganhei dinheiro e me proporcionei uma jornada espiritual que foi um marco. Escutei a mim mesma e segui o que ressoava em meu coração.

Uma coisa levou à outra. Depois, ela se juntou com uma amiga que trabalha em turismo, com quem atualmente organiza peregrinações a diferentes santuários do mundo. E o melhor é que hoje ela pode viver desse trabalho que tanto gosta.

Não se curou do lúpus, embora a doença tenha regredido. Ela atribui isso ao seu trabalho de elevar a consciência, conectar-se com a fonte que corre como um rio subterrâneo no mais dentro de nós, onde já somos suficientes e não há nada a provar. Ela conseguiu aceitar com paz sua doença e depois se concentrar na abundância que a cercava. Ela está convencida de que os pensamentos positivos geraram nela um estado de ânimo saudável que se traduziu depois em ações corretas.

— Acredito que fiz novas sinapses neurais. O corpo cura o corpo — declara.

Em seu caso, a meditação diária foi fundamental para se concentrar no presente e parar de repetir padrões mentais tóxicos aprendidos na infância, cheios de medo, e instalar outros cheios de confiança que a levaram a agir bem. Ela teve que ser firme e dizer "chega" para essa negatividade.

Anita Cejas, uma adolescente de 15 anos, também reconhece ter tido um importante despertar. Ela passou por um luto muito doloroso com a morte súbita de sua avó. Por longos meses, sentiu-se tomada por uma tristeza infinita que, como uma espiral, a afundava. Um dia, descobriu algo novo: que estava pensando de maneira errada. Acreditava que Canu, sua avó, tinha ido embora para sempre e que nunca mais poderia ouvi-la ou senti-la.

— E percebi que não era verdade. Que podia invocá-la, senti-la, falar com ela porque está ao meu lado, mas de outra forma, só foi para o quarto ao lado — compartilha. Sua tarefa foi desenvolver essa nova consciência espiritual invisível, mas real.

— Me trouxe paz. A morte é um passo e hoje sinto Canu perto de mim cuidando de mim — relata.

Se há limões, faça limonada

Pessoas como Andy ou Anita, comprometidas com a mudança, vão diariamente ao consultório de Millán. Ela gosta de dizer aos seus pacientes que "o que acontece é o que convém". Sua receita é não resistir, escutar e seguir o fluxo da vida que não para, sabendo que as crises trazem aprendizados. Cita seu mestre Camilo Cruz que repete: "se a vida te traz limões, e não peras como você queria, faça limonada".

A coach aconselha buscar ajuda — a um terapeuta ou um amigo, por exemplo — para traçar um plano de ação cheio de esperança.

— Pessoalmente, gosto da frase que um cliente colocou em prática quando perdeu o emprego. Enquanto saía para correr, ele repetia como um mantra: 'Acredito que posso, acredito que posso e farei isso'.

O exercício aeróbico, que secreta endorfinas, e a atenção dada à proibição de que ideias desanimadoras e de desvalorização entrassem em sua cabeça o levaram a montar sua empresa.

— Se conseguirmos conquistar nossa mente, conquistaremos nossa vida — aponta Millán.

Neurologistas, biólogos, médicos e mestres espirituais podem hoje demonstrar cientificamente que, se o cérebro se concentra no positivo e direciona sua energia para seu objetivo, finalmente o materializa, pois atrai tudo em que concentra sua atenção. A física quântica diz isso em outras palavras: somos seres eletromagnéticos.

Por isso, especialistas nessa área como o renomado Joe Dispenza, doutor em quiropraxia, enfatizam a prática de visualizar o que queremos concretizar, sentindo que isso já está acontecendo hoje, agora.

— É infalível, [o objetivo] chega — assegura o especialista americano.

Se durante o dia nos concentramos no que nos cerca de forma positiva, é provável que aconteça. Magia? Não, realidade. Então, mãos à obra.

— Pausar, respirar, meditar e sorrir convencidos de que tudo já está dito e feito. Já somos essa plenitude que desejamos — compartilha com entusiasmo Plebst em uma de suas palestras.

— Existe um plano perfeito para nós — resume Millán. Para descobri-lo, a proposta é se conectar com o bem que está presente ao seu redor e alimentar pensamentos de possibilidade e curiosidade todas as manhãs.

Essa é a base das meditações guiadas de Dispenza. Ao fazer isso, o corpo responderá atraindo toda a energia positiva e as informações que enviamos para o cosmos.

— Há um plano perfeito para nós. O universo está disponível — declara Millán. Só precisamos acreditar nisso. Temos de deixar nosso ego de lado e abrir nossos olhos e as portas de nossa alma.

"Eu tinha me esquecido de que era a dona da minha vida"

Shauna, uma americana de cerca de 50 anos, passou a vida cuidando de seu corpo e mantendo um bom estado de saúde. Mesmo assim, há mais de um ano, recebeu um diagnóstico de câncer avançado em seus dois seios que havia se espalhado para seus ossos, fígado e coluna, deixando-a em choque. Da noite para o dia, ela precisava começar a quimioterapia, cirurgia e radiação. Para alguém tão saudável quanto ela, era impossível acreditar.

Embora estivesse acostumada a meditar diariamente, Shauna estava ciente de que havia se tornado negligente com essa prática. Morta de medo e angústia, ela se perguntou: "O que eu quero fazer?"

Shauna pediu ajuda e se deparou com uma poderosa história de transformação interna de uma mulher que se curou do mesmo tipo de câncer. Imediatamente ela intuiu que, se para esta outra paciente tinha sido possível, também seria para ela.

Em janeiro de 2023, ela se comprometeu muito seriamente com as práticas de meditação guiadas por Dispenza, leu seus livros "Quebrando o hábito de ser você mesmo: Como reconstruir sua mente e criar um novo eu" e "You are the placebo" e percebeu que tinha vivido com o medo de contrair câncer desde jovem.

— Eu tinha colocado minha energia e atenção na doença que mais temia e que agora estava materializando meu corpo. Eu havia esquecido de algo fundamental: que eu sou a dona da minha vida — compartilhou em um dos retiros organizados por Dispenza do qual participou em Denver, nos EUA, em julho de 2023.

Depois de dois meses imersa em sua rotina de meditação — ela fazia duas ou três vezes ao dia —, o milagre aconteceu.

— Quando fizeram os exames, soube, antes de ler os resultados, que o câncer havia regredido. Porque eu me sentia uma pessoa diferente, libertada dos meus medos e cheia de confiança. E isso aconteceu — declarou ao contar sua história no evento.

Agradecida e emocionada, ela concluiu seu testemunho com um recado.

— Quero compartilhar o amor por esta comunidade e assegurar a todos que, se eu me curei, vocês também podem fazer isso.

10 ações que promovem o otimismo

  1. Começar o dia com gratidão;
  2. Praticar meditação diária com atenção plena;
  3. Buscar críticas construtivas;
  4. Celebrar o sucesso dos outros;
  5. Anotar suas próprias conquistas e se parabenizar;
  6. Praticar atividade física para segregar endorfina e dopamina;
  7. Cercar-se de pessoas "vitamina", ou seja, que te impulsionem e estimulem;
  8. Evitar se expor constantemente a notícias negativas;
  9. Proibir ideias de desvalorização;
  10. Praticar o perdão.
Fonte: O Globo (26/05/2024)

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