segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Diversão: A nova febre entre os apps de inteligência artificial para diversão, o Character.AI



Chatbot simula personalidades e permite que usuários conversem com figuras famosas, de Albert Einstein a Anitta, inclusive por meio de ligações

Quem nunca sonhou em conversar com seu ídolo? Ou, quem sabe, trocar uma ideia com uma personalidade histórica do século passado? Essa fantasia agora está ganhando vida com um aplicativo de inteligência artificial chamado Character.AI, lançado há pouco mais de um ano e que está virando febre entre os usuários no Brasil e nos Estados Unidos.

Nos moldes do ChatGPT, o aplicativo tem espaços para conversas por escrito, áudio e até ligações, recurso implementado há um mês. Ele permite que os internautas simulem interações com personalidades — desde o filósofo Sócrates, passando por personagens de anime, até a cantora Anitta ou o empresário Elon Musk, por exemplo.

A empresa, avaliada em US$ 5 bilhões, foi criada por dois ex-funcionários do Google, o brasileiro Daniel De Freitas e o americano Noam Shazeer. A tecnologia foi comprada pela big tech no início deste mês.

O aplicativo soma mais de 20 milhões de downloads nos últimos 30 dias, de acordo com dados do AppMagic, serviço de inteligência de mercado de aplicativos móveis, atualizados ontem. Deste total, 5 milhões de downloads vieram dos Estados Unidos (20%), seguido do Brasil (2 milhões, ou 8%), Rússia (7%) Indonésia (7%) e Filipinas (6%).

O diferencial da plataforma é que qualquer usuário pode criar chatbots baseados em personagens. Eles podem ser famosos, como a cantora Ariana Grande, ou desconhecidos, como uma coach que dá conselhos e se diz “empática, gentil e sábia”. Mas cada interação exibe um aviso em letras vermelhas: “Lembre-se, tudo o que os personagens dizem é inventado".

Para Arthur Igreja, especialista em inovação e tecnologia, a sofisticação de chatbots como este é um sinal dos tempos atuais. As pessoas estão, cada vez mais, conversando com robôs e já estudos que indicam que elas estão se apaixonando por IAs, diz:

— O aplicativo não só oferece conversa com personagens, mas permite que as pessoas possam customizá-los. Isso tem um aspecto psicológico curioso: as pessoas estão moldando o tipo de interação que elas gostariam — diz. — Elas podem construir um universo sem ter que encarar os conflitos ou dificuldades que o mundo real com outros humanos apresenta.

O Character.AI já recebeu mais de 215 milhões de visitas, conforme dados da empresa de análise Similarweb. As pessoas passam em média 12 minutos no aplicativo, o que dá uma dimensão do tempo de duração das conversas com os robôs.

Os bots mais populares da plataforma são personagens de anime, como Katsuki Bakugou ou Yae Miko, que acumulam mais de 160 milhões de mensagens. Mas há outras figuras bem procuradas como o psicólogo Therapist, com 26 milhões de interações, e Albert Einstein, com mais de 8 milhões.

A empresa por trás do app garante que o criador do chatbot não pode ler as conversas que os usuários têm com ele. E diz que os bate-papos são privados e só podem ser lidos pela equipe em caso de necessidade “por motivos de segurança”.

De todo modo, trocas de mensagens violentas, abusivas ou que promovam discursos de ódio são proibidas por um filtro na plataforma, numa posição tida como “definitiva” pela empresa. Tentativas de contorná-lo são, inclusive, “ineficazes e não recomendadas”, podendo resultar em banimento da conta.

João Victor Archegas, coordenador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), cita riscos de desinformação que podem ser potenciados pelo uso da IA. Ele lembra que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que chatbots não podem ser usados aqui no país para se passar por um candidato, por exemplo, a fim de que os eleitores não sejam enganados.

Por isso, ele considera fundamental a transparência para que o usuário saiba que a conversa se passa com um robô. E, ainda assim, o especialista vê problemas éticos no uso da tecnologia em contextos sensíveis, como da saúde mental.

— A partir do momento que você tem essas possibilidades dentro da plataforma, isso passa a ser um potencial problema porque uma distorção pode ser causada ali.

Ficção vs. realidade

Apesar de aproximar os usuários de personagens que imitam pessoas de carne e osso, a empresa responsável pelo Character.AI faz questão de reforçar que se trata de um aplicativo de entretenimento e que as conversas ali não devem ser levadas a sério.

“Personagens são bons em fingir ser reais - isso significa imitar como os humanos falam. Você ainda está falando com um personagem”, informa. A plataforma também se blinda contra possíveis acusações de divulgar informações falsas. “Embora possam ser divertidos e úteis, os robôs podem recomendar uma música que não existe ou fornecer links para evidências falsas para apoiar suas alegações”, diz.

O Character.AI não deixa claro se possui acordos com personalidades famosas, por exemplo, mas os termos de serviço no site da empresa indicam que qualquer pessoa pode reclamar com a plataforma caso identifique que alguém copiou seu trabalho de modo a violar direitos autorais ou de propriedade intelectual.

O GLOBO procurou a empresa para que esta detalhasse a política de direitos autorais da plataforma, além dos termos de uso e do impacto social da ferramenta, mas não obteve retorno até a publicação dessa reportagem.

Fonte: O Globo (24/08/2024)

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