sábado, 14 de setembro de 2019

Meu Bolso: Como montar uma carteira diversificada de investimentos para a aposentadoria



Maior oferta de produtos e disseminação da portabilidade contribuem para gestão mais ativa dos investidores

Guardar dinheiro é o primeiro passo a ser dado por quem pretende ter uma aposentadoria tranquila. Tão importante quanto isso, porém, é montar uma carteira de investimentos rentável e adequada ao seu perfil.
“O brasileiro hoje tem de olhar para a previdência para não perder anos de aposentadoria. A melhor estratégia é aliar o longo prazo com uma estratégia diversificada”, diz Sergio Prates, diretor regional da seguradora Icatu.

A boa notícia é que o crescimento da oferta de produtos, especialmente com o lançamento mais frequente de fundos de previdência por gestoras independentes (desvinculadas de grandes bancos), e a disseminação da portabilidade atuam a favor dos investidores. Mas o maior leque de opções também precisa ser acompanhado de um processo de seleção mais criterioso.

Com os juros tão baixos, faz sentido escolher aplicações de renda fixa para o longo prazo? Quanto vale a pena investir em ações? Como escolher bons fundos?

O InfoMoney fez essas e outras perguntas a duas das principais seguradoras de previdência do mercado brasileiro, Icatu e SulAmérica, e também à XP, que lançou neste mês três carteiras sugeridas para que os clientes possam ter maior diversificação em seus portfólios previdenciários, com diferentes níveis de risco assumidos.

A SulAmérica recomenda que mesmo investidores conservadores corram algum risco ao se planejar para a aposentadoria. Segundo Marcelo Mello, vice-presidente de investimentos, vida e previdência da seguradora, os investidores já estão buscando produtos de maior risco, especialmente fundos multimercado (a procura por ações ainda é tímida). A queda dos juros está entre os motivos principais da mudança.

“É a primeira indicação de que o mercado está mudando de forma acelerada. O cliente está buscando produtos mais sofisticados, muito impulsionados pela taxa de juros mais baixa”, diz Mello.

Já a XP indica hoje apenas fundos de renda fixa para quem é conservador. A carteira de perfil moderado, por sua vez, tem maior equilíbrio entre a tolerância para tomada de risco e a busca por maiores retornos, com nove fundos recomendados para este mês, de renda fixa, multimercado e renda variável.

Por fim, a carteira agressiva busca maiores retornos, ainda que a seleção de ativos também vise a preservação de capital no longo prazo. A seleção de setembro tem oito fundos, também de renda fixa, multimercados e renda variável.

Carteiras de previdência recomendadas pela XP em setembro

Alocação por estratégia Conservadora Moderada Agressiva
Pós-Fixado                  90%         35%                 7,50%
Juros Ativo                  10%         12,50%         15%
Multimercado                   0%                 35%                 50%
Renda Variável                   0%                 17,50%         27,50%

“Além de ter uma carteira diversificada, o investidor tem a possibilidade de investir em gestores com fundos que não estão abertos para captação”, diz Henrique Pocai, head de produtos da XP Corretora de Seguros, em referência a fundos de previdência com estratégia semelhante aos fundos de investimento de grandes gestoras, como Verde, Adam e SPX.

A XP programa lançar ainda neste semestre fundos que repliquem as indicações de cada carteira, para que o investidor não precise fazer a gestão de seu portfólio sozinho. “A previdência é apenas o primeiro passo. A diversificação é o segundo”, assinala Pocai.

Em sua avaliação, o ideal é que um investidor tenha em sua previdência de sete a dez fundos para capturar os benefícios da diversificação, número que vai variar conforme o tamanho do patrimônio.

Mais idade, menos risco
É importante ressaltar que o perfil do investidor deve mudar à medida que ele se aproxima da aposentadoria. Quanto mais perto de usar os recursos da previdência, mais conservador ele deve ficar, considerando o risco de perda e o tempo mais limitado para recuperar um eventual prejuízo. 

Com R$ 32 bilhões em ativos nas modalidades PGBL e VGBL, a Icatu vê nos chamados fundos “data-alvo” (versão brasileira dos fundos americanos do tipo life cycle) uma alternativa para quem quer contar com uma carteira diversificada, com a possibilidade de buscar maior conservadorismo a medida que a idade de aposentadoria se aproxima.

A Susep (Superintendência de Seguros Privados) define esses fundos como aqueles com objetivo buscar retorno num prazo referencial, por meio de investimentos em diversas classes de ativos e uma estratégia de rebalanceamento periódico. Os fundos data-alvo têm o compromisso de reduzir a exposição ao risco à medida que o prazo para a respectiva data-alvo se aproxima.

Prates explica que, na Icatu, o fundo compra cotas de mais de 10 fundos diferentes, com a cobrança de uma única taxa, e a alocação fica 100% em renda fixa pouco antes do ano “final”. Um fundo com foco em 2040 tem hoje, por exemplo, cerca de 35% de exposição em ações.

“Essa é uma classe de fundos que cresce muito devagar, porque há uma falta de conhecimento e um pouco mais de risco, mas acho que, daqui para frente, o fundo tende a ter uma relevância significativa”, diz Prates.

Com uma plataforma aberta, a Icatu tem hoje 259 fundos diferentes de 77 gestores. Os mais de 260 mil clientes de previdência dividem suas carteiras entre 53% em renda fixa, e 47%, em fundos multimercados. Em 2019, a Icatu sequer colocou fundos de renda fixa na sua grade.

Com captação líquida de R$ 5,5 bilhões da Icatu no primeiro semestre, um crescimento de 155% em relação ao mesmo período de 2018, Prates assinala que o mercado como um todo só começou a crescer de fato em junho. “Até então era mais rouba monte entre clientes.”

Da renda fixa para os multimercados
A SulAmérica tem portfólios sugeridos de acordo com o perfil de risco do participante, com uma exposição atual de 70% à renda fixa e 30% em multimercado, no caso do cliente conservador; 45% em renda fixa, 40% em multimercado e 15% em fundos balanceados para o moderado; e 30% em renda fixa, 45% em multimercado e 25% em balanceados, para o perfil agressivo. O número de fundos oscila hoje de cinco a sete.

Simulações de carteiras de previdência da SulAmérica em setembro

Alocação por fundo Conservador Moderado Agressivo
Fundos Renda Fixa         70%                 45%                 30%
Fundos Multimercado         30%           40%                 45%
Fundos Balanceados          0%                 15%                 25%

“O cliente de previdência quer estar na renda variável, mas ainda com alguma proteção”, observa Mello, ressaltando a demanda que começa a ser vista por fundos multimercado do tipo “long biased”.

Além da queda da Selic, a modernização do arcabouço regulatório, com a flexibilização das alocações, está por trás da evolução do setor, nota o vice-presidente, que ainda menciona o ambiente mais competitivo, com o crescimento nas distribuições digitais via plataformas de arquitetura aberta, além do fomento gerado pelas discussões sobre a reforma da Previdência.

“Essa é uma indústria que vem, nos últimos 24 meses, com uma dinâmica completamente diferente do que a gente viu nos últimos 15 anos”, observa Mello. Ainda assim, destaca, há um longo caminho pela frente, dado que 94% do mercado está nas mãos de seguradores de varejo, isto é, dos grandes bancos.

Fonte: InfoMoney (12/09/2019)

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