quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Previdência privada oferecida por empresas avança entre brasileiros. Vale a pena investir?

 


Especialistas afirmam que esse é um dos investimentos mais atrativos, mas alguns cuidados são necessários ao optar por esses planos de previdência

Os planos de previdência privada oferecidos pelas empresas aos seus colaboradores estão avançando entre os brasileiros aos poucos, mesmo com mais alternativas de aplicações para a aposentadoria à disposição e em um mundo em que os trabalhadores mudam mais frequentemente de emprego. Uma série de movimentos explica esse cenário: a adesão automática a esses fundos, o aumento do emprego formal e, principalmente, um maior entendimento das empresas de que oferecer esse benefício ajuda a atrair e reter talentos.

Os planos de previdência privada empresariais, chamados de coletivos ou corporativos também, são aqueles em que a contribuição é descontada da folha de pagamento do trabalhador. A maioria das empresas contribui com o benefício, ou seja, a cada R$ 1 investido pelo trabalhador, a empresa contribui com mais R$ 1 ou com um pedaço desse valor. Especialistas afirmam que eles estão entre os investimentos mais atrativos, mas alguns cuidados são necessários ao optar por eles.

Atualmente, 2,3 milhões de brasileiros contam com um plano de previdência desse tipo. Ainda é menos de 10% dos trabalhadores do setor privado, mas esse número aumentou 3,4% desde que a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) passou a disponibilizar esses dados, no mês de outubro de 2022. Já o número de planos dessa modalidade avançou 2,6%, para 2,8 milhões, nesse período.

O número de planos é maior do que o de participantes porque muitas vezes a pessoa sai de uma empresa, mas mantém o plano de lá. Se emprega em outro lugar e adere também ao plano deste novo trabalho.

Os brasileiros aplicaram R$ 5,2 bilhões nos fundos de previdência oferecidos pelas empresas em 2023, descontando os resgates. O número chama a atenção em um ano em que os fundos de investimentos como um todo sofreram uma retirada líquida histórica de R$ 127,9 bilhões.

Arrecadação cresce desde 2021

Arrecadação bruta dos planos de previdência coletivos ao ano desde 2019

13,513,515,915,914,314,314,514,515,115,1

Fonte: Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi)

A adesão automática a esses planos é um dos motivos para essa evolução. Desde março, quando uma pessoa é contratada por uma empresa, ela pode ser automaticamente incluída no plano de previdência em vez de precisar manifestar o interesse em aderir. A adesão automática, contudo, é uma escolha da empresa e ainda a maioria está trabalhando com o modelo antigo de adesão não automática.

O aumento do emprego formal também está contribuindo para esse avanço. O Brasil criou 1,3 milhão de empregos com carteira assinada no primeiro semestre (descontando as demissões), uma alta de 26,2% na comparação com os primeiros seis meses de 2023.

“Depois da pandemia, quando muitas pessoas usaram o recurso da previdência, as condições da economia e do emprego melhoraram junto com a capacidade de fazer poupança, atreladas à uma consciência maior da necessidade de uma reserva para o futuro bem maior do que há alguns anos”, afirma Marcelo Malanga, diretor da Fenaprevi.

Ainda, cada vez mais empresas estão oferecendo essa opção como benefício aos colaboradores como uma forma de reter os profissionais, além de aproveitar os benefícios fiscais. “Como as novas gerações são desprendidas do seu empregador e procuram incessantemente experiências novas, as empresas estão criando atrativos que permitam reter os profissionais e a previdência passa a ser um importante fator de atratividade quando a empresa patrocina um valor”, diz Malanga.

Um estudo da consultoria Mercer mostra que, pela primeira vez, a maioria (51%) das 850 empresas brasileiras entrevistadas oferece planos de previdência aos seus trabalhadores. No entanto, mais da metade nunca revisou os planos corporativos. O movimento está alinhado às expectativas dos funcionários: 60% estão preocupados com a sua situação financeira e admitem que gastam horas de trabalho refletindo sobre as dívidas.

“Vemos uma rotação maior de funcionários nas empresas e elas entenderam que mais do que um salário, precisam dar bem-estar financeiro para as pessoas. Os planos de previdência estão ganhando atenção dentro dos departamentos de recursos humanos”, afirma Tiago Calçada, diretor de previdência da Mercer Brasil.

“Teve um movimento acelerado durante a pandemia das empresas cuidarem do bem-estar dos empregados, pautado pelo pilar da saúde mental e física. E as empresas entenderam que, para os funcionários terem saúde mental em dia, eles precisam de saúde financeira”, diz.

Ele acrescenta que esse bem-estar é bom tanto para os empregados quanto para as empresas. “Pessoas com problemas financeiros ficam dez horas por semana pensando neles. Ou seja, essas pessoas estão sentadas na cadeira da empresa trabalhando, mas não estão produzindo porque estão preocupadas com outras coisas”, afirma.

Na análise de Harenton Ribeiro Junior, responsável pelas soluções de previdência, investimentos e bem-estar financeiro da corretora Aon no Brasil, a reforma da previdência e a incerteza sobre a aposentadoria pública no país aumentaram a necessidade das pessoas permanecerem mais tempo no mercado antes de se aposentarem, o que é um incentivo a mais para buscarem os planos de previdência empresariais.

Ainda, ele avalia que na busca das empresas por proporcionarem maior bem-estar financeiro aos funcionários, elas facilitaram a adesão e a comunicação sobre os planos de previdência. “Antes, para aderir a um plano, o trabalhador precisava ler um formulário de muitas páginas e parava no meio do caminho. Agora, muitos processos são digitais”, diz.

Vale a pena investir?

Planejadores financeiros aconselham que os empregados invistam nesses planos se a empresa contribuir com algo além do aporte do funcionário, não importa o valor dessa contribuição. No melhor cenário, se a cada R$ 1 investido pelo trabalhador, a empresa contribuir com mais R$ 1, significa que a rentabilidade desse investimento será de 100%, no mínimo, sem contar os juros que o plano renderá e os benefícios fiscais da previdência.

“De cara, é uma boa aplicação se ela contar com a contrapartida do empregador. Uma rentabilidade de 100% é significativa em relação a outras do mercado”, afirma Clay Gonçalves, planejadora financeira certificada pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar). “Aconselho aproveitar esse benefício interessantíssimo para o longo prazo”, diz.

Contudo, ela indica observar as regras de saída do plano para não ser pego de surpresa ao sacar o recurso. O trabalhador pode resgatar o dinheiro acumulado pela contribuição individual a qualquer momento. Já o dinheiro aportado pela empresa pode ser retirado na saída da empresa ou na aposentadoria, mas às vezes só uma parcela fica disponível, dependendo do tempo de trabalho ou da forma de demissão (sem ou por justa causa).

Luciana Seabra, presidente e chefe de análises da Indê Investimentos, acha que vale a pena aproveitar esse benefício da empresa mesmo se o fundo de previdência for pouco sofisticado ou tiver um custo alto. Contudo, ela alerta que boa parte desses produtos são de renda fixa, mais conservadores, mas que uma carteira diversificada com renda fixa e renda variável é melhor para prazos longos, de dez anos pelo menos.

“É frequente as empresas não conhecerem muito de previdência. Recomendo que as pessoas físicas façam um ativismo junto ao RH pedindo fundos mais diversificados. Geralmente a mesma seguradora que tem o convênio com a empresa oferece produtos de gestoras independentes que são melhores do que os da própria seguradora”, afirma. “Você pode investir em bons fundos de previdência e aproveitar o aporte da empresa. Não precisa aceitar apenas o que oferecem para você”, diz.

Fonte: Valor Investe (19/08/2024)

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