sábado, 9 de janeiro de 2021

TIC: Na disputa entre EUA e China em torno do 5G, teles apostam em 'rede aberta' em desenvolvimento no CPQD

 


Companhias de telecomunicações defendem solução para nova geração de telefonia que permita uso de equipamentos compatíveis de vários fornecedores

Para superar o impasse na corrida tecnológica pelo 5G, que colocou EUA e China — as duas maiores economias do planeta — em lados opostos, as empresas de telecomunicações estão buscando uma saída alternativa. A aposta é desenvolver a chamada rede aberta, que permitiria que equipamentos de variados fornecedores conversassem entre si, o que hoje não é possível.

O pontapé inicial será com o  Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), que vai começar a desenvolver a tecnologia  neste mês.

O custo do projeto inicialmente será de R$ 20 milhões e terá como foco a criação de soluções para os provedores e redes privadas a serem usadas pela indústria pelos próximos três anos.

Esse recurso vem do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel), gerido pelo governo federal.

— Esse projeto começa este ano e vai desenvolver uma rede aberta e 5G. Depois, vamos fazer a transferência para a indústria. A rede aberta é algo que está sendo buscado pelas empresas em todo o mundo e ganhou velocidade com a disputa entre EUA e China — disse Gustavo Correa Lima, líder da plataforma de comunicações sem fio do CPQD.

Até a China testa 'rede aberta'

Estima-se hoje que metade dos países no mundo já estão fazendo projetos pilotos com a rede aberta, lista que inclui a própria China. Lima lembra que a China Mobile, uma das maiores do mundo, já faz testes pilotos com rede aberta.

— Esses testes que são feitos no mundo mostram bons resultados. A rede aberta vai reduzir custos e aumentar a flexibilidade das empresas em escolher diferentes fornecedores, reduzindo os preços — destacou Lima.

Projeção feita por especialistas prevê que até 2025 a rede aberta represente de 25% a 30% do total de equipamentos (de hardware e software) no acesso ao 5G. Atualmente, a Vodafone no Reino Unido e a Rakuten no Japão já usam redes abertas.  

Wilson Cardoso, diretor de Soluções da Nokia para a América Latina, lembra que os padrões básicos da nova tecnologia serão estabelecidos no segundo semestre deste ano.  Com isso, as iniciativas vão ganhar mais velocidade no Brasil e no mundo.

— No Brasil, vamos ter o leilão de 5G e a rede aberta começando a operar para soluções específicas no primeiro momento. O Open Ran traz mais fabricantes para a mesa. Hoje, existem mais de 200 perfis de uso de rede. O governo precisa definir em quais áreas poderá usar a rede aberta, já que os equipamentos precisam passar por certificação — disse Cardoso.

TIM cria laboratório

A TIM selou parceria com o Telecom Infra Project (TIP) e o Inatel  para criar um laboratório com redes de testes abertas para 4G e 5G para avaliar e otimizar novas soluções.

Segundo Leonardo Capdeville, executivo de tecnologia da TIM, a rede aberta é um agente de transformação, já que a rede 5G está atrelada a hardwares e softwares de poucos fornecedores:

— Com a tecnologia Open Ran podemos quebrar este vínculo e escolher fornecedores diferentes. Isso no Brasil abre, por exemplo, a possibilidade de desenvolvimento da indústria nacional sem a necessidade de cobrir toda a cadeia, mas concentrando o esforço na especialização de software.

Ele continua:

— Acreditamos que as operadoras podem buscar no mercado melhores soluções de hardware e software de forma desacoplada, ou seja, sem precisar comprometer-se com um único fornecedor.

Para Capdeville, a rede aberta pode trazer impacto direto na competição do segmento, diminuindo custos e tempo de implantação.

— Estamos falando de compartilhamento de infraestrutura, principalmente para levar conectividade a áreas que hoje não são consideradas rentáveis. Na colaboração externa, avaliar a cooperação com novas empresas digitais.

A Telefónica, dona da Vivo, e a japonesa Rakuten Mobile assinaram um memorando para avaliar e demonstrar a capacidade e viabilidade das arquiteturas de rede aberta em países como Brasil, Alemanha, Reino Unido e Espanha.

Segundo  Juan Claros, vice-presidente de engenharia e serviços ao cliente, lembrou ainda que a empresa fez testes em  Petrolina (Pernambuco) e Juazeiro (Bahia).

— Pretendemos  trabalhar com esta tecnologia no Brasil. Entendemos que sua adoção será gradual de acordo com a evolução da maturidade operacional. A rede aberta mudará o ecossistema de fornecedores, tornando as redes mais flexíveis e seguras, revolucionando a indústria 5G. A competição fomenta a inovação, a redução de custos, a possibilidade de usar a mesma infraestrutura para outras tecnologias.

Algar se une à IBM para testes

A mineira Algar acabou de selar parceria com a IBM e outras empresas para fazer testes de rede aberta. Segundo Luis Lima, vice-presidente de Operações da tele, a meta é buscar maior independência no mercado de acesso possibilitando a entrada de novos parceiros além dos grandes players.

Após uma fase de testes em laboratório, a companhia está se preparando para aprimorar e realizar teste em rede real com clientes.

— Arquiteturas e tecnologias abertas para telecomunicações serão cruciais para a criação de novas soluções em 5G. O amadurecimento desse modelo poderá contribuir para acelerar a cobertura de 4G no país e será ainda mais relevante com a chegada do 5G, por conta da maior necessidade por infraestrutura exigida pela tecnologia de quinta geração, incluindo um número muito superior de antenas.

José Otero, presidente da 5G Americas, lembra que estudos indicam redução de até 30% nos custos com a rede aberta. Ele acredita que em cinco anos os grandes fornecedores vão conviver com redes abertas mundo afora.

— Temos 64 países com 5G neste início de 2021. No Brasil, um dos países mais importantes do mundo para o setor, será fundamental para acelerar a implantação da rede — destacou Otero.

A Qualcomm também começou a testar rede aberta com diversas operadoras no exterior, como a americana Dish e a Rakuten. Hélio Oyama, diretor de Gerenciamento de Produtos da Qualcomm para América Latina, destacou que há acordos para fazer testes também no Brasil.

A companhia desenvolve soluções de rede aberta para estações de rabiobase de diversos tamanhos, como as voltadas para ambientes fechados (small cells), ideais para 5G.

— O tema tem tido atenção mundial com diversas operadoras. Há muitas iniciativas pois haverá mais competição e preços mais baixos.

Fonte: O Globo (08/01/2021)

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